Comer na total escuridão é a proposta do Dans Le Noir, o restaurante presente em 16 cidades do mundo, agora também instalado no Sheraton Lisboa Hotel & Spa, no centro da cidade. Os segredos começam logo à chegada ao hotel. É servido um cocktail de boas-vindas que dá luta a quem pretende descobrir a composição.

A bem-disposta Odete, invisual é quem tem a cargo o serviço da noite. Escreve o nome de cada convidado em braille num cartão que oferece acompanhado da mensagem “O essencial é invisível aos olhos". Para quem aprende algumas letras deste alfabeto especial, há uma mensagem secreta para decifrar, ainda antes de os comensais se colocarem em fila, com a mão no ombro de quem os precede, uma forma de disposição organizada para seguir rumo ao quarto escuro.

Casacos, relógios, telemóveis e malas são deixados no bengaleiro. Junto à mesa, sentem-se as cadeiras e a guia vai dado indicações sobre os lugares e a disposição de talheres, copos e garrafas de água. Não existe qualquer ponto de luz: apenas as vozes e os risos que ecoam no escuro servem para reconhecer os comensais, não esquecendo o toque, sobretudo para os casais presentes na sala.

Dans le Noir
Dans le Noir Guillaume Cottancin

Uma experiência social
Ninguém tem ideia do que vai ser servido à mesa. Existem duas ementas à escolha para reserva, a “Viagem Sensorial” (€55) que inclui uma entrada, prato principal, sobremesa e água, e a “Festa dos Sentidos” (€69) que comporta entrada, prato principal, sobremesa, água e harmonização de vinhos. A tentativa de descoberta do que se está a comer provoca risadas e proporciona interação entre os presentes, mesmo sem se conhecerem fazendo do jantar, simultaneamente, uma experiência social.

Relativamente aos pratos, a aposta na diversificação de texturas e contastes de sabores é clara, mas sempre de forma coerente. A degustação às escuras é um desafio que faz com que a frescura dos alimentos, a suavidade e a crocância sobressaiam a cada dentada, desde logo à entrada no pão tão estaladiço que ressoa ao trincar.

Haverá alturas em que o garfo vai à boca com muito pouca quantidade de comida ou nenhuma e outras em que será em demasia. Já se antevia esta aventura que convida a libertar-se de preconceitos e convenções sociais porque qualquer pessoa a seu lado pode ser fonte de curiosidade e uma boa ajuda para alcançar o que pretende na mesa.

Dans le Noir
Dans le Noir Guillaume Cottancin

Encontro com a diferença
A experiência conta com o apoio destes guias inesperados, pessoas invisuais que nos recebem desde a chegada ao jantar, como é o caso de Odete, trabalhadora na Câmara de Lisboa que aceitou este repto e serve à mesa de forma exemplar. Nada de mãos no ar! Basta chamar e ei-la ao nosso lado para ajudar, trazer mais pão, água, vinho, ou simplesmente perguntar se está tudo bem, com muita simpatia, promovendo um encontro único com a diferença. Só os guias, usualmente três, conhecem a disposição da sala e é curiosa “a inversão de papéis, em que quem está a ajudar costuma ser ajudado fora da sala”, conta Odete. “É preciso estabelecer uma relação de confiança”.

A cozinha é da autoria do chef do Sheraton Lisboa, Valdir Ramos, que privilegia produtos de origem biológica e sazonais. Uma vez que a degustação é surpresa, deve transmitir antecipadamente à equipa intolerâncias que exijam adaptação do menu, mas cabe a cada um sentir, descobrir sabores, ingredientes, castas e regiões vinícolas.

Jantar ou almoçar na escuridão total é uma experiência que permite reavaliar o gosto, reavivar os sentidos e até moldar a relação com o mundo e com os outros.

Dans le Noir
Dans le Noir Guillaume Cottancin

Quarto escuro
Muitas vezes classificado entre os 10 restaurantes mais originais do mundo, Dans Le Noir é celebrado por guias gastronómicos e turísticos e ganhou dezenas de prémios em todo o mundo pelo compromisso com a inclusão social e inovação. Pertence a uma cadeia de restaurantes francesa, criada em Paris em 2004, e está presente em 11 países e 16 cidades.

Pode viver a experiência no Sheraton Lisboa Hotel & Spa (Rua Latino Coelho 1, Lisboa. Tel. 213120000), na sala com capacidade para 48 pessoas. “As pessoas saem de coração cheio”, garante Odete.

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