
Uma hora de absoluto domínio quase não chegava para o Benfica vencer em Vila do Conde, onde mora uma equipa que perde muitos poucos pontos em casa e percebeu-se porquê. A ressurreição do Rio Ave depois de estar a perder (então com toda a naturalidade) por 0-2 roçou o fantástico, e só não resultou em pontos porque do banco encarnado saíram soluções suficientes para a equipa de Bruno Lage manter a perseguição ao Sporting, até ver com condições de igualar pontualmente o campeão nacional e atual líder da Liga.
A primeira hora de jogo, já percebemos, foi toda ela pintada de vermelho. O Benfica entrou autoritário, chegou-se à frente, deixou a baliza a salvo de sobressaltos (à exceção de uma aproximação do inevitavél Clayton, avançado que já merecia outros olhares), e começou desde cedo a construir a desejada vitória. Rondou pacientemente a área do Rio Ave, onde manda a voz ativa de um dos melhores guarda-redes que passou pelos relvados portugueses nos últimos anos, mas teria de ser uma bola telecomandada pelo melhor jogador em campo a debloquear o resultado. Lá de bem longe, aos 30 minutos, Kokçu viu a redondinha a saltar à medida do pé direito e aplicou-lhe um vólei de enorme categoria, mais em jeito que em força, deixando sem possibilidade de resposta Miszta, o tal guarda-redes superlativo.
O Benfica chegava com absoluta justiça à vantagem e foi mandando no jogo até ao intervalo, e depois do intervalo, altura em que Tomás Araújo (a tal gestão de lesão?) deu lugar a Leandro Barreiro e Aursnes passou para lateral-direito, posição que bem conhece, como aliás conhece quase todas as que há para desempenhar dentro de campo.
Pouco depois do reinício Pavlidis foi carregado dentro da área vilacondense e encarregou-se ele próprio de aumentar para 2-0. O domínio encarnado continuava vivo e pouco faria prever o que se passaria a partir da hora de jogo. Acontece que o futebol tem os seus sortilégios e a estafada frase de «2-0 é um resultado perigoso» tem a sua razão de ser, embora obviamente seja sempre mais perigoso para quem está a perder do que para quem está a ganhar.
Aos 64 minutos, numa altura em que o Rio Ave se ia finalmente soltando um pouco mais para o meio-campo encarnado, Aguilera apanhou uma bola parada perto da área do Benfica, por falta de Florentino sobre Clayton. Afinou mais ou menos a mira, contou com um desvio em Pavlidis e reduziu a desvantagem.
Bruno Lage reagiu rapidamente à possível perda de controlo do jogo e operou três substituições de uma assentada, colocando a equipa a defender com duas linhas de quatro e deixando o ataque entregue a Belotti e Akturkoglu. Com o que o treinador do Benfica não contava era com a perda de controlo da bola de Florentino em frente à área, aos 75 minutos, que permitiu ao endiabrado Clayton roubar-lha e fazer o 2-2.
O Rio Ave crescia então ainda mais, a conquista de um ou mesmo três pontos animava finalmente a equipa de Petit. Estavam programados, por essa altura, 15 minutos de futebol entusiástico e aberto. De repente, aos 81 minutos, Belotti mostrou que sabe jogar muito bem de costas para a baliza. Reteve uma bola a meio-campo, contornou um adversário e serviu Aursnes, que vinha embalado lá pelo seu flanco direito. O norueguês viu Akturkoglu na área e deu-lhe o rebuçado. O turco contornou Miszta e marcou o segundo golo telecomandado da noite.
Poderá o Rio Ave ter saído frustrado dos Arcos, depois de ter sonhado? Sim — mas o Benfica fez tudo por estes pontos e só por acaso não obteve uma vitória fácil.