Fez-se história na Taça de Inglaterra! O Liverpool, líder da Premier League, foi eliminado pelo Plymouth Argyle, último classificado do Championship. O apito final do encontro, decidido com um golo de Ryan Hardie de penálti, deu lugar à euforia de um clube com quase 140 anos que tem nesta vitória frente ao Liverpool o maior feito da história.

Um clube centenário que nunca chegou à primeira divisão

Fundado em 1886, o Plymouth Argyle — na altura, Argyle Football Club — é o 43.º clube mais antigo de Inglaterra. Em 1903, tornou-se profissional e, em 1920, juntou-se à Football League, que tutelava, então, as competições profissionais de clubes. Por mais que a história do Argyle seja centenária, o clube nunca alcançou o principal escalão inglês. Já conquistou três títulos de terceira divisão, um de quarta mas nunca mais que isso. Na Taça, a equipa, que foi treinada por Malcolm Alisson nos anos 70 — ele que, em 1981/82, foi campeão pelo Sporting, que estaria 18 anos sem conquistar o título —, alcançou as meias-finais em 1984/85, mas acabou por perder por 0-1 com o Watford.

A história recente do Plymouth Argyle é tudo menos feliz. Em 2011, a equipa entrou em falência e desceu para a quarta divisão, de onde só saiu em 2017 e para onde voltou, por uma temporada, em 2019. Está na segunda época consecutiva no Championship mas as coisas não têm vindo a correr nada bem.

Do inferno da Guerra ao apogeu do futebol: a história de Miron Muslic

A carreira de Wayne Rooney enquanto jogador é inquestionável. Mas como treinador, já não é bem assim. Foi demitido de Derby County, DC United, Birmingham e, ao fim de 25 encontros, do Plymouth Argyle. A equipa estava em último do Championship, com 13 derrotas em 23 jogos, quando o inglês deu lugar a Miron Muslic.

A história de Muslic é dramática. Aos 10 anos, fugiu da cidade de Bihac, que, durante a guerra da Bósnia, foi alvo de um cerco de cerca de três anos. Tornou-se refugiado na Áustria, onde passou toda a carreira de jogador, com exceção de uma época em que jogou na Croácia. Depois de treinar o SV Ried, liderou o Cercle Brugge, da Bélgica, antes de rumar ao Plymouth Argyle.

«Já passei por situações muito mais desafiantes na minha vida do que enfrentar um possível empate ou derrota no fim de semana. Tivemos de deixar Bihac literalmente da noite para o dia. Lutámos a vida toda e essa luta faz parte da minha jornada, por isso é que sou muito otimista. Tudo o que me aconteceu nos últimos 30 anos ajudaram-me a ser quem sou hoje. A mensagem que passo aos jogadores é que a vida é uma série de belas surpresas e há sempre algo por que vale a pena lutar», explicou, em entrevista à BBC.

Já passei por situações muito mais desafiantes na minha vida do que enfrentar um possível empate ou derrota no fim de semana.

Uma questão de perspetiva, portanto, que também pode ser aplicada ao Plymouth Argyle. Mais de 400 anos depois da saída do Mayflower para levar os primeiros ingleses à América, a cidade de Plymouth volta a ver os seus Peregrinos a desbravar um Novo Mundo.