![Pinto da Costa, o homem que dedicou mais de 40 anos ao FC Porto](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa nasceu em Cedofeita, no Porto, na manhã de 28 de dezembro de 1937, fruto do casamento de Maria Elisa Bessa Lima Amorim e de Alexandrino Pinto da Costa. A mãe descendia de uma família rica, o avô, Honório de Lima, foi um abastado empresário, e o pai era comerciante. O casal acabaria por se separar ainda o filho era uma criança.
Na infância, depois da escola primária e das aulas privadas de inglês e de francês, estudou no Colégio Jesuíta das Caldinhas, em Santo Tirso, mas não se adaptou. Acabou por voltar a estudar no Porto mas, apesar dos esforços da mãe, abandonou a escola depois de terminar o sétimo ano do liceu.
Influenciado pelo tio Armando Pinto, antigo presidente do FC Famalicão, começou desde cedo a interessar-se pelo futebol. Aos oito anos, foi pela primeira vez ao estádio ver um FC Porto x Sporting de Braga, no antigo Campo da Constituição.
Paixão à primeira vista
O FC Porto foi paixão à primeira vista. Aos 16 anos, em dezembro de 1953, a avó materna inscreve-o como sócio do clube. Por essa altura passava as férias de verão em Leça, com a família.
Ainda jogou pelo Infesta e foi guarda-redes no Sporting Clube de Coimbrões, uma coletividade de Vila Nova de Gaia, mas sem grande sucesso. Nas redes sociais do Infesta há ainda uma referência à passagem de Pinto da Costa pelo clube.
Em alternativa aos relvados, trabalhou num banco, foi comercial e chefe de vendas até se estabelecer por conta própria. Mas o desporto parecia estar-lhe destinado. Em 1958, aceita ser vogal da secção de hóquei em patins do FC Porto.
Em 1964, casou-se com Manuela Carmona Graça e três anos depois nasceu o filho Alexandre Jorge Graça Pinto da Costa.
As responsabilidades dentro do clube aumentaram quando passou a ser o diretor responsável pelas modalidades amadoras, cargo que ocupou até 1971. Cinco anos depois acaba por regressar, quando Américo Sá o convence a fazer parte da sua direção, como responsável pelo departamento de futebol.
A dupla com José Maria Pedroto
Ainda antes das eleições, negociou com o treinador José Maria Pedroto o regresso ao clube, onde já tinha sido jogador e treinador. Pinto da Costa viria a ter que marcar uma assembleia-geral para revogar uma deliberação que proibia a entrada de Pedroto nas Antas.
Como diretor do futebol e com Pedroto a orientar a equipa, conseguiu quebrar um jejum de 19 anos sem vencer um campeonato nacional. Apesar do sucesso, Pinto da Costa e o seu treinador acabaram por deixar o clube.
A rivalidade com Lisboa e as declarações polémicas da dupla inseparável levaram à rutura com o presidente Américo de Sá. Em julho de 1980, foram suspensos. A maior parte do plantel, fiel a Pinto da Costa, recusou-se a treinar nas Antas.
“Mais uma vez fica provado que Américo de Sá queria entrar na Assembleia da República, como deputado do CDS, com a cabeça de Pinto da Costa debaixo do braço, mas, em vez disso, leva na testa o grande letreiro de traidor”, disse na altura José Maria Pedroto, sobre o afastamento de Pinto da Costa do Departamento de Futebol pelo Presidente.
Américo de Sá, dirigente do CDS e vice-presidente da Assembleia da República, era acusado de politizar o clube.
O regresso para a presidência
Em dezembro de 1981, o clube não estava a atravessar uma boa fase. Um grupo de sócios uniu-se com o intuito de convencer Pinto da Costa a candidatar-se à presidência. Apesar de um sim demorado, aceitou o desafio e convidou o amigo Pedroto para voltar a assumir o comando técnico da equipa principal.
Nas eleições de abril, em que a sua lista foi a única a sufrágio, Pinto da Costa tornou-se no 33.º presidente do FC Porto.
Dois anos depois da eleição, o FC Porto chegou pela primeira vez a uma final europeia. Em Basileia, na Suíça, os “dragões” perderam a Taça das Taças para a Juventus, por 2-1, mas Pinto da Costa prometeu um título europeu nos anos seguintes.
Os títulos europeus e o pentacampeonato
Em maio de 1987, o FC Porto sagrou-se campeão europeu ao vencer o Bayern de Munique, por 2-1, em Viena. Madjer marcou de calcanhar e levou o troféu para a cidade invicta. Em apenas cinco anos, Pinto da Costa juntou à Taça dos Campeões a Taça Intercontinental e a Supertaça Europeia.
Nesse ano, nasce Joana, a segunda filha de Pinto da Costa, fruto do casamento com Filomena Pinto da Costa, a ex-secretária com quem casaria duas vezes.
Ao longo do tempo tornou-se amigo de Ramalho Eanes e honrou Cavaco Silva com o Dragão de Ouro, que no jantar comemorativo da vitória do FC Porto na Taça dos Clubes Campeões Europeus elogiou a gestão do clube.
“O país devia ser gerido à imagem do FC Porto”.
Mas nem tudo corria bem com as contas dos clubes, que acumulavam dívidas à Segurança Social e ao Fisco, e, em 1994, as finanças penhoraram o Estádio das Antas e alguns anexos, entre os quais se incluíam balneários e a casa de banho dos árbitros. O episódio ficou conhecido como a penhora da retrete das Antas.
Pinto da Costa garantiu que não pagaria um tostão enquanto a penhora se mantivesse. Dois anos depois, é apresentado o Plano Mateus que permitia aos clubes pagar dívidas fiscais com receitas do Totobola.
Pinto da Costa foi presidente da Liga de Clubes em 1995. Fez amigos e inimigos nos clubes rivais, principalmente aqueles que não aceitavam a hegemonia portista, revelada no final dos anos 90 com a conquista do pentacampeonato e o FC Porto a ultrapassar o tetra conseguido pelo Sporting dos Cinco Violinos na década de 50.
Estádio novo afastou clube da autarquia
A chegada do novo século trouxe novos desafios ao FC Porto. A construção do novo estádio provocou o afastamento entre o clube e a Câmara Municipal do Porto. Com Rui Rio na presidência, Pinto da Costa teve que parar várias vezes a obra, mas a 16 de novembro de 2003 era inaugurada a nova morada do FC Porto, o Estádio do Dragão.
Com José Mourinho como treinador, o clube continuava a acumular títulos: em Sevilha os dragões conquistaram a Taça UEFA frente ao Celtic e no ano seguinte a Liga dos Campeões. A cereja no topo do bolo voltou a ser a Taça Intercontinental.
O processo “Apito Dourado”
O ano dourado dos dragões acabou com o presidente a ser ouvido, a 7 de dezembro, no Tribunal de Gondomar no âmbito do processo “Apito Dourado”.
Em 2008, Pinto da Costa viria a ser acusado de corrupção desportiva. Foi castigado com dois anos de suspensão e ao FC Porto foram retirados seis pontos no campeonato e aplicada uma multa de 150 mil euros. A decisão viria, no entanto, a ser anulada pelo Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol.
Em 2011, a presidência de Pinto da Costa voltou a uma final europeia. No mesmo ano e com Villas-Boas o FC Porto conquistou o campeonato sem derrotas, a Taça de Portugal e a final da Liga Europa, em Dublin, na Irlanda.
No ano seguinte, o líder portista foi submetido, a 4 de setembro, a uma cirurgia ao coração no Hospital São João. Em junho de 2017, entrou em cena Sérgio Conceição e levou o clube à conquista do campeonato. Pinto da Costa foi homenageado por Rui Moreira com a medalha de honra da cidade.
Em 7 de junho de 2020 foi reconduzido como presidente do FC Porto, com 68,65% dos votos, para o 15.º mandato.
Outra vez na mira do Ministério Público
No final de 2021, Pinto da Costa voltou a ser enredado pelas malhas da justiça, suspeito de usar a família para desviar dinheiro do FC Porto, usando alegadamente “o mesmo esquema de Luís Filipe Vieira no Benfica”.
À investida judicial e à alegada envolvência em comissões-fantasma, Pinto da Costa limitou-se a desafiar que lhe apresentassem “um documento comprovativo” de quem pagou ou recebeu as comissões ilegais.
“No dia em que me apresentarem, e não podem apresentar porque não existe, eu deixaria o FC Porto. Como isso não existe a não ser na cabeça de alguns, eu continuo no FC Porto”, disse o dirigente.
Sérgio Conceição deixa Pinto da Costa emocionado
O FC Porto conquistou o campeonato em 2022 e a Taça de Portugal três épocas seguidas. É também nesta altura que a equipa liderada por Sérgio Conceição conquista a Taça da Liga, feito inédito na história do clube.
A 14 de maio, o FC Porto fechou o campeonato com um recorde de 91 pontos, mais três do que o anterior máximo. Os adeptos portistas não arredaram pé do recinto após o jogo, esperando quase uma hora pela cerimónia de entrega do troféu.
No desfile até ao palco montado no relvado, Sérgio Conceição colocou ao peito de Pinto da Costa uma das medalhas de campeão, num gesto que deixou o dirigente emocionado.
A época 2023-24 foi dramática para as finanças do clube. O FC Porto é obrigado a vender os principais ativos para fugir ao castigo da UEFA. O afastamento dos lugares de acesso à Liga dos Campeões piorou a situação financeira do clube.
O fim de uma era e o último troféu
Em 2024, nos corredores do Dragão, o nome de André Villas-Boas ganha força para fazer braço de ferro com Pinto da Costa e foi o que aconteceu com a apresentação da candidatura à presidência.
Em resposta, Pinto da Costa avança mais uma vez para a corrida, desta vez contra o homem que contratou em 2010 para assumir o comando técnico da equipa de futebol.
Jorge Nuno Pinto da Costa oficializou a recandidatura à presidência do FC Porto, numa cerimónia no Coliseu do Porto. No fim de um discurso pautado por muitos aplausos e cânticos da plateia, chegou um abraço especial.
Sérgio Conceição dirigiu-se ao presidente para um abraço sentido. Pinto da Costa, que já tinha terminado o discurso emocionado, acabou em lágrimas.
A pouco menos de um mês para as eleições, Pinto da Costa deu uma entrevista na SIC e SIC Notícias, em que abordou as aspirações dos dragões do que restava da temporada, o ato eleitoral, o “rival” André Villas-Boas e ainda a relação com Fernando Madureira.
Nas eleições de 27 de abril, as mais participativas do FC Porto, entre a continuidade e a mudança, os sócios optaram por uma revolução dentro do clube. Com 80,28% dos votos, Villas-Boas regressou à sua cadeira de sonho, numa vitória esmagadora que quebrou o reinado de Pinto da Costa à frente do FC Porto.
Na véspera de entregar a SAD do clube ao novo presidente, Pinto da Costa e Sérgio Conceição levantam a Taça de Portugal. O último troféu de futebol como dirigente, depois de 42 anos na presidência.
“Azul até ao fim”
A última manifestação pública do ex-presidente foi a apresentação do livro “Azul até ao fim”. À chegada ao Centro de Congressos da Alfândega do Porto, vários adeptos do FC Porto entoaram cânticos de apoio ao histórico presidente.
O livro tornou-se polémico logo que foi conhecida a capa em que o ex-líder portista aparece apoiado num caixão, que está coberto pela bandeira do FC Porto.
Para além disso, alguns excertos dividiram opiniões. É o caso da lista de pessoas que o ex-presidente não quer no próprio funeral.
Pinto da Costa confirmou estar doente, com cancro, e selecionou uma série de personalidades que não queria ter no seu funeral. Entre muitas está a atual direção de André Villas-Boas.
Pinto da Costa deixa quatro livros publicados, “Largos Dias Têm 100 anos”, de 2004 com prefácio de Lennart Johansson, antigo presidente da UEFA, “31 Anos de Presidência, 31 Decisões”, de 2013, com preâmbulo de Ramalho Eanes e Manuel Tavares, ex-diretor do JN.
“Até ao Mar Azul”, uma coletânea de textos publicados na Revista Dragões, foi lançada em 2018 para assinalar os 125 anos do FC Porto, e tem prefácio do juiz conselheiro jubilado José Manuel Matos Fernandes, ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral do FC Porto.
Desde a saída da liderança do FC Porto, a saúde de Jorge Nuno Pinto da Costa agravou-se rapidamente. Morreu hoje, aos 87 anos.