A edição do álbum duplo e os recitais já programados são manifestamente uma aposta do músico em Portugal, onde pretende fixar-se.

Em entrevista à agência Lusa, Luís Magalhães afirmou que, "após mais de 20 anos a viver no estrangeiro, chegou a altura de voltar a Portugal", enfatizando: "Nunca deixei de ser português, e o meu desejo é tocar o mais possível para os meus conterrâneos!".

O pianista tem desenvolvido a sua carreira nos palcos internacionais, tanto na Europa como na América e em África, tendo residido na África do Sul e nos Estados Unidos.

Magalhães foi aluno de Vladimir Viardo na Universidade do Norte do Texas e é doutorado em Performance de Piano, pela Universidade da Cidade do Cabo, tendo mantido a sua ligação enquanto professor associado com a Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, até ao ano passado.

À Lusa, o pianista, natural de Vila Nova de Famalicão referiu "as muitas saudades" de Portugal, e o desejo de estar "mais perto da família, especialmente dos pais", e a vontade de "dar aos filhos uma experiência diferente, dando-lhes acesso a oportunidades de estudo na Europa".

Atualmente a viver no Porto, o pianista referiu também "questões profissionais". "A maior parte dos meus concertos são na Europa e tornou-se bastante cansativo viajar 12 horas todos os meses para chegar a qualquer ponto".

Além do recital na Casa da Música, onde vai apresentar "só um pequeno resumo do repertório do disco, dado que se trata de um disco duplo - o resto tem que ser ouvido no disco -", Luís Magalhães tem previstas atuações em setembro, no dia 12, no Festival Cidnay, em Vila Nova de Famalicão e, no dia seguinte, em Coimbra, no Festival À Corda, no qual tocará com o violoncelista sueco Torleif Thedéen.

Em Coimbra, com Thedéen, voltará a Schubert, "An die Musik" e "Nacht und Träume", e interpretará uma sonata de Robert Schumann, com arranjos para piano e violoncelo.

Luís Magalhães tem uma carreira de mais de 20 anos, tendo dado o seu primeiro recital aos nove anos, mas só agora edita o seu primeiro álbum a solo. À Lusa, o pianista reconheceu que "demorou algum tempo a gravar um disco a solo".

"Gravei dez discos com diferentes tipos de repertório de música de câmara: duos, trios, quartetos etc.".

"Abordei bastante repertório, mas nunca senti a necessidade de registar em disco", afirmou, acrescentando: "Após o meu regresso a Portugal, depois de ter passado mais de 20 anos a viver no estrangeiro, acho que é a altura ideal para fazer esta apresentação".

Questionado sobre a escolha dos quatro compositores de épocas e estéticas musicais distintas, escolhidos para a gravação, Luís Magalhães afirmou: "A premissa da escolha do repertório foi muito simples: compositores que amo e obras que sempre quis gravar. Não existe em si nenhum elo de ligação óbvia, simplesmente música que esteve comigo durante muitos anos e que acho que humildemente tenho algo de novo a dizer nelas".

O alinhamento do duplo CD inclui a Sonata em Si Bemol Maior D.946, a derradeira sonata para piano de Franz Schubert, que ocupa um dos discos da edição física; no outro, estão a Fantasia em ré menor e a Fantasia em dó menor, de Mozart, as seis "Bagatelles" de Beethoven, e as quatro peças do opus 119, de Brahms.

As obras escolhidas "requerem uma abertura emocional muito ampla por parte do pianista", disse Luís Magalhães. "Não é música que possa ser tocada com o coração fechado. Daí a posição do pianista passa a ficar bastante vulnerável em termos emocionais. Quase como se fosse uma visita ao psicólogo...".

Sobre a preparação para a gravação, Luís Magalhães afirmou que foi feita "a longo prazo". "A minha preparação foi feita ao longo de várias décadas, evoluindo em pensamento e ideias, com trabalho de aperfeiçoamento técnico, etc.. Só nos meses que antecedem o trabalho em estúdio é que é feito um trabalho físico mais intenso para conseguir aguentar a pressão física que acontece durante a gravação".

Luís Magalhães desenvolveu com a pianista Nina Schumann um projeto a dois pianos, com o qual se apresentou, entre outras salas, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, e que "seguiu o seu curso natural", em recitais por salas de concerto de diferentes países. A parceria deu também origem a quatro álbuns conjuntos.

"Fizemos um trabalho excelente no ramo do repertório a duo com resultados ímpares", afirmou.

Apesar de ser este o seu primeiro álbum a solo, Luís Magalhães detém uma discografia extensa, tendo colaborado com vários artistas, como os violinistas Frank Stadler, Daniel Rowland, Madeline Adkins e Priya Mitchell, o violetista sul-africano Gareth Lubbe, os violoncelistas Julian Arp e Peter Martens, e o oboísta norte-americano James Austin Smith, além do

O álbum com Martens, no qual gravou as Sonatas de Beethoven, recebeu um South African Music Award em 2011.

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