O programa do festival, hoje apresentado, contempla concertos, conversas, espetáculos, exposições, oficinas e palestras, e inclui um momento prévio, no dia 05 de maio, dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, composto por um programa educativo, a decorrer na Biblioteca Palácio Galveias.

O festival terá lugar nos dias 09, 10 e 11 de maio e ocupará pela primeira vez o 'Beato Innovation District', para um "programa eclético", a cargo da Rede de Bibliotecas de Lisboa, que reflete sobre o diálogo entre a Língua, a Literatura e a Inovação, para tentar responder às questões que as novas tecnologias colocam às áreas da comunicação e da palavra escrita.

"Nesta edição, ousámos um pouco mais e pensámos num programa dirigido a pessoas que trabalham na área da cultura. O Festival Lisboa 5L deixa aqui o seu pequeno contributo para um caminho de reflexão, de capacitação, de combate à desinformação e a outras formas de censura, nestes dias que, sendo reais, muitas vezes nos parecem ficção", afirma Edite Guimarães, chefe de divisão da rede de bibliotecas.

Assim, a marcar o arranque no festival, no dia 09 está prevista uma palestra subordinada ao tema 'Desinformação, censura de livros e o fim da democracia', a cargo da bibliotecária e curadora norte-americana Tracie Hall, defensora das artes que em 2023 recebeu a medalha para a liberdade de expressão do Instituto Franklin D. Roosevelt.

Tracie Hall vai debruçar-se sobre o facto de, em todo o mundo, democracias sólidas estarem a debater-se com o aumento de informação deliberadamente enganadora, com a limitação do acesso a livros e à leitura, e com legislação e propaganda que tornam menos acessível uma educação equitativa, analisando as suas consequências e quem beneficia com isso.

Logo de seguida, está prevista uma conversa sobre 'Inteligência artificial na escrita e educação - pontes para o futuro', que irá pôr Patrícia Anzini, Beatriz Santana e Inês Anta de Barros a debater como a escrita sobrevive a esta tecnologia, com moderação de Jorge Amorim, especialista em Ciência Cognitiva e Inteligência Artificial.

A encerrar este dia, está previsto o espetáculo multimédia 'São feitas de palavras as palavras', com o grupo de percussão Drumming, a atriz Beatriz Batarda e o autor e ilustrador António Jorge Gonçalves, a que se seguirá um 'DJ set' pela Associação Rimas ao Minuto.

No dia 10, o destaque vai para uma conversa do escritor líbano-francês Amin Maalouf com o jornalista José Mário Silva sobre as promessas do progresso tecnológico e o risco de não passarem, afinal, de um novo capítulo do "naufrágio das civilizações".

Durante este dia, haverá ainda palestras sobre literatura experimental portuguesa, sobre o português do futuro e sobre as origens da faculdade da linguagem.

Estão ainda previstos vários debates: António Feijó e Pedro Mexia debatem se ainda há vanguardas literárias; João Paulo Silvestre e Isabel Macedo falam sobre a resistência aos acordos ortográficos; Carlos Fiolhais, Luis Filipe Silva e Rui Cardoso Martins debruçam-se sobre se a ficção científica já deixou de ser ficção; os linguistas António Coutinho e João Veloso discutem a linguagem inclusiva; Valério Romão, Sandra Guerreiro Dias e Sal Nunkachov vão falar sobre arte experimental e poesia.

Um outro debate em foco neste dia vai pôr frente a frente o humorista Ricardo Araújo Pereira e o editor Francisco José Viegas, a falar sobre o ludismo e a forma como este movimento - trabalhadores ingleses que na Revolução Industrial se opuseram à substituição do trabalho manual pelos teares - poderá ter um paralelo hoje no mundo da escrita.

Dois concertos fecham o segundo dia do festival: o primeiro, narrativo, é interpretado por Ana Sofia Paiva, Jorge Cunha Machado e Simon Franke, e o segundo, é um espetáculo dos Lisbon Poetry Orchestra.

No último dia vai ser possível assistir a uma conversa entre o escritor irlandês Paul Lynch, vencedor do Prémio Booker 2023 com o romance 'Canção do Profeta', uma distopia que imagina como pode ser fácil o deslizamento de um país democrático para a ditadura, com a crítica literária Isabel Lucas.

O escritor mexicano Juan Villoro, autor do ensaio 'Não sou um robô', vai estar à conversa com o jornalista José Alberto de Carvalho, sobre a influência dos algoritmos nos dias de hoje, lembrando que "somos a primeira geração de gente a quem é exigido que faça prova, perante uma máquina, de pertencer à espécie humana".

"A ficção distópica a imaginar desastres", numa era em que as distopias "ameaçam superar a ficção", por Alberto Manguel, e "A língua portuguesa na era da IA", sobre o "impacto disruptivo" que representa este "choque tecnológico na história das línguas naturais", por António Horta Branco, são as duas palestras marcadas para este dia.

O tópico 'O controlo da linguagem - instrumento de repressão ideológica típico das distopias literárias - deixou o universo da ficção para se tornar uma realidade inquietante' dá o mote para um debate com várias especialistas em linguagem.

Ainda a marcar o terceiro e último dia do festival, estão previstos os debates 'O futuro da literatura é o seu passado', com José Pacheco Pereira e Abel Barros Batista, 'Reler 'Utopia' de Thomas More', com Rui Tavares e Miguel Morgado, 'A língua da máquina', com Arlindo Oliveira e Robert Clowes, 'O que só aos humanos é possível', com Dulce Maria Cardoso e Lídia Jorge, e 'O ofício da língua', centrado no uso da palavra no 'rap', com Samuel Úria e Capicua.

O festival termina com um espetáculo de encerramento a cargo de Ana Lua Caiano, que oferecerá um concerto, a explorar a fusão entre a música eletrónica, a música tradicional portuguesa e os sons do dia-a-dia.

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