
A Volta a França 2026 vai sair de Barcelona, na Catalunha, com uma primeira etapa inédita que pode definir o vencedor da prova logo no dia inaugural. A primeira etapa do Tour 2026 será um contra-relógio por equipas com partida e chegada em Barcelona, na Catalunha, numa distância de 19,7 quilómetros.
A particularidade deste contra-relógio é que o tempo será individual, numa prova que começa por ser colectiva. A partida será realizada no Fórum de Barcelona com um percurso plano, com grandes retas até a parte final. Nos últimos quatro quilómetros, a estrada vai acentuar-se com uma primeira subida, de Montjuïc, de mil metros a 5,1%, antes de uma curta descida para a subida final, 700 metros a 7%, até chegar ao Estádio Olímpico.
Os organizadores quiseram trazer mais espetáculo à prova, como referiu Thierry Gouvenou, diretor técnico da prova. "É provável que haja uma grande batalha pela vitória da etapa, mas também pela classificação do Tour de France. Queríamos oferecer um primeiro fim-de-semana explosivo». Isto porque este contra-relógio dará uma oportunidade aos líderes de se destacarem visto que o tempo será individual. Um corredor poderá terminar sozinho para oferecer a etapa à equipa, mas para ganhar tempo sobre os adversários. Foi uma falha na regulamentação que vai permitir esta novidade como nos explicou Christian Prudhomme, diretor da prova.
"Fui conquistado pelo contrarrelógio por equipas na Paris-Nice, há dois anos, quando Yannick Talabardon veio até mim e disse-me: Christian, os tempos podem ser individuais. Um trabalho colectivo em prol de uma individualidade, é isso o ciclismo. Em suma, os colegas de equipa vão trabalhar para o líder ou para o ciclista que pode vencer a etapa. Vai haver uma verdadeira tática das equipas. Vencer a etapa, ou permitir ao seu líder ganhar tempo aos adversários? Não será fácil como decisão. O nosso desejo é ver os líderes na luta pela geral desde o primeiro dia", sublinhou.
E não será apenas no primeiro dia, mas igualmente na segunda etapa. Com partida de Tarragona e chegada em Montjuïc, numa distância de 178 quilómetros, esse segundo dia terá o mesmo final do que na primeira etapa, subida de 600 metros a 7% até ao Estádio Olímpico. Uma chegada similar à prova belga da Flèche Wallonne, que ocorre no Muro de Huy, e para corredores com perfis específicos como os favoritos do Tour, Tadej Pogacar, Remco Evenepoel ou Jonas Vingegaard, ou ciclistas explosivos como Mathieu van der Poel, Wout van Aert, António Morgado ou ainda Ruben Guerreiro.
"O primeiro camisola amarela será, sem dúvida, um candidato à vitória geral", assumiu Christian Prudhomme, mas Thierry Gouvenou não quer acreditar que só haja um camisola amarela durante toda a prova: "Ainda haverá muitos dias pela frente para qualquer atleta inverter a situação".
A Catalunha vai acolher a partida da terceira etapa, na cidade de Granollers, sem chegada anunciada por enquanto. Um sonho realizado para a cidade de Barcelona, mas também para os espanhóis que recebem uma segunda partida, após a de em Bilbau, uma honra segundo o penta campeão da Volta a França, Miguel Induráin: "Barcelona é uma grande cidade, uma grande montra para o Tour. Um dos maiores eventos desportivos do mundo, juntando-se com uma cidade com Barcelona, só pode ser uma colaboração interessante. Em Espanha há muita paixão pelo ciclismo, especialmente no País Basco, no norte da Espanha e na Catalunha. Costumávamos disputar a Volta a Catalunha, a Semana Catalã, ou ainda a subida de Montjuïc. O Tour percebeu essa paixão e como juntar todos esses apaixonados".
Para Miguel Induráin, a Volta a França mudou-lhe a vida: "É a melhor prova do mundo, que consegui vencer, especialmente a primeira em 1991. Já passaram muitos anos, já lá vão quase 35 anos. Mas ainda faz parte da minha vida. Ganhei o Giro, ganhei campeonatos do mundo, provas importantes como o Paris-Nice, mas o melhor foi o Tour. Foi o mais importante da minha carreira".
Na noite de lançamento da partida do Tour, em Barcelona, houve tempo para falar da relação entre Miguel Induráin e Portugal: "Já tive parceiros portugueses, como Orlando Rodrigues, e também já corri na Volta ao Alentejo (ndr: vencedor em 1996 na única participação). Fiz algumas corridas em Portugal. Não muitas. Também saí de Portugal na Volta da Comunidade Económica Europeia (ndr: partida em 1986 da cidade do Porto). A partir daí tenho tido algumas relações com Portugal, mas antes o ciclismo português era um pouco fechado. Estava um pouco fechado. Pouco a pouco, está a abrir-se. Mas é preciso entender que o ciclismo a nível mundial é muito caro, mesmo muito caro. Em Espanha, temos apenas uma equipa no World Tour, a Movistar, mostra que não é fácil. Em Portugal, pouco a pouco, estão a fazer muitas boas corridas. A Volta a Portugal está a um bom nível. Isto sem esquecer que Portugal também tem muitos bons ciclistas".
Miguel Induráin foi a figura desta apresentação, sendo o ciclista espanhol com o maior número de triunfos no Tour, cinco, sendo recordista com os franceses Jacques Anquetil e Bernard Hinault, e o belga Eddy Merckx. Carlos Sastre, vencedor do Tour em 2008, e Roberto Heras, tetra vencedor da Vuelta, também estiveram presentes em palco com o Presidente da Câmara Municipal de Barcelona, Jaume Collboni Cuadrado que levou a cabo um projecto iniciado em 2009 com os primeiros contactos entre a cidade catalã e a empresa organizadora do Tour, a ASO - Amaury Sport Organisation.