Catarina Isabel Ferreira Campos.

Eis um nome que ficará para sempre na história do futebol português.

Depois de se ter tornado a primeira mulher a dirigir um jogo profissional masculino em Portugal no passado dia 15 de fevereiro, no caso num embate entre Paços de Ferreira e Feirense, a árbitra prepara-se agora para escrever um capítulo ainda mais impactante não só na sua carreira, mas também na arbitragem portuguesa e no futebol luso.

Isto porque, no próximo sábado, Catarina Campos terá a missão de arbitrar o Casa Pia-Rio Ave, jogo referente à 27ª jornada da Liga Portugal Betclic. Exatamente: pela primeira vez na história, uma mulher irá ter o apito na mão num encontro do principal escalão do futebol português.

«Primeiro fui jogadora para poder ser melhor árbitra»

Se todas as histórias têm um início, a de Catarina Campos começou em Viseu. Natural desta cidade do centro do país, a árbitra revelou, numa recente entrevista concedida à Liga Portugal, que se encantou pelo mundo da bola desde tenra idade.

Catarina Campos em ação @FPF

«Sempre tive uma grande paixão pelo futebol, desde jovem que gostei muito do futebol de rua e de jogar com os vizinhos. Iniciei a minha carreira como jogadora em Viseu, de onde sou natural, numa equipa do Campeonato Nacional Feminino. Depois de alguns anos, e após ter terminado a Universidade [licenciou-se em Comunicação Social], decidi vir para Lisboa à procura de novas oportunidades de trabalho e de uma qualidade de vida melhor. Aí decidi deixar de jogar futebol e, como sempre quis ser mais conhecedora das leis de jogo, decidi entrar no curso de arbitragem- na altura já tinha 23 anos. Costumo dizer que primeiro fui jogador para poder ser melhor árbitra», começou por explicar Catarina Campos.

A partir daqui, a palavra 'sucesso' tem estado presente na caminhada traçada pela juíza.

Árbitra internacional desde 2018, Catarina Campos integra a categoria de elite da UEFA há cerca de um ano e meio. Para além disso, foi uma das árbitras a receber recentemente as insígnias FIFA para 2025.

Pois bem, perante estes dados, não é de estranhar que esta assistente operacional educativa com vínculo à Câmara Municipal de Lisboa apite jogos com a dimensão do Chelsea-Manchester City, a contar para a Liga dos Campeões feminina, que apitará nesta quinta-feira.

«Estreia foi o reconhecimento de uma classe feminina»

É inegável que Catarina Campos já deixou marca no futebol luso. Apesar disso, o discurso da árbitra é pautado por um equilíbrio assinalável, tal como se comprova quando revive o momento em que se tornou a primeira mulher a apitar nos campeonatos profissionais.

«Foi um momento especial. São momentos pelos quais trabalhamos e que já era um objetivo há algum tempo. O ambiente estava fantástico, com um estádio bastante composto. Para mim foi um reconhecimento de uma classe feminina que está preparada para enfrentar novos desafios», frisou, também na entrevista à Liga Portugal.

Pré-selecionada para o Campeonato da Europa deste ano, que decorrerá na Suíça, Catarina Campos assumiu que sentiu a «responsabilidade» de representar as colegas dentro de campo no Paços de Ferreira-Feirense: «Pressão extra por ser mulher? Diria uma responsabilidade especial, talvez pela questão de sentir que era o primeiro passo desta classe. Estou muito orgulhosa e muito feliz por poder ter sido a primeira, mas poderia ter estado outra colega que certamente faria um bom trabalho também.»

Há pouco mais de um mês, a juíza expressava o desejo de que a sua nomeação para o embate da Liga Portugal 2 Meu Super fosse o «primeiro passo para a normalidade». Agora, a estreia na Primeira Liga acontece dentro de dias...

Na pegada de outros nomes importantes

Ainda que Catarina Campos esteja a dar cartas atualmente, várias outras árbitras foram alcançando feitos de relevo no passado.

Recuando até 2006, mais concretamente até ao dia 17 de setembro, Ana Raquel Brochado cravou o seu nome na história do desporto nacional quando se tornou a primeira mulher a arbitrar um jogo das competições nacionais de seniores masculinos. Na altura, a juíz dirigiu o Bombarralense-Monsato, a contar para a 3ª divisão.

Stéphanie Frappart esteve num jogo do SC Braga em 2022/23 @Kapta+

Mais tarde, Sandra Bastos, que ainda está no ativo e que, inclusive, irá marcar presença no Benfica B-Académico de Viseu, da 2ª Liga, tornou-se a primeira árbitra portuguesa nomeada para um Mundial de futebol feminino, no caso em 2019.

Olhando para o panorama internacional, Stephanie Frappart é, porventura, o nome mais mediático. Além de ter sido a primeira mulher a dirigir jogos da Liga Francesa (2019), dirigiu a Supertaça Europeia entre Chelsea e Liverpool (2019), foi a pioneira da arbitragem feminina na Liga dos Campeões masculina (2020, jogo entre Juventus e Dínamo de Kiev) e também se consagrou com a primeira mulher a apitar um jogo de um Campeonato do Mundo masculino (2022, Costa Rica-Alemanha).