A morte do músico e produtor Renato Júnior, esta terça-feira aos 59 anos, tem sido lamentada por numerosos artistas e figuras da comunicação que com ele trabalharam e privaram. A sua bondade tem sido referida nas homenagens ao homem que começou por trabalhar como jornalista, na Rádio Renascença e RFM.

“Não estou preocupada com este teu novo caminho. Sei que estarás em paz e envolto em luz”, escreveu Rita Redshoes, que com ele trabalhou num disco de homenagem a Natália Correia e, já este ano, no espetáculo “Licence to Sing”, dedicado às canções dos filmes de James Bond. “O teu coração de ouro traiu-te esta manhã. O meu ficou órfão de um grande amigo e companheiro de luta. A tua generosidade ficará na memória de tantos de nós. Agradeço-te tudo o que me deste. Ficarei para sempre à espera de um telefonema ou de uma mensagem tua. Meu amigo."

Ana Bacalhau, que também participou no disco de homenagem a Natália Correia, disse: “Perdemos um homem bom, que tanto amor punha em tudo o que fazia e tanto amor deu a tantos. Gostava muito que soubesse o amor que tantos lhe temos. Obrigada, querido Renato, fazes-nos muita falta.”

“Hoje tremi ao saber da tua partida, querido Renato… ainda não parece verdade”, escreveu Aurea. “Não te cheguei a sublinhar o quanto sou grata por teres sido o responsável por trazer à minha vida estas almas tão bonitas, as nossas Natálias preciosas.. Costumamos dizer que tens um dom especial para juntar pessoas boas e isso só é possível para alguém que vê com o coração, que vê muito para além do óbvio e do imediato… alguém que é realmente bom!”

O exemplo de “generosidade, integridade, talento e paixão” foi destacado por Kátia Guerreiro, ao passo que Mimicat sublinhou “a bondade e verdade” da “alma” de Renato Junior.

Quem também trabalhou com Renato Junior foram os UHF, cujo líder, António Manuel Ribeiro recordou estas colaborações, entre 1987 e 1996, e escreveu: “Pianista, saxofonista e até guitarrista, como o vemos aqui no (seu) estádio de José de Alvalade, enquanto o público – mais de 50.000 pessoas – entoava em coro a nossa ‘Menina Estás à Janela’, no dia 11 de setembro de 1993, quando os UHF abriram para Billy Idol e Bon Jovi, o Renato deixou hoje esta fisicalidade.”

Por seu turno, Nuno Markl lembrou que, em 2008, Renato Júnior o convidou para escrever uma letra para uma melodia sua, no contexto do Festival da Canção. “Com a ajuda preciosa da Maria de Vasconcelos, escrevemos uma ode algo Nick-Hornbyana ao poder das canções pop na vida de um ser humano, que o Renato transformou numa canção pop épica com laivos de R&B. O que ficou acima de tudo foi a alegria do processo, a tremenda simpatia, talento e confiança do Renato Júnior, um super-versátil músico e produtor, daqueles que faz com que tão complexo ofício pareça fácil.”

Também Júlio Isidro dedicou uma longa mensagem a Renato Júnior, revelando que o músico planeava produzir um espetáculo sobre a sua vida.

“Uma mulher não chora…Mas hoje choramos todos, as muitas mulheres que Renato Junior pôs a cantar nos seus projetos, nós que acompanhámos o seu caminho na música, interrompido à traição, e o público que o aplaudiu durante quase meio século. Viver é tão difícil e morrer em vida, tão fácil. Basta o coração recusar-se a bater.”

“Depois dos UHF onde tocou e onde o conheci, os palcos de teatro foram as telas onde pintou tantos quadros musicais. Surpreendeu com 'Sexta-feira 13', uma alegoria aos Xutos e Pontapés com encenação de outro talento que a vida deixou sair tão cedo, António Feio. E veio a ‘Rua da Saudade’ homenagem a Ary dos Santos com as vozes de quatro mulheres... e ‘Simone - o Musical’, o retrato da vida da nossa diva, que terá hoje os olhos rasos de lágrimas."

“Renato deu em vida muito do seu talento pela dignidade e liberdade da mulher, e nunca perdeu Abril nas pautas que escreveu. Exaustiva lista de sonhos feitos realidade por alguém que morreu no último instante que a vida lhe ofereceu, já que o que tinha planeado para o futuro não era ir morrendo lentamente. E isso dói, dói muito.”

“A última vez que telefonou foi para me dar os parabéns porque apenas um dia separava os nossos aniversários, 4 e 5 de janeiro, mais muitos anos de diferença entre nós. Deixamos duas dívidas um ao outro... um espetáculo que iria produzir sobre a minha vida, adiado pela pandemia, e que agora eu iria escrever o texto, e mais uma ida ao ‘Inesquecível’ para divulgar o seu novo espectáculo ‘Licence to Sing’, dedicado às músicas dos filmes do agente secreto 007.”

“Acredito que desde a notícia que nos atingiu no peito esta manhã, há pelo menos 20 ou 30 cantoras que choram. Vou recolher-me no silêncio da dor irrespirável. Não, não aceito este golpe baixo do destino! As pessoas de quem gosto, são minhas!...e não as quero perder."

Para Fernando Alvim, era “impossível não se gostar” de Renato Júnior. “Não deveria fazer sentido isto acontecer a alguém como ele. Era impossível não nos animarmos com a forma apaixonada com que falava sobre tudo o que fazia e, sobretudo, sobre o que queria fazer ainda. O Renato Júnior ainda ia fazer muito”, diz o radialista. “E muito fez até hoje. Cabe-nos continuar o seu legado e ajudá-lo a cumprir o que em vida não teve tempo. Com o amor que sempre soube distribuir e dedicar a todos.”

Diretor da agência Sons em Trânsito, Vasco Sacramento afirmou: “Bons são os que chegam longe sem atropelar os outros. O Renato não se limitava a esse mínimo da decência. O Renato levava os outros com ele. Dava-lhes palco, propósito, futuro, sustento, relevância, dignidade. Tornava-se gigante a elevar os outros, a agregar, a erguer pontes onde era mais fácil só ver abismos. Tudo sustentado no talento, na beleza, na poesia, na música e, mais importante que tudo, na bondade, na generosidade e na concórdia. Não nos vai fazer falta agora que partiu. Falta já fazia antes. Fazia falta haver mais uma dúzia de Renatos por aí. O mundo seria mais luminoso.”

Também o radialista Nuno Calado e o cantor Carlos Mendes mostraram o seu pesar pelo desaparecimento de Renato Júnior, que ao longo das últimas décadas gravou, compôs e produziu dezenas de discos de nomes como UHF, Susana Félix, João Pedro Pais, Simone de Oliveira, Martinho da Vila e Ney Matogrosso.

Diretor musical de séries e novelas, assim como de programas de talentos e espetáculos dedicados a Xutos & Pontapés, Simone de Oliveira e Ary dos Santos, foi vitimado por doença súbita.

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