Os ingredientes que nos anos 1970 e 80 fizeram do Rali de Portugal o melhor do rali do mundo continuam a ser reconhecidos, na atualidade, pelo segundo piloto mais titulado de sempre. «É um rali com uma atmosfera única e muitos adeptos», afirma Sébastien Ogier, um dos quatro campeões mundiais que participam, a partir desta quinta-feira, na 58.ª edição da prova organizada pelo Automóvel Club de Portugal (ACP), integrando a melhor lista de inscritos do ano do Campeonato do Mundo de Ralis (WRC), com 12 carros da categoria principal, Rally1, a que se acrescentam 55 da classe secundária WRC2, entre um total de 95 participantes.

Ogier pretenderá repetir a vitória de 2024, a sexta em Portugal, que permitiu ao piloto francês tornar-se recordista do rali português, superando um dos ícones da prova e da história do Mundial de Ralis, o finlandês Markku Alen.

Outro dos campeões nesta edição da prova lusa, o estónio Ott Tanak, reforça opinião do francês octacampeão. «O Rali de Portugal é um grande evento em muitos aspetos. Tem excelentes estradas, muita história e o ambiente que se vive é fantástico. É tudo o que se pode pedir num rali».

Na competição, quinta ronda do WRC, que arranca ao final da tarde desta quinta-feira (19h05) com Superespecial urbana na Figueira da Foz, a única em toda a prova em piso asfaltado, reúnem-se ainda os dois últimos campeões mundiais. O mais recente (2024), o belga Thierry Neuville, enfrentará com o companheiros de equipa na Hyundai, Ott Tanak e o francês Adrien Fourmaux, o quarteto da Toyota ainda invencível esta temporada.

Talvez por isso, Neuville, que garantiu em Portugal a conquista do título o ano passado, prefira abordar a prova com moderado otimismo: «As estradas muito abrasivas podem causar maior desgaste dos pneus, se formos demasiado exigentes», refere o piloto do Hyundai i20 N Rally1. Ott Tanak reforça as cautelas da equipa sul-coreana: «Não há dúvida de que o rali será difícil, tem dias muito longos e condições duras na segunda etapa». Ideia também partilhada pelo terceiro piloto da Hyundai, Adrien Fourmaux: «É um grande desafio. Há sempre calor e a gestão dos pneus é uma tarefa complicada».

As cautelas do trio Hyundai justificam-se. Na liderança do campeonato está a rival nipónica Toyota, com o britânico Elfyn Evans no comando do campeonato, após dois triunfos, na Suécia e no Quénia.

«Depois de um bom início de temporada, entramos agora numa sequência de eventos em terra onde, como líder do campeonato, posso sentir mais dificuldades por ter de abrir a estrada, se o piso estiver muito seco no primeiro dia [quinta-feira], antevê o galês, que tem 43 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, o companheiro de equipa Kalle Rovanpera, o quarto campeão do mundo este ano nos troços da prova portuguesa.

O finlandês, de 24 anos, está novamente a disputar o Mundial a tempo inteiro depois da pausa em 2024, que se seguiu à conquista do bicampeonato, e vem de uma vitória no Rali das Canárias, há duas semanas, em que somou a pontuação máxima e cedeu apenas duas das 18 classificativas.

«Soube bem vencer novamente após algum tempo. Agora estamos de volta aos pisos de terra e ainda estou a tentar sentir-me tão confortável como no asfalto. O estilo de troços em Portugal é bastante bom. Sempre gostei deles e espero voltar a ser rápido este ano», referiu Rovanpera, que espera fazer melhor do que no rali de 2024, quando desistiu após capotamento do Toyota GR Yaris.

«Foi bom finalmente conseguir a sexta vitória no ano passado e seria fantástico repetir esse resultado», comentou Sébastien Ogier, terceiro piloto da armada da Toyota, que se completa com japonês Takamoto Katsuta, que não poderá pontuar para o campeonato de construtores.

A M-Sport Ford reforça a sua presença nesta ronda do mundial também com quatro Puma Rally1. Aos pilotos habituais Grégoire Munster e Josh McErlean, juntam-se o letão Martins Sesks e o português Diogo Salvi, que se estreia na categoria principal aos 55 anos de idade. A equipa do construtor norte-americano pretende lutar pelos primeiros lugares com a confiança redobrada depois dos testes antes da prova. «A equipa já mostrou que o carro pode ser competitivo aqui, por isso vamos lutar por um bom resultado», admite o luxemburguês Grégoire Munster.

O WRC2 está mais competitivo do que nunca. Em Portugal, a competição inclui 55 carros e pilotos como Oliver Solberg (Toyota GR Yaris), Gus Greensmith (Skoda Fabia RS), Kajetan Kajetanowicz (Toyota GR Yaris), Nikolay Gryazin (Skoda Fabia RS), Jan Solans (Toyota GR Yaris) e os irmãos Yohan e Léo Rossel (Citroën C3) entre os candidatos à vitória.

O destaque vai, também, para a presença de dois pilotos bem conhecidos do WRC, Kris Meeke (Toyota GR Yaris) e Dani Sordo (Hyundai i20 N), que competem em Rally2 no Campeonato de Portugal de Ralis (CPR). Nesta categoria concentram-se os principais pilotos nacionais, com Armindo Araújo, Ricardo Teodósio, José Pedro Fontes, Pedro Meireles, Pedro Almeida e Gonçalo Henriques a liderarem o favoritismo ao sempre apetecível título de melhor português.

O norte-irlandês Kris Meeke venceu as três provas do CPR já disputadas, em Fafe, Algarve e Amarante, liderando com 81 pontos, mais 15 do que o espanhol Dani Sordo. Armindo Araújo (Skoda Fabia) surge na terceira posição, com 53 pontos.

Além de somarem pontos cruciais para o CPR, que termina no final do segundo dia do Rali de Portugal (sexta-feira), os pilotos daquela prova nacional terão rara oportunidade de competir com os melhores do mundo.