
Tornar-se cuidador de um pai ou de uma mãe (ou mesmo de um dos avós) pode ser bastante desgastante não só a nível físico como mental e acarreta muitos desafios, inclusive monetários. A decisão de manter os progenitores junto a si, na casa onde sempre viveram ou colocá-los num lar pode, muitas vezes, ser carregada de culpa.
Vários famosos já falaram sobre as suas experiências, algumas mais duras do que outras, mas todas elas com um objetivo comum: o bem-estar de quem um dia já cuidou deles. Como tal, o site do Fama Show reuniu algumas caras conhecidas que abordaram o tema:
Júlia Pinheiro
A mãe de Júlia Pinheiro é cuidadora da mãe, Aurea Pinheiro, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) severo, em 2019. Recentemente, a apresentadora da SIC explicou como foi lidar com essa nova realidade.
"A minha mãe é uma mulher tremendamente independente, uma mulher muito autoritária, muito firme. De repente tem um AVC, um daqueles valentes, e eu tenho de decidir tudo da vida dela, como é que ela vai ser cuidada, de que forma vai ser cuidada, convencê-la...", disse no podcast "Um Género de Conversa", da Rádio Comercial.
"Ela ainda tem alguma lucidez, não muita, está quase com 90 anos. No preciso momento em que isto acontece, eu estava a estrear-me no teatro com 'Os Monólogos da Vagina'. Foi 15 dias antes", recordou, referindo que quando estreou a peça estava "completamente transtornada" e com sentimento de culpa.
Em 2023, Júlia Pinheiro também destacou no 'Alta Definição', da SIC, a inversão de papéis: “Sou cuidadora da minha mãe, sou responsável por ela, que é uma situação que a vida nos deve preparar. Mas quando chega é sempre muito difícil. Ela agora é minha filha e eu sou a mãe dela, é ao contrário (...) Era autoritária, muito disciplinadora e hoje sou que, às vezes, tenho de ser disciplinadora e um bocadinho autoritária. Custa-me muito. Não é, de todo, aquilo que nós achamos que vai ser”, confessou.
Joana Figueira
Em 2022, Joana Figueira, que está afastada da televisão há vários anos, tornou-se cuidadora da mãe, que foi diagnosticada com demência. No ano passado, a atriz chegou a confessar no programa 'Júlia', da SIC, que "pôr a mãe bem, custou-lhe a sua saúde física e mental".
“Quem pôs a minha mãe a andar fui eu, eu fiz o papel de uma equipa multidisciplinar. Eu pus a minha mãe a deixar de usar fralda, a comer sozinha, a ler. Desistiram dela, ‘ela é demente portanto não volta a ficar bem’. Eu sozinha recuperei a minha mãe. Custou-me a minha saúde, mas não estou nada arrependida. Faria tudo outra vez“, contou, na altura.
Entretanto, em agosto do mesmo ano, Joana revelou que teve de tomar "a decisão mais difícil" da sua vida: a progenitora “deu entrada num lar”. "Não consigo descrever este vazio que me assola, bem como a sensação de traição imensa, apesar de racionalmente saber que é o melhor para todos. É o que me tem dito a equipa que de mim cuida", escreveu numa publicação nas redes sociais.
Liliana Campos
Durante quatro anos, Liliana Campos foi cuidadora da mãe, que ficou "completamente dependente" após ter sofrido um AVC. Zena Campos faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de janeiro de 2016, vítima de problemas respiratórios.
"Tivemos de montar praticamente um hospital em casa", contou a apresentadora do 'Passadeira Vermelha'm da SIC Caras, numa antiga entrevista à TV7 Dias, elogiando a "capacidade de aceitação" da mãe. "Queríamos acreditar [a apresentadora e o irmão] que ela ia para um lugar melhor, onde voltasse a ser a mãe que conhecemos e não aquela pessoa que estava ali transformada, completamente dependente, que já não reagia, não nos reconhecia", recordou.
Assistir à decadência mental da progenitora não foi muito difícil: "Foi um período que me custou, vivi em angústia, além de ter deixado de ter vida própria e de viver em sobressalto à espera que o telefone tocasse com medo das más notícias. O que mais me custou foi a impotência de não conseguir fazer mais nada do que aquilo que já tinha feito para atenuar ou retirar o sofrimento que a minha mãe estava a viver. Foi uma tortura para nós e foram vários anos, quase quatro anos nisto, diariamente sem ajudas, a ganhar para tudo aquilo que era necessário (...) Abdicámos das nossas vidas para cuidar dela dia e noite", recorda.
Liliana Campos: “Estava realmente muito aflita. É tudo muito caro para quem tem uma pessoa acamada em casa”
Alexandra Lencastre
Alexandra Lencastre vive com ambos os pais na sua casa em Sintra. "Continuo a cuidar da minha mãe e, agora, também tenho o meu pai comigo", disse recentemente a atriz à TvMais. A mãe, que sofre de Alzheimer, tem 81 anos e o pai tem 84 anos.
"Não estou sozinha, tenho a ajuda de duas cuidadoras. Uma durante a semana e a outra ao fim de semana. Mas é muito difícil, é muito difícil. Vamos sempre descobrindo novas formulas de estimular. Mas a minha mãe é uma pessoa que está a desaprender tudo, a esquecer tudo", lamentou. "Ela não se reconhece, mas é muito doce e muito querida. É uma doente muito fácil. O meu pai é mais difícil, tem um feitio mais difícil. Mas agora está mais fragilidade e torna-se mais fácil", acrescentou.
Sílvia Alberto
Há 18 anos que Sílvia Alberto é cuidadora da mãe, juntamente com a irmã. Em 2022, numa sentida conversa com Júlia Pinheiro, no programa 'Júlia', da SIC, a apresentadora falou sobre a doença da mãe, que foi diagnosticada com Alzheimer.
"Tinha 25 anos, ainda estava na faculdade, quando a minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer. Foi um diagnóstico muito penoso para nós. Faltou-nos muito, na altura, saber o que fazer, como atuar bem”, contou, na altura.
“As fases são difíceis de aceitar. Há pessoas que convivem com Alzheimer galupante e perdem os seus ente queridos num curto espaço de tempo e há pessoas, como nós, tivemos a possibilidade de dar e, claro, auxiliar, à minha mãe dez anos muito felizes com ligeiras alterações de memória. Houve qualidade de vida durante esse período. Posso dizer que fizemos o melhor que podíamos como filhas. Estamos agora numa fase mais difícil, nos últimos cinco anos houve uma degradação substancial, a Covid-19 não ajudou nada”, explicou.
André Nunes
Em 2018, André Nunes sofreu uma enorme perda: a mãe, de quem foi cuidador durante alguns anos. Há dois anos, o ator revelou no 'À Conversa com Ana Rita Clara' que a progenitora "tinha bipolaridade". "É uma doença controlável, mas muito complicada", contou. "Como era muito adolescente, quando surgiu isso, imagina 'está a falar com alguém, mas não deve ser nada' porque não é uma realidade para a qual estejas preparado, pelo menos eu."
André explicou ainda que se não tivesse passado por essa experiência "não tinha conseguido ser ator profissional". Motivo: "Deu-me uma capacidade de paciência, de tratar", disse. "Eu falava muito com ela, ela vivia muito as minhas experiências", acrescentou.
Ana Arrebentinha
Ana Arrebentinha tinha 20 anos quando perdeu o pai, vítima de um AVC, e em janeiro do ano passado revelou que a mãe morreu. A humorista foi a principal cuidadora da progenitora, que tinha sido diagnosticada com uma doença rara. "Ficou de cama, tive de cuidar da minha mãe, dar-lhe injeções, a minha mãe teve de fraldas“, contou em agosto no programa 'Júlia', da SIC.
Ana disse que "foi um choque gigante" quando a mãe faleceu. "No dia em que se sentiu mal, eu liguei-lhe e ela não me atendeu. Houve uma amiga minha que viu o INEM à minha porta e ligou-me, liguei à minha vizinha e oiço a minha mãe a dizer assim ‘já lhe ligaram’. Arranquei, fui para Beja, ainda a vi viva, assim que me viu a entrar ainda mexeu a cabeça e depois teve uma pancreatite, ainda a operaram, tiraram-lhe a vesícula, e já não aguentou mais”, relembrou.
Diogo Martins foi cuidador do avô aos 21 anos
Aos 21 anos, Diogo Martins viu o avô paterno sofrer um AVC que o deixou com graves sequelas, tornando-se seu cuidador. Decidiu ir viver para casa dos avós para prestar auxílio ao avô e fazer com que a avó “não suportasse tudo e pudesse viver com alguma paz”, como contou numa entrevista no 'Alta Definição', da SIC, em 2022.
“O meu avô teve um AVC e eu, a partir daí, decidi viver com eles e prestar os auxílios possíveis para que ele pudesse partir com dignidade. O meu avô ficou incapacitado, não conseguia andar e eu apercebi-me que seria a melhor ajuda possível para a minha avó. (…) Achando que sempre me deram tudo, estaria agora na altura de ser eu a dar-lhes o que podia", explicou.
"Foi um ano complicado porque todo o meu tempo acabava por ser entregue aos cuidados do meu avô. (…) Fui fundamental para que a minha avó não suportasse tudo e conseguisse também viver com alguma paz“, acrescentou. O avô de Diogo Martins morreu em 2015, poucos dias depois do ator regressar à televisão e começar a gravar “Coração de Ouro”.
Conceição Queiroz
No ano passado, Conceição Queiroz disse enfrentar um dos seus maiores desafios: ser cuidadora do pai depois deste ter tido uma paragem renal. A apresentadora chegou mesmo a despedir-se, pois "os médicos diziam que estava a morrer", como contou, na altura, numa entrevista à TV Guia.
"Ele esteve em risco de vida. Agora cuido dele... para já. O meu pai é o adulto, ele é que manda. Nem se coloca na minha cabeça inverter os papéis. Neste momento, estou a fazer aquilo que me compete. Não seria justo colocar o meu pai num lar. Eu nunca faria isso, mas acho que é cultural. Em África, de um modo geral, as pessoas mais velhas ficam com os filhos até ao fim", destacou.
A mãe de Conceição Queiroz morreu em 2000, aos 49 anos, vítima de cancro no colo do útero. "Mas aí foi negligência médica. Foi o meu 11 de setembro", afirmou.
Ana Bola
Ana Bola foi cuidadora da mãe, que faleceu em novembro de 2019, e da sogra [mãe do músico Zé Nabo]. "É das piores coisas que nos pode acontecer", afirmou a atriz numa entrevista em 2022 com Manuel Luís Goucha.
"A minha mãe esteve anos a definhar. Embora nunca tenha tido Alzheimer profundo, nos últimos anos teve demência. Nunca deixou de me conhecer. Mas é a vida. Acontece a quase todas as pessoas. Mas é muito difícil. Deixou-me completamente de rastos", contou.
Em julho de 2019, Ana Bola esteve n'O Programa da Cristina' e explicou que tanto a mãe como a sogra "estavam acamadas". A atriz explicou, na altura, que se viu obrigada a deixar a progenitora numa casa de repouso: "Eu sempre imaginei que teria possibilidade de ter os meus pais comigo. E não tem a ver com falta de espaço, tem a ver com falta de tempo meu porque ainda trabalho muito. E sobretudo tem a ver com a condição dela. Uma pessoa que está numa cama precisa de cuidados contínuos", esclareceu, na altura. "Não era aquilo que estava previsto. Mas o que é que se pode fazer? Pedes ajuda a um médico. Os cuidadores passam maus bocados."