
A tensão entre a política e a comunicação social em Portugal subiu de tom esta semana após João Tilly, deputado do Chega eleito por Viseu, recorrer às redes sociais para celebrar o iminente fecho da revista ‘Visão’. O parlamentar foi mais longe e teceu comentários depreciativos sobre os profissionais da publicação, numa altura em que o setor enfrenta uma das maiores crises das últimas décadas.
Num texto publicado ‘online’, João Tilly afirmou que “seis anos a denegrir o Chega teve finalmente este desfecho. Jornalixos comunas e xuxas: tudo para o desemprego! Mas não desesperem: há ainda muitos tuktuks e TVDE para conduzir e toneladas de amêijoa para apanhar no Tejo”. O deputado, conhecido por polémicas declarações, acrescentou ainda que outras publicações e meios de comunicação “perniciosos” seguirão o mesmo caminho, prevendo um futuro difícil para a imprensa que, no seu entender, é marcada por uma “comunistação súcial-lista”.
As declarações surgem após o Tribunal de Sintra recusar homologar o plano de recuperação da Trust in News (TIN), grupo proprietário da revista ‘Visão’, bem como da ‘Exame’ e da ‘Caras’. A decisão judicial ordenou a apreensão imediata dos bens e determinou a liquidação do grupo, lançando dezenas de profissionais no desemprego e deixando o futuro de algumas das principais publicações portuguesas em risco.
Apesar do cenário sombrio, o acionista Luís Delgado já anunciou que irá recorrer, sublinhando que o plano de insolvência da TIN tinha sido aprovado por 77% dos credores, um argumento que pretende usar na luta jurídica que agora se abre.
Fundada em 2017, a Trust in News nasceu da área de revistas da Impresa e rapidamente se consolidou como um dos mais influentes grupos de média nacionais. A sua queda representa não só uma crise empresarial, mas um novo capítulo na já tensa relação entre alguns setores políticos e os media em Portugal.