"Não creio que haja 'dumping'" por parte dos investidores estrangeiros, disse Bessent, numa entrevista à emissora Bloomberg Television na segunda-feira, durante uma visita a Buenos Aires.

Na semana passada, os títulos do Tesouro a 10 e 30 anos registaram a maior queda semanal desde 2001, a par de uma descida do dólar - algo que participantes no mercado destacaram como um sinal de diminuição da confiança internacional nos ativos norte-americanos.

Na interpretação de Bessent, é principalmente um movimento de desalavancagem. "Não tenho provas de que sejam os soberanos" os responsáveis pela queda, disse.

"Estamos muito longe" da necessidade de tomar medidas, afirmou, ainda, Bessent. Mas "temos um grande conjunto de ferramentas que podemos utilizar" se for caso disso, acrescentou.

Incluído nesse conjunto de ferramentas está o programa de recompra de títulos antigos por parte do Departamento do Tesouro, disse Bessent. "Poderíamos aumentar as recompras se quiséssemos", sublinhou

Em 2024, o Tesouro norte-americano iniciou o primeiro programa de recompra regular desde 2002, para melhorar a liquidez dos títulos mais antigos, que são transacionados com menos frequência do que os mais recentes.

Em episódios anteriores de intervenção oficial no mercado, a Reserva Federal foi o principal ator, comprando grandes volumes de dívida no mercado secundário.

Questionado sobre se, na última reunião semanal com o Presidente da Reserva Federal (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, houve alguma discussão sobre o mercado de títulos do Tesouro, Bessent disse: "Especificamente, discutimos algum tipo de quebra de interesse? Penso que estamos muito longe disso".

Pressionado sobre se Powell estava preocupado, Bessent acrescentou: "Acho que teríamos ouvido o presidente da Fed", se fosse o caso.

Bessent disse também que o prazo para entrevistar os candidatos à sucessão de Powell, cujo mandato termina em maio de 2026, será "algures no outono".

O dirigente reiterou o respeito pela independência do banco central dos EUA na tomada de decisões sobre a política monetária, afirmando que se trata de uma "caixa de joias que tem de ser preservada".

No que respeita às políticas de regulamentação, admitiu, pode haver mais discussão, dado que a Fed é um dos vários reguladores bancários.

O secretário do Tesouro rejeitou igualmente receios de que a queda simultânea dos títulos do Tesouro e do dólar possa significar que os Estados Unidos estão a perder o seu estatuto de refúgio. "Ainda somos uma moeda de reserva global" e ainda existe uma "política de dólar forte", disse.

O dirigente também rejeitou a caracterização de Pequim de que os aumentos das tarifas sobre os produtos vindos da China são "uma piada". "Talvez o ministro do Comércio [chinês, Wang Wentao,] tenha um sentido de humor diferente, mas eu não vejo nada de engraçado nisso", disse.

No que diz respeito às conversações com os parceiros comerciais dos Estados Unidos, Bessent disse que haverá uma vantagem do primeiro a tomar a iniciativa.

"Normalmente, a primeira pessoa que faz o acordo consegue o melhor negócio", disse, acrescentando que, ainda que não se chegue a um "documento" definitivo durante a pausa de 90 dias, pode haver "acordos de princípio".

Bessent visitou a Argentina, onde se reuniu com o Presidente Javier Milei, para mostrar o apoio dos EUA ao país, que recebeu uma nova ronda de financiamento do Fundo Monetário Internacional na semana passada.

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