Chegou ao fim a fase de grupos das competições europeias, que trouxe jogos de grande qualidade, muita emoção até à última jornada e um novo formato.

Este novo formato não foi inicialmente bem aceite pela generalidade dos clubes, mas tem demonstrado ser um autêntico sucesso e, na minha modesta opinião, é claramente um formato que irá perdurar no tempo.

É verdade que as equipas têm que disputar mais dois jogos de fase de grupos no caso da Liga dos Campeões e da Liga Europa, mas é igualmente certo dizer que este formato torna mais imprevisíveis os resultados.

As equipas de topo têm realmente que se exibir ao seu melhor nível desde a primeira jornada, sob pena de verem comprometido o seu apuramento direto para os oitavos de final (apuram-se as oito primeiras classificadas e as restantes 16 jogam um play-off de apuramento), e em alguns casos o seu próprio futuro na competição.

E se formos a ver, dois jogos não são assim uma adição tão significativa ao já exigente calendário desportivo das equipas de futebol, que cada vez se queixam mais da carga competitiva (nomeadamente da quantidade de jogos que os seus atletas têm que disputar pelas suas seleções), sendo que isso tem prejudicado bastante a qualidade do espetáculo desportivo.

Para as equipas, é igualmente vantajoso do ponto de vista económico, porque geram mais receitas e têm uma compensação financeira ainda maior do que no formato anterior. Todos ganham com este novo formato.

E sustento esta minha opinião no fato de que a generalidade dos jogadores prefere jogar essencialmente estes jogos das competições europeias, quase todos eles pautados por uma grande intensidade e exigência competitiva.

É a montra para muitos desses jogadores, uma forma de se mostrarem ao mundo do futebol e exibirem o seu potencial em todo o seu esplendor. Para os jogadores mais experientes, estes são os jogos que mais os fazem vibrar e aqueles que fazem com que os seus índices motivacionais estejam no seu auge.

No caso da Liga Conferência, mantém-se os 6 jogos da fase de grupos. O que altera, é o fato dos oito primeiros classificados se apurarem automaticamente para os oitavos-de final enquanto que os restantes dezasseis classificados têm que disputar um play-off de classificação para essa fase da competição.

Nesta primeira edição deste formato que irá trazer mais competitividade e interesse à terceira competição mais relevante da UEFA, um dos grandes destaques foi sem dúvida o Vitória de Guimarães, que ficou num extraordinário segundo lugar, só atrás do “tubarão” Chelsea, o grande favorito à conquista da Liga Conferência.

A equipa vimaranense conseguiu um impressionante registo de quatro vitórias e dois empates, sendo que um desses empates foi obtido contra um dos grandes candidatos à conquista desta prova: os italianos da Fiorentina.

Um trabalho incrível de Rui Borges, que igualmente devido a esse brilhante percurso na Liga Conferência, conseguiu obter um maior mediatismo e com isso ganhar a atenção do Sporting, que o contratou para ser o seu novo treinador, depois da traumática saída de Rúben Amorim e da experiência falhada de João Pereira.

Com apuramento garantido para os oitavos de final, o céu é o limite para a equipa portuguesa, mas é necessário baixar as expectativas pois tem perdido maior parte dos seus jogadores de referência nos últimos tempos, e pode pagar o preço disso mesmo na seguinte fase da competição. Mesmo que seja esse o caso, já é digna dos mais rasgados elogios a sua caminhada até aqui.

No caso da Liga Europa, tivemos dois representantes: o FC Porto e o Braga.

Sendo uma das equipas com presença habitual na Liga dos Campeões, a equipa portista partia como uma das grandes candidatas a ganhar este troféu.

Já vencedora do mesmo em 2011 e apesar de viver atualmente uma fase de transição (com André Villas-Boas como o novo presidente depois de suceder ao lendário Jorge Nuno Pinto da Costa) devido à grave crise financeira que atravessa neste momento.

O apuramento do FC Porto foi apenas conseguido na última jornada da competição, com uma vitória arrancada a ferros frente aos israelitas do Maccabi Tel Aviv. De 24 pontos possíveis, o FC Porto apenas conseguiu 11 (!), manifestamente pouco para uma equipa que tinha tantas ambições nesta prova.

Este foi o primeiro jogo da equipa ao comando do argentino Martin Anselmi (que veio substituir o muito contestado Vítor Bruno), o novo treinador da equipa portista, que terá um trabalho hercúleo pela frente para devolver o FC Porto à senda das vitórias e a ter uma participação europeia ao nível da reputação e dimensão da equipa nacional.

Na próxima fase da competição, defrontará os italianos da AS Roma ou os checos do Viktoria Plzen, e se ganhar esse play-off de apuramento, irá disputar uns oitavos-de-final bombásticos contra um dos dois emblemas mais fortes a disputar esta competição: os italianos da Lazio ou os espanhóis do Athletic (que estão extremamente motivados pois a final disputa-se seu estádio, em Bilbau).

Já o Braga teve uma das noites mais agri-doces da sua história. Precisando de ganhar aos italianos da Lazio (que vinham a fazer uma competição fantástica, estando em primeiro lugar) e dependendo de outros resultados para se classificarem, não conseguiram o tão desejado apuramento para o play-off por causa de um (!) golo.

Claro está que a participação da equipa bracarense ficou aquém das expectativas e que tinha qualidade suficiente no seu plantel para ter conseguido esse apuramento bem mais cedo. Os italianos da Lazio, apesar de terem vindo a jogar a Portugal numa clara gestão de esforço, são sempre uma equipa que impõe respeito e a equipa bracarense não conseguiu marcar o tal segundo golo que lhe iria permitir estar no sorteio da próxima fase.

10 (!) pontos em 24 possíveis, é igualmente uma prestação bastante fraca, e nem esta grande vitória frente à Lazio pode atenuar essa apreciação. Uma equipa que não consegue ganhar aos suecos do Elfsborg e aos belgas do Union Saint-Gilloise, não se pode queixar de não ter tido sorte. Esse apuramento não foi perdido contra a Lazio, foi principalmente perdido nesses dois jogos anteriormente mencionados.

Nesta fase de grupos da Liga Europa, o maior destaque tem que ir para a eliminação precoce dos turcos do Besiktas, que também contribuiu para a eliminação da equipa bracarense.

Uma derrota contra os holandeses do Twente afastou da competição a equipa dos internacionais portugueses Rafa Silva e João Mário, que vive uma fase de grande convulsão administrativa e desportiva com mudanças constantes de treinador e uma grande crise diretiva.

Na Liga Europa, os grandes candidatos confirmaram o seu favoritismo. Apesar de estarem a ter uma época desastrosa na Premier League, os ingleses do Manchester United (com o português Rúben Amorim ao leme) e do Tottenham têm recursos no seu plantel para poderem disputar a conquista deste troféu e dessa forma conseguirem o apuramento direto para a próxima edição da Liga dos Campeões.

A estes dois clubes, deveremos juntar os da Lazio e do Athletic, pois têm equipas extremamente competitivas e podem claramente marcar presença na final da prova. Teremos que esperar para ver o que o destino lhe reserva, mas se tivesse que apostar já num vencedor, diria que sairá de um destes dois clubes.

No caso da Liga dos Campeões, a emoção esteve igualmente ao rubro na última jornada da competição. Tal como na Liga Europa, os 18 jogos da última jornada foram disputados à mesma hora (o que é delicioso para qualquer adepto do futebol) e ainda havia muito por decidir.

Os ingleses do Manchester City partiam com a corda na garganta, dependendo apenas de si para se apurarem para o play-off, mas jogando com uma pressão enorme. Vencedores da competição há duas épocas, têm sofrido bastante com a ausência de Rodri (recém-ganhador da Bola de Ouro) e com o envelhecimento de alguns dos seus jogadores-chave do meio-campo: Gundogan, Bernardo Silva e Kevin de Bruyne.

A equipa fica muito exposta às transições ofensivas dos seus adversários e já não consegue controlar os jogos de uma maneira tão eficiente como anteriormente. Conseguiu salvar-se de uma eliminação vexatória e acabou por ganhar aos belgas do Club Brugge, mas tiveram que sofrer imenso, pois estavam a perder ao intervalo e, com isso, estavam eliminados da competição.

A equipa de Pep Guardiola teve que ir ao mercado agora em Janeiro (contratou os jovens promissores uzbeque Khusanov e o brasileiro Victor Reis e também o egípcio Marmoush) e estes jogadores podem claramente melhorar o seu rendimento.

Devido a esta campanha decepcionante, o destino ditou que irão defrontar na próxima fase os alemães do Bayern Munique ou os espanhóis do Real Madrid, mas jamais podem deixar de ser considerados um dos grandes candidatos à conquista do título.

Os franceses do PSG também tiveram que esperar pela última jornada para garantir o seu apuramento para o play-off. No caso dos comandados de Luis Enrique (com uma forte armada portuguesa), a sua qualificação foi brilhantemente garantida com uma grande exibição frente aos alemães do Estugarda.

Tendo feito uma primeira metade da fase de grupos absolutamente desastrosa, conseguiu duas vitórias de grande mérito frente aos ingleses do Manchester City (depois de estar a perder por 2-0 em Paris), e agora em solo alemão, eliminando o Estugarda, que até foi das equipas que melhor futebol apresentou mas que pecou de inexperiência e ingenuidade.

Sem Mbappé, mas com um espírito de equipa mais forte, tem no seu plantel jogadores que estão sedentos de demonstrar todo o seu valor, como são os casos dos portugueses Vitinha e João Neves e dos extremos endiabrados Barcola e Dembélé, que estão numa grande forma e podem causar miséria em qualquer defesa que defrontem.

Estivemos perto da eliminação de dois dos grandes candidatos ao título, mas felizmente que essa eliminação não se consumou para o bem do espetáculo desportivo e do futebol.

Os afastamentos precoces de PSG e Manchester City, seriam uma boa notícia para os seus rivais, mas enfraqueceria significativamente a competitividade da prova, e os adeptos de futebol neutros querem ver jogos de grande qualidade e exigência competitiva entre as melhores equipas do mundo.

Benfica e Sporting conseguiram apurar-se para o play-off na última jornada. Beneficiando da já falada vitória do PSG em Estugarda, a equipa encarnada fez uma exibição de grande personalidade e conseguir uma vitória de grande prestígio em Turim, frente aos italianos da Juventus.

E não era um jogo fácil não só pela qualidade do adversário, mas principalmente pela instabilidade desportiva que a equipa vive, fortemente agravada por um áudio polémico do treinador Bruno Lage, que num exercício de extrema sinceridade, decidiu falar mal da direção e dos seus jogadores em conversa com um grupo de adeptos.

Esse áudio foi publicado, e a crise instalou-se no seio da equipa encarnada. A resposta dos jogadores não poderia ter sido melhor e agora defrontarão no play-off os franceses do Monaco ou do Brest, sendo que o Benfica tem que ser considerado favorito em qualquer dos casos.

Um percurso mediano de 13 pontos em 24 possíveis, mas que foi suficiente para garantir o apuramento da equipa da Luz.

Já o Sporting teve um início de competição fulgurante (no qual devemos destacar a goleada de 4-1 imposta aos ingleses do Manchester City), mas com a saída de Rúben Amorim, a equipa perdeu completamente o rumo.

Nos últimos quatro jogos, apenas ganhou um ponto (perdendo inclusive com o já eliminado Leipzig), obtido de forma dramática na última jornada da competição com um empate frente aos italianos do Bolonha, que já estavam eliminados à partida para este jogo.

Uma exibição sofrível e que não deixa grandes esperanças para o jogo do play-off, cujo adversário será os alemães do Borussia Dortmund ou os italianos da Atalanta, duas equipas bastante permeáveis defensivamente mas que jogam um futebol de alta intensidade e com muita qualidade nos seus elementos ofensivos.

Não partem como favoritos nessa eliminatória, mas caso consigam recuperar Pote e Gyokeres esteja totalmente restabelecido da sua lesão, a equipa leonina tem argumentos para conseguir disputar esta eliminatória, e quem sabe, sonhar com o apuramento para os oitavos-de-final da prova.

Os crónicos candidatos Real Madrid, Bayern Munique, Liverpool e Barcelona, conseguiram igualmente a qualificação para a próxima fase, sendo que Liverpool e Barcelona ficaram em primeiro e segundo lugar respetivamente, garantido assim o apuramento direto para os oitavos-de-final da competição.

Já Real Madrid e Bayern Munique, terão que jogar um play-off de apuramento fruto de uma fase de grupos bastante irregular e abaixo das expectativas.

A cada um destes dois emblemas históricos do futebol mundial, poderá calhar em sorte os ingleses do Manchester City, que nunca é um adversário apetecível, ainda para mais numa fase tão embrionária da competição.

Com o aliciante extra da final ser disputada no seu estádio, o Bayern Munique certamente que tem o desejo ardente de marcar presença nessa final e lutar pela conquista da prova milionária, mas não será uma tarefa fácil.

Quem se apresentam como grandes candidatos neste momento são os ingleses do Liverpool e os espanhóis do Barcelona. Ambas equipas jogam um futebol ofensivo extremamente atractivo e são muitíssimo competitivas.

Contam com muitos dos jogadores em melhor forma no mundo (Van Dijk, Salah, Lamine, Raphinha, entre outros…) e os seus jogadores estão extremamente motivados e com sede de glória europeia.

Destaco igualmente o excelente percurso dos ingleses do Aston Villa (apurados diretamente para os oitavos-de-final da prova em mais um trabalho fantástico do espanhol Unai Emery), a grande fase de grupos dos franceses do Lille, dos italianos da Atalanta e dos alemães do Bayer Leverkusen, assim como o apuramento histórico dos franceses do Brest para o play-off da competição.

Os dados estão lançados para uma segunda fase da prova absolutamente imperdível e entusiasmante.

E neste momento, já ninguém fala do novo formato da prova. Como o grande poeta português Fernando Pessoa diz, “Primeiro estranha-se, depois estranha-se”.