
Começa a ser complicado digerir a velha ladainha da perseguição, semana após semana, época após época.
Desculpem-me, mas... haja paciência.
Desta vez, o tema quente são os foras de jogo, os centímetros, as linhas, as câmaras e sei lá mais o quê.
Meus amigos, com todo o respeito... mas o que é que ainda não perceberam? Que parte falta explicar? Já pensaram há quantos anos andamos nisto, de cada vez que "um grande" marca (ou sofre) golos por margens mínimas?
Têm noção da quantidade de vezes que este assunto serviu para achincalhar árbitros e vídeo árbitros, por alegadamente protegerem uns em detrimento de outros? É caso para dizer... caramba! Já chega, não?
Se é a polémica que dá "vitalidade" à forma como veem futebol, centrem a questão em zonas cinzentas que oferecem subjetividade, como as intensidades das cargas, a bola na mão, as entradas perigosas. Mas em matéria de fora de jogo, por favor, deixem de lado essa parcialidade sentimental ou, pior, essa hipocrisia estratégica (depende de quem parte).
Vamos por partes:
- Está em fora de jogo o atacante que, no momento do passe do colega de equipa, estiver mais perto da linha de baliza adversária do que o penúltimo adversário. E se tomar parte ativa na jogada (por exemplo, tocando na bola ou interferindo na ação dos defesas), tem que ser punido.
Em teoria, é fácil, está escrito, é objetivo.
Ora "estar à frente" significa "estar à frente", independentemente da margem em que isso aconteça. Certo? O raciocínio é o mesmo que se faz, por exemplo, em relação à bola que ultrapassa a "linha de golo": se entrou por um milímetro, é golo, se não entrou por um milímetro, não é golo!
Alguém contesta isso?
A verdade (pura e dura) é que todas as equipas já foram "prejudicadas" e "beneficiadas" por esse rigor, o da régua e esquadro! Todas!! Todas já marcaram e sofreram golos em lances de dois, um e a até zero centímetros. Sim, zero!! Portanto... para quê a hipocrisia?
A questão que todos deviam discutir, para bem do futebol (e não do umbigo), é outra:
- A alteração à lei, para que o conceito teórico possa ser mais justo em relação à dinâmica e velocidade com que os jogadores se movimentam em campo (a proposta de Arséne Wenger tem pernas para andar já na próxima época). Isso sim, importa e pode ajudar a anular subjetividades.
E, já agora, também tem que ser discutida a forma como estes lances são analisados. É que a tecnologia existente na maioria das ligas (na nossa também) coloca nas mãos da dupla VAR/AVAR um poder perigoso em função das ferramentas que dispõem. É que colocar pontos, a olho nu, no exato momento em que a bola é passada e na última parte do corpo de defesa e avançado é um exercício de doidos, demasiado falível em função dos meios existentes.
As imagens em sala não são topo de gama e, um milímetro para esquerda, dois para a direita, são suficientes para desvirtuar inadvertidamente uma análise. Acreditem quando vos digo... eles dispensam bem essa responsabilidade!
A alternativa atual é a tecnologia de fora de jogo semi-automático, já utilizada na UEFA. É cara e requer especificidade operacional nos estádios, mas resolve a questão da intervenção humana em relação ao adiantamento dos atacantes, fruto da tecnologia que utiliza.
O futebol quer evoluir? Quer decisões menos falíveis? Invista. Faça por isso. Não exija perfeição se oferece imperfeição.
Enquanto a lei não mudar e a tecnologia não for implementada, a questão manter-se-á exatamente igual, hoje a norte, amanhã a sul.
Compreendo que o folclore ajude a mascarar outras fragilidades, mas é tempo de pensar no que é melhor para o futebol.