*com Rodrigo Costa
Durante esta semana, o zerozero deu a conhecer a lista dos melhores marcadores de 2024/25 em Portugal no escalão sénior. Nesta lista de dez atletas, o primeiro nome não foi uma novidade. Sueco, veste de verde e branco, goleador....Só poderia ser Gyökeres. No entanto, o facto de o segundo classificado ter apenas menos dois golos do que o jogador do Sporting- com bem menos jogos disputados-, deixou-nos surpreendidos. Perante este cenário, nada melhor do que 'viajar' até à 2ª divisão da AF Viana do Castelo, mais concretamente ao CRC Távora...
Importa notar que não foi só na nossa redação que a sensação de surpresa surgiu. Contactado pelo zerozero, Campinhos, nome de 'guerra' de Luís Campos, revelou de imediato que não estava a par deste registo- contabiliza 25 tentos em 19 encontros disputados.
Numa chamada telefónica num tom sempre animado, o jogador mostrou-se contente com o feito, mas não pôde evitar confessar: «Isto dava-me jeito era quando era miúdo [risos]. Agora mais velho não é propriamente um objetivo marcar muitos golos. Vai acontecendo derivado aos jogos e também à equipa, mas fico bastante contente e surpreendido.»
«Ia pôr fim à minha carreira, mas...»
Tão perto e tão longe de Gyökeres, o atacante, de 32 anos, está a sobressair nesta época. Ainda assim, o registo goleador vem do passado.
Há duas épocas, em 2022/23, Campinhos fez a (ainda) sua melhor época, apontando 26 golos em 39 partidas ao serviço do Atlético dos Arcos. Atualmente, com menos 20 jogos, está apenas a um tiro certeiro de igualar o seu recorde pessoal e a dois de batê-lo.
Questionado sobre este dado, Campinhos revelou um dado curioso. «O ano em que marquei todos esses golos era o ano em que ia pôr fim à minha carreira futebolística».
«Na temporada passada fiquei meia época sem jogar, mas depois surgiu um convite do Távora, uma equipa na qual que sou muito amigo do presidente e dos diretores. Eles estavam numa fase complicada da época e chegaram a trocar de treinador em quatro ocasiões, por isso ali alguma coisa estava a correr mal.»
Apesar de ter ido buscar as chuteiras para ajudar uma das equipas da zona de onde é natural , Arcos de Valdevez , os tavorenses acabaram mesmo por descer à segunda distrital - competição onde já não militavam desde 2019/20
Insatisfeito com a despromoção do clube, Luís respondeu ao repto que lhe foi lançado. «Disse ao presidente "Pronto, faço só mais um ano para vos ajudar"».
E a verdade é que a ajuda não poderia ser melhor, já que, atualmente, o Távora lidera a tabela classificativa da 2ª divisão distrital do distrito, numa disputa aguerrida pela subida.
Quem é Campinhos fora dos relvados?
Sendo jogador da distrital, Campos não vive unicamente do futebol, como é natural. «Trabalho na empresa da minha família onde sou comercial de café», explicou, acrescentando entre risos: «E ao fim de semana marco golos».
Apesar do incrível registo que apresenta em 2024/25, Campinhos não encontra propriamente uma explicação para a veia goleadora: «Todos os avançados temos épocas boas e outras menos positivas, mas quando são boas, parece que a bola toca em nós e entra logo. Na pré-época, os meus colegas de equipa diziam "Este ano vais marcar para aí 50 golos" e eu só respondia "Vocês estão tolos? Isso é impossível"», contou Campinhos.
Agora que já atingiu metade do 'objetivo' que era visto como impossível, Luís explicou-nos que, mesmo estando focado em ajudar a equipa, também tem metas pessoais: «Nunca fui de ter objetivos, mas agora quero marcar pelo menos um golo por jogo. Se não marcar, já sei que no próximo vou ter de marcar dois [risos].»
O futebol no seu estado mais puro
A reta final da entrevista fez-se com Campinhos a contar-nos um pouco mais sobre o seu percurso. Desde o nascimento da filha na época em que se ia retirar até à saída do Vilaverdense, que em 2018/19 disputava o Campeonato de Portugal, para ajudar um outro clube da região, o Atlético dos Arcos.
Já que se fala em mais uma equipa arcuense, há um detalhe que se destaca no percurso do jogador. Em rara ocasião saiu da 'terra onde nasceu', apesar de carregar um vasto histórico de clubes numa extensa carreira futebolística.
Apesar do «sonho» inicial, a mentalidade acabou por mudar: «Cheguei a um ponto em que entendi que não dava mais para chegar a esse objetivo. Acabei por ficar neste meio porque foi sempre onde juntei amigos, conhecidos e, ao mesmo tempo, podia ajudar os clubes.»
«Quem me conhece sabe que eu não sou um adepto ferrenho do futebol. É raro ver um jogo. Sou sportinguista, mas diria que já não vejo um jogo desde o Europeu. Não ligo ao futebol como é habitual na malta com quem jogo», disse Campinhos, surpreendendo-nos mais uma vez e reforçando que a sua ligação à modalidade baseia-se nas amizades que mencionou.
Em tom de despedida, o 8 do Távora vincou o desejo de terminar em beleza: «Aproveito para dizer que este será o meu último ano porque já não dá para mais. Os meus joelhos já não deixam.»
Uma coisa é certa, até maio há ainda muitos golos para serem celebrados...