Sobretudo doces, tradicionais, servidas frescas ou quentinhas, fritas na hora, acompanhadas de gelado, com ou sem calda (de Vinho do Porto), também as há salgadas ou em versões a que se acrescentam ingredientes incomuns. Variedade é a palavra de ordem quando o assunto são as rabanadas servidas numa cidade onde são tão apreciadas que a época não se resume ao Natal: no Grande Porto, fazem parte da ementa ao longo de todo o ano.
Conheça 10 locais imperdíveis para as saborear que integram o roteiro desenhado pela Confraria da Rabanada, criada há seis anos para elogiar este doce de aproveitamento, de origem humilde, versátil, hoje simultaneamente popular e gastronómico, cuja primeira referência escrita remonta ao gastrónomo Apício, do século I d.C. e que se consome um pouco por todo o mundo.
“Rabanada à Majestic” do Café Majestic
É um os mais bonitos e antigos cafés da Invicta e muitos são os que dele fazem paragem obrigatória numa visita à cidade. Além do café de saco, que se mantém como bebida mais tradicional, a Rabanada do Café Majestic é um emblema da casa, capaz de gerar romarias. Na “Rabanada à Majestic” (€8), o pão cacete “de preferência recesso”, explica Paulo Marques, chefe de mesa e sommelier, é “cortado na diagonal em fatias de cerca de 2 cm” antes de ser embebido numa calda de “leite tépido, com paus de canela, zest de limão e um pouco de açúcar”. A calda “enxuga-se com as mãos” e vai a fritar depois de untada com “claras em castelo” que, ao cristalizar na fritura, “não deixam o pão mergulhar no óleo, o que confere mais crocância, detalha o chefe de mesa. Com as gemas e açúcar prepara-se um creme de ovos que vai sobre a rabanada, juntamente com nozes, sultanas – “e não uvas passas, pois não queremos ninguém a comer caroços” - e pinhões. O toque final é dado pela forma de garfo desenhada com canela, um ingrediente amigo da dieta já que “acelera o metabolismo para poder comer à vontade”, assegura Paulo Marques, destacando a herança das especiarias da época dos Descobrimentos como altura em que “até as princesas usavam este método”. Acompanhe com um cálice de Porto Tawny 10 anos, que, segundo o escanção, liga melhor pelas notas de frutos secos.
Rua de Santa Catarina, 112, Porto. Tel. 222003887
“Rabanada com gelado de queijo da serra” do Semea by Euskalduna
No restaurante Semea by Euskalduna, a “Rabanada com gelado de queijo da serra” é um ícone. No espaço comandado por Vasco Coelho Santos, eleito Chef do Ano 2023 no Guia Boa Cama Boa Mesa e vice-presidente da Confraria da Rabanada, é feita a partir de cacete caseiro, previamente seco durante dois a três dias, cortado em fatias de cerca de 4 dedos de largura, e sem côdea. Este pedaço de pão em forma de cubo vai a demolhar numa mistura de leite, nata, ovos e açúcar. A demolha, intensa, prolonga-se por uma hora de cada lado. O preparado segue, depois de escorrer, para o congelador. Só quando a rabanada estiver congelada é envolta em açúcar, frita em manteiga e repousa por meia hora antes de ser caramelizada com açúcar. É uma das favoritas da “nova geração” de abordagens ao doce tradicional, servida com uma bola de gelado de queijo da serra. Custa €8,50.
Cais das Pedras, 15, Porto. Tel. 938566766
“Rabanadas d’Avó Piedade” d’ A Cozinha do Manel
Aos 82 anos, ainda é a D. Piedade quem faz as cerca de 30 rabanadas que diariamente, e durante todo o ano, estão disponíveis no restaurante A Cozinha do Manel. Na época de Natal, a procura aumenta e também a produção das “Rabanadas d’Avó Piedade” (€6) se multiplica. A receita mantém-se desde a origem do restaurante, aberto em 1989. Demolhado em água, em vez de leite, o pão é mergulhado numa calda de água temperada com pau de canela, limão e açúcar. Vai a fritar e é envolvida por uma calda de frutos secos e canela servida sobre a rabanada ou à parte, a pedido do cliente.
Rua do Heroísmo, 215, Porto. Tel. 919787598
“Rabanada com calda de canela e vinho do Porto” d’O Buraco
Tradicional, tal como o restaurante onde é servida, a “Rabanada com calda de canela e vinho do Porto” servida no restaurante O Buraco, uma casa popular em pleno centro do Porto, começa por ser demolhada em chá de limão quente, em vez de leite. O pão é depois passado por ovo inteiro batido. Vai a fritar, e depois fica a escorrer o óleo antes de levar a camada doce, açúcar e canela. Na hora de servir é regada com uma calda, elaborada com água, açúcar, vinho do Porto, canela e limão. Disponível durante todo o ano, custa €3. “Sai sempre bem”, garante Bruno Costa, que em parceria com Ricardo Gonçalves toma agora conta da casa com mais de cinco décadas, “mas nesta época do ano tem de se fazer o dobro do habitual”, revela, o que corresponde a cerca de 40 rabanadas por dia.
Rua do Bolhão 95, Porto. Tel. 222006717
“Rabanadas à Antunes” do Antunes
Aberto desde 1965 por António Antunes Fernandes e Maria Luísa, e desde 2024 em nova localização, o restaurante Antunes é uma das mesas mais tradicionais da cidade a que não faltam clássicos como as “Tripas à Moda do Porto”, o “Cozido à Portuguesa”, o “Pernil Assado”, emblema da casa, servido com esparregado, batatinha assada e arroz nem a sobremesa icónica. As “Rabanadas à Antunes" (€2,75), esclarece Maria Luísa, aos comandos do espaço desde o falecimento do fundador, integram sempre a ementa. “Fazem-se com pão aparado à minha feição e uma calda com leite e molho especial. O pão é demolhado nessa calda e vai a fritar. Leva muitos ovos e não há igual”, avisa a responsável pela cozinha desde sempre.
Rua do Bonjardim, 614, Porto. Tel. 222052406
“Rabanada de vinho verde tinto” do Terreiro
Em plena Ribeira do Porto, o restaurante Terreiro celebra a época natalícia com a introdução da rabanada na ementa. Elaborada com pão molete ou bijou, conhecido no sul por papo-seco, de preferência recesso, a mais célebre é a “Rabanada de vinho verde tinto”: é embebida numa calda forte em vinho verde tinto, para depois ser frita e envolvida em açúcar e canela. Ao lado, é servida uma calda de açúcar e canela que pode ou não colocar sobre a rabanada acabada de fritar. Há ainda outra versão que consta do menu: é embebida em chá preto em vez de vinho verde tinto. Ambas custam €4 e são servidas do início de dezembro até ao final de janeiro, esclarece José Soares, empregado de mesa com vários anos de casa, acrescentando que, nos outros dois restaurantes do grupo – Adega São Nicolau e Taberna dos Mercadores – embora não conste do menu, também se pode pedir esta sobremesa.
Largo do Terreiro, 11/12, Porto. Tel. 222011955
“Rabanada com gelado de caramelo salgado e redução de vinho do Porto” do Oficina
No restaurante comandado pelo chef Marco Gomes, baseado na cozinha de Trás-os-Montes e com nuances de diferentes partes do país, a “Rabanada com gelado de caramelo salgado” é já um clássico do capítulo das sobremesas. No restaurante Oficina está disponível nas quatro estações do ano e a receita segue os preceitos tradicionais: o pão é demolhado em leite com temperos, além de mel, canela e limão. Depois é colocada a fritar para então ser envolvida em canela e açúcar. Quando chega à mesa, vai acompanhada de gelado de caramelo salgado e redução de vinho do Porto, tudo feito na casa. Por cima, um falso pau de canela elaborado com massa folhada finaliza a decoração. Custa €9,5.
Rua de Miguel Bombarda, 273-282, Porto. Tel. 936712384
“Rabanada de castanha, marmelo confitado, vinho da Madeira e queijo de ovelha amanteigado“ do Mito
É “a resposta certa, não importa a pergunta”, anunciam no restaurante Mito sobre a rabanada que anima as mesas do restaurante não só quando é Natal, mas a cada temporada. Todos os anos se desenha uma nova receita baseada no doce tradicional. Já foi “Rabanada, brioche de cacau, doce de abóbora, cardamomo e azeite”; de pistáchio, mascarpone fumado, romã e laranja; de Togarashi, crumble de côco e citrinos, hortelã e gelado de brioche, e todos os anos há uma nova receita para provar. Comum a todas as versões é o facto de a rabanada não ser frita, mas apenas flamejada. A mais recente, disponível no menu atual, é a “Rabanada de castanha, marmelo confitado, vinho da Madeira, queijo de ovelha amanteigado” (€6,5), elaborada a partir de pão brioche feito na casa e com castanha raspada no interior, o que ajuda a retirar o excesso de doce. Por cima, marmelo confitado e sua calda.
Rua José Falcão 183, Porto. Tel. 222081059
“Rabanada poveira” da Confeitaria Dajuri
Foi com o intuito de dar uma nova vida às sobras do pão que, no início da década de 50, Leonardo da Mata criou a “Rabanada à poveira”, ou “Rabanada do Leonardo”, feita em pão bijou e moldada à mão para ficar mais redondinha. É uma referência na comunidade piscatória desta cidade, embora existam variações da receita adaptadas à criatividade dos diferentes espaços da cidade. A Confeitaria Dajuri, na Póvoa de Varzim, aberta desde 1996, ajudou a dar fama ao doce. Mergulhadas numa calda tradicional e moldadas à mão, são feitas diariamente e vendidas simples (€1,50), mas também com creme de ovo ou xarope de vinho do Porto e frutos secos (ambas a €2) e já valeram vários prémios e reconhecimentos à casa.
Rua Coronel Oudinot, 5 , Póvoa de Varzim. Tel. 965 579 311
“Rabanada com calda de vinho do Porto e frutos secos” do Zizi
Junto ao mar, o restaurante Zizi é um paraíso para os apreciadores de peixe e marisco. Na hora mais doce, a “Rabanada com calda de vinho do Porto e frutos secos” (€4) está disponível todo o ano. O pão é demolhado em leite temperado com especiarias e limão, e mais uns pozinhos que são segredo da receita, antes de serem fritas e depois envolvidas por açúcar e canela. Chegam à mesa acompanhadas de uma calda de redução de vinho do porto e frutos secos: amêndoa laminada, nozes e canela. Na época natalícia, durante todo o mês de dezembro, uma segunda versão da rabanada oferece uma “simbiose quase perfeita entre duas sobremesas típicas portuguesas”. A rabanada, elaborada como na receita anterior, é encimada por leite-creme queimado na hora (€8).
Rua Mar, Vila Nova de Gaia. Tel. 227620728