A entrevista concedida por Nuno Santos a Afonso Figueiredo no podcast Entrelinhas foi divulgada na íntegra esta segunda-feira. O esquerdino está a recuperar duma lesão no tendão rotuliano do joelho direito sofrida no final de outubro no encontro da primeira volta com o Famalicão, reiterou que não está ser fácil, aos 30 anos, o restabelecimento de mais uma mazela nos joelhos, mas garantiu que vai regressar «mais forte».

E apesar das previsões apontarem para a próxima época o regresso aos relvados, o jogador tem outra meta. «Sempre disse que, depois do segundo cruzado, se tivesse uma lesão grave deixava o futebol. A minha mãe sempre me diz que nem quer saber como correu. Só quer saber pela boca do meu pai que correu tudo bem. Porque é difícil, acredita. Venho para cá muitas vezes a pensar porque Deus me deu isto. A minha mulher diz sempre que Deus dá estas coisas a grandes guerreiros e que estava escrito. Sou meio maluco e acredito que ao voltar de lesão vou voltar ainda com uma força muito grande. Mas custa muito e sai do corpo. Há dias em que me acordo e deito a pensar nisto. Estou sempre a massacrar o Tiago, fisioterapeuta que está comigo. Não sinto dores, mas quando sentir que estou bem, vou massacrá-lo até ao doutor dizer que tenho alta médica e que a responsabilidade é minha. Vou forçar até esse patamar. Vou querer voltar este ano, que o Sporting esteja na final da Taça de Portugal e seja nessa altura que esteja para voltar», afirmou.

O Sporting está na liderança da Liga e nas meias-finais da Taça de Portugal, nas quais defrontará o Rio Ave. O camisola 11 está confiante de que os leões podem vencer as duas competições. «Acredito que este ano poderemos ainda sorrir. Temos campeonato e Taça de Portugal, onde acredito muito na equipa e podemos ganhar o campeonato e Taça. Digo com grande certeza. Acreditamos muito», asseverou.

Nuno Santos assegurou que nunca recorreu a psicólogos durante os períodos mais complicados da carreira, respeita quem o faz e revelou que a ajuda, por estes tempos, tem vindo especialmente da mulher, dos filhos e dos pais, que apesar de viverem no norte do país se deslocam com frequência a Lisboa.

O ala tem um feitio complicado dentro de campo fruto da «vontade de vencer» e por «conviver muito mal com a derrota», mas não se importa com os assobios que lhe são dirigidos nos jogos fora de Alvalade. «Isso dá-me força», juntou.

A relação com Pedro Gonçalves

Na longa conversa, Nuno Santos abordou também a relação especial que mantém com o companheiro de equipa Pedro Gonçalves. «Dentro do campo tem coisas parecidas comigo o Pote. Como jogamos no mesmo flanco, quando alguém pegava com ele, ia sempre por trás e ouvia o que estava a dizer, e a seguir picava eu. E aí já éramos dois contra um. O Pote é mais na calada, consegue ter mais calma para falar e atingir mais tranquilo; já eu fervo mais e fico mais impulsivo. Não tenho nenhum inimigo no futebol e quando faço isso é porque quero ganhar. Eu e o Pote não queremos o mal de ninguém. Tenho um episódio com o Pote, quando estava no Rio Ave e ele no Famalicão. Temos o mesmo empresário, nunca tínhamos pessoalmente estado juntos, mas já nos conhecíamos. Numa bola em que passo para fora, ele vira-se e diz ‘olha se quiseres depois ensino-te como é que falhas isso’. Fiquei chateado e depois, no final do jogo, mandou-me mensagem a pedir desculpa, a dizer que estava a brincar comigo. Ele tem mais esse lado do que eu. Consigo ser frontal no momento, porque não gosto de guardar nada», afirmou.

A alcunha de 'cavalinho'

Nuno Santos revelou, também, que Ruben Amorim lhe colocou a alcunha de cavalinho. «Era o mister Ruben Amorim que tinha essa alcunha para o Matheus Nunes e para mim. Nunca lhe perguntei. Chamava-me sempre cavalinho, mas quando queria dar dura chamava-me Nuno, sabia que ia para o banco ou que as coisas não tinham corrido muito bem. Já começava a pensar porque não gosto de ir para o banco. Sou um jogador ambicioso. Há jogadores que não se importam de ir para o banco, eu não. Se estou numa equipa de futebol, é para jogar sempre até ir ao limite. Quem diz que não azia nunca foi jogador de futebol. Se vir um jogador que se acomoda por não jogar, isso faz-me impressão. Não vou estar a ser hipócrita. O mister sabia isso e sabia lidar comigo. Já começava a vir à baila esse assunto e fico aziado porque quero jogar sempre e sei que tenho qualidade para jogar sempre. Sou uma pessoa ambiciosa, a minha vida é jogar à bola e já perdi muitos anos por lesões. Por isso, tenho 30 anos mas como perdi duas ou três épocas da carreira, é como se tivesse 26 ou 27. E quero é jogar», sublinhou.