O reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, defendeu que esta instituição de ensino superior teria adotado o mesmo posicionamento da Universidade de Harvard, caso estivesse situada nos EUA, em defesa da autonomia e liberdade.

“Não tenho nenhuma dúvida de que, se a Universidade de Coimbra estivesse nos Estados Unidos, teríamos tido exatamente o mesmo comportamento que teve Harvard. Ou seja, a nossa autonomia, o nosso pensamento, a nossa liberdade de expressão, não se compram, não têm valor, não estão a venda”, destacou.

A administração de Donald Trump exigiu, numa carta enviada a Harvard no início deste mês, amplas reformas governamentais e de liderança na universidade, bem como mudanças nas suas políticas de admissão, de diversidade no campus e fim do reconhecimento de alguns clubes de estudantes. Tal foi recusado pelo presidente de Harvard, Alan Garber, e horas mais tarde o governo congelou milhares de milhões de dólares de financiamentos federais, tendo a Universidade apresentado, na segunda-feira, um processo judicial para impedir o congelamento.

Durante as comemorações dos 56 anos da Crise Académica de 1969, o reitor sublinhou que a UC deve manter, como fez no passado, a sua liberdade de expressão. “Em Coimbra, ninguém manda calar ninguém”, vincou.

Ao longo da sua intervenção, Amílcar Falcão apontou o dia 17 de abril de 1969 como parte da história da academia e como um acontecimento importante “para aquilo que se veio a passar mais tarde, em 1974”.

A Associação Académica de Coimbra (ACC) inaugurou a estrutura “E tu, pedes a Palavra?”, no Largo de Dom Dinis, como forma de celebrar a Crise Académica de 1969, na qual é possível ver fotografias alusivas à época e, no centro do painel, espelhos com a frase que dá nome ao monumento.

No Largo, foram ainda colocadas placas que apontam problemas como “abusos de arrendatários e habitação social insuficiente”, “propina internacional dez vezes mais cara do que a propina nacional” ou “mecanismos de ação social insuficientes”.

O responsável aproveitou a ocasião para recordar que as eleições de 1975 foram as “mais participadas de sempre”, com uma abstenção de 9%, comparando às eleições legislativas de 2024, que registaram uma abstenção de 40,2%.

“Quatro em cada dez portugueses optaram por não expressar a sua voz, a sua palavra sobre o seu futuro e o futuro do país. Este não pode ser o caminho, porque isto não é relembrar o pedido da palavra nem o espírito democrático”, concretizou.

A estrutura “E tu, pedes a Palavra?”, de autoria da AAC, estará patente no Largo Dom Dinis até ao dia 2 de maio, enquanto as placas devem ser retiradas mais cedo.

(LUSA)