Ganhar e não deixar nada para ninguém. Na Volta ao País Basco, João Almeida coroou a vitória mais importante” da carreira numa prova por etapas com o trunfo numa última tirada, com final em Eibar, acidentada e encharcada, à qual o português da UAE Emirates lidou com a frieza de um animal predador.

Depois do triunfo na Volta à Polónia de 2021, o único no currículo do português em provas de uma semana do WorldTour, o ciclista das Caldas da Rainha, de 26 anos, confirmou o favoritismo numa das mais importantes competições por etapas fora das três grandes voltas, mesmo que o percurso até não o favorecesse, com muitas montanhas íngremes mas curtas e sem chegadas ao alto. Confirma-se assim um 2025 muito interessante, com segundos lugares na Volta ao Algarve e Comunidade Valenciana e uma vitória de etapa no Paris-Nice.

O rompe-pernas em modo circular com início e fim em Eibar, com sete contagens de montanha, três delas de 1.ª categoria, às quais se juntou a chuva, pressupunha cuidados e inteligência. Na 3.ª etapa, alguns lapsos de atenção terão, com alguma probabilidade, adiado a chegada da camisola amarela ao corpo de João Almeida, que se redimiu no dia seguinte, com triunfo na tirada e subida ao 1.º lugar na geral. Este sábado, numa jornada à qual na véspera chamou de “enganadora”, o português juntou as pernas à boa leitura tática. E atacou, como prometeu, ele que até é um ciclista mais do controlo do que da ação.

Tim de Waele

Almeida não tremeu quando Jordan Jegat, da Team TotalEnergies, se colocou num grupo de fugitivos, beijando durante largos quilómetros a liderança virtual. Não tremeu quando o terreno empinou, mostrando-se desde cedo na frente do grupo principal. Colocou-se sempre bem e fora dos perigos nas descidas, onde normalmente sente dificuldades. E não tremeu quando a chuva se tornou torrencial, nos últimos quilómetros da etapa.

Aí, já o português era parte da dianteira da corrida, inicialmente com Enric Mas e Mattias Skjelmose, depois com Mas e Ben Healy quando Skjelmose caiu na última descida, na qual João Almeida nunca descurou os riscos, controlando o andamento e colocando-se na frente do grupo.

Com Maximilian Schachmann (Soudal-QuickStep) e Florian Lipowitz (RedBull-Bora) para trás - eram os principais rivais de Almeida, a 30 e 38 segundos do português no início da tirada -, João sabia que só tinha de gerir para se tornar no primeiro ciclista nacional a ganhar a Itzulia em 64 edições da prova.

Mas o 4.º classificado no último Tour queria mais, queria mostrar que era, de longe, o melhor ciclista desta semana. Nos últimos quilómetros, já com com Enric Mas como companhia, o português viu o espanhol da Movistar pedir-lhe a etapa em troca de colaboração. João não foi na conversa e na meta foi mesmo o primeiro, dissipando qualquer dúvida.

“A equipa fez um trabalho muito bom, foi perfeito. Muito agradecido por tudo o que fizeram por mim. O percurso não era perfeito para mim, mas demos tudo. Ganhámos e estamos muito contentes, mas mesmo que não tivéssemos ganhado estava tudo bem, porque sabemos que demos tudo”, disse o português nas primeiras e rápidas declarações após a vitória, deixando também bem expressa a vontade e ambição de ganhar mais este ano.