A digitalização e divulgação do espólio de Luiz Pacheco (1925-2008), a edição de antologias e reedição de livros já publicados, a tradução da sua obra para mais línguas, uma exposição itinerante, que viajará para fora do país, são algumas das atividades previstas, revelou à Lusa o académico Rui Sousa, um dos promotores das iniciativas.

Luiz Pacheco, autor irreverente e crítico literário provocador, continua a ser uma figura central na cultura portuguesa e embora a sua imagem, muitas vezes associada à marginalidade e à provocação, tenha levado a uma leitura da sua obra como símbolo de rebeldia, é cada vez mais claro que a sua produção literária merece um reconhecimento mais amplo, que ultrapassa as fronteiras da mitologia que se construiu em torno da sua pessoa, considera.

A programação foi desenhada a partir de dois projetos de investigação promovidos pelo Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL), dos quais Rui Sousa é o principal responsável e promotor.

Um dos projetos, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), intitula-se "Surrealismo-Abjeccionismo em Portugal. Da folha volante ao mundo digital", ao passo que o segundo, mais exclusivamente dedicado ao centenário, foi designado "Luiz Pacheco Passeia por Todo o Papel (1925-2025)", ecoando um título do autor.

O primeiro projeto visa divulgar o espólio do escritor numa base de dados digital e reeditá-lo, bem como publicar uma antologia de textos representativos da sua obra.

A par disso, está a ser organizada uma exposição, a inaugurar no dia 23 de outubro na cidade de Palmela, assim como uma exposição itinerante que, a partir do início de 2026, percorrerá as cidades capitais do percurso vital do autor (Lisboa, Setúbal, Caldas da Rainha, Palmela, Sertã, Braga, entre outros locais).

Esta exposição também terá prolongamentos internacionais, através de algumas cátedras do Camões Instituto, nomeadamente no Brasil, Colômbia, Espanha (Vigo), Itália, França e Polónia (Lublin).

Integrada no projeto de divulgação do espólio de Luiz Pacheco, está a tradução da "obra do autor para diversas línguas, ajudando a colmatar uma lacuna relevante - afinal, só foi traduzido, até ao momento, para alemão", destacou Rui Sousa.

O segundo projeto, "Luiz Pacheco Passeia por Todo o Papel (1925-2025)", agrega uma série de atividades, entre as quais se destaca o "Congresso Centenário Luiz Pacheco (1925-2025)", que reunirá especialistas e admiradores da obra do escritor em Setúbal e Palmela, nos dias 22 a 24 de outubro.

O congresso inclui palestras de convidados especialistas na obra do autor e uma performance de um grupo de teatro amador a partir de textos ilustrativos de todo o seu percurso.

Em novembro, de 20 a 22, está previsto um outro encontro na Biblioteca Nacional de Portugal sobre o impacto da censura e da clandestinidade na Modernidade portuguesa.

"Ao mesmo tempo, contamos com encontros mensais na Biblioteca do Palácio Galveias, sobre obras censuradas, cuja primeira conferência decorreu no dia 08 de maio e se prolongará até julho de 2026", acrescentou o académico.

Segundo Rui Sousa, estão ainda previstas outras iniciativas um pouco por todo o país, como a Maratona de Leitura da Sertã (de 03 a 05 de julho) e a organização de um ciclo mensal dedicado ao autor, a começar este mês, na Casa da Cultura de Setúbal, bem como um ciclo de eventos sobre Luiz Pacheco na Fundação José Saramago, a 02 e 03 de outubro.

Neste momento, estão patentes duas exposições que se complementam: na Casa da Liberdade - Mário Cesariny e na Perve Galeria, em Alfama, que decorrem até 26 de junho.

"Essas duas exposições assinalam a importância do arquivo para o conhecimento presente e futuro de Luiz Pacheco, focando a sua complexa relação com o Surrealismo e o Abjeccionismo, entre a recusa de afiliação num grupo, escola ou ismo, sempre castradores da autonomia criadora, e a apropriação paródica, crítica e muito pessoal dos seus propósitos e discursos", explica Rui Sousa.

O especialista destaca ainda que estas mostras procuram igualmente "dimensionar as dinâmicas entre Luiz Pacheco e as artes plásticas, sobretudo no contexto de Os Surrealistas".

Leia Também: Lusodescendente Louane representa França na Eurovisão (e tem concerto cá)