
Todos sabemos a importância de ter um ponta de lança que marque golos, ainda mais evidente nos dias que correm em que cada vez é maior a tradição de improvisar alguém na posição central do ataque, e aí a Nigéria não se pode queixar. Tem-nos de todas as formas e feitios e para todos os gostos, sejam de área, de ataque ao espaço, de jogo de costas para a baliza, com mais ou menos técnica, com mais ou menos mobilidade e com mais ou menos força.
Da Nigéria surgiram avançados de grande qualidade desde que me recordo de ouvir falar de futebol ou de os ver jogar, nem que fosse nos Mundiais ou CANs.
No início da década de 90, apareceu Rashidi Yekini, já com 26 anos, transferido do Africa Sports para o Vitória FC no verão de 1990. Por lá, ficou quatro anos e marcou golos em catadupa, com 98 tentos em 126 jogos, equipado com a camisa listrada a verde e branco dos Sadinos. Depois de vencer a CAN em 1994, apontando cinco golos no mesmo número de partidas, ainda passou pela Grécia, Espanha, Suíça e Arábia Saudita antes de regressar a África, sem nunca obter o mesmo sucesso que naquele quadriénio. Faleceu a quatro de maio de 2012, mas nunca será esquecido pelos nigerianos, tendo sido o primeiro Super Águia a marcar num Mundial.
Victor Ikpeba não passou por Portugal e teve um auge menos duradouro, mas conquistou dez títulos, juntando a mesma CAN de 1994 com troféus em França -onde viveu o seu melhor período ao serviço do Mónaco -, Bélgica, Líbia e Catar, somando ainda a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996 com o prémio de melhor jogador africano do ano em 1997.
Emmanuel Amunike não teve uma quantidade tão assombrosa de golos como os anteriores, mas soma troféus e momentos-chave. Jogador africano do ano em 1994, quando apontou os dois golos decisivos na final da CAN frente à Zâmbia, tendo estado ausente, por lesão, de tudo o que se antecedeu do torneio. Também apontou o golo, ao minuto 90, que deu a vitória dos Jogos Olímpicos na final frente à Argentina de Hernán Crespo. Representou o Sporting por duas épocas e meia, apontando 21 golos em 80 partidas.
Nwankwo Kanu, embora tenha vencido o Mundial sub-17 de 1993 e ter estado presente na conquista dos Jogos Olímpicos de 1996, não conseguiu trazer mais felicidade a nível de seleção nacional. Apesar disso, na Europa, e mais especificamente em Inglaterra, conquistou tudo o que havia para conquistar. Fez parte dos invencíveis de Arsène Wenger de 2004, é o jogador mais titulado do país, ficou em 11º na Bola de Ouro de 1996 e é o recordista nigeriano de prémios como melhor jogador africano com dois (1996 e 1999).
Obafemi Martins foi o melhor avançado nigeriano da primeira década do segundo milénio com passagens bem-sucedidas por Inter e Newcastle, antes da globalização do futebol, que levou muitos jogadores nigerianospara destinos mais ímpares – com alguma facilidade dado o seu idioma nativo ser o inglês – como a Rússia. Obafemi Martins esteve no Rubin Kazan entre 2010 e 2012, mas logo seguiram-se Emmanuel Emenike no Spartak Moscovoe Ahmed Musa no CSKA, com perfis totalmente opostos, sendo Emenike uma força da natureza e Musa um agitador com uma velocidade absurda. Estes dois últimos fizeram parte da equipa que conquistou a CAN em 2013, com Emenike a fazer parte do melhor onze do torneio e estiverem presentes na belíssima campanha nos
Odion Ighalo chegou a Inglaterra em 2014 para ajudar a reerguer o Watford e fazê-lo regressar ao principal escalão do futebol inglês e assim o conseguiu, apontando 20 golos na primeira temporada e 18 na segunda, já na Premier League, sendo até o jogador do mês de dezembro em 2016. Passou pelo Manchester United, mas só conquistou títulos na China e na Arábia Saudita, ao serviço do Shanghai Shenhua e do Al-Hilal, respetivamente.
Atualmente, é seguro dizer que a Nigéria tem um leque de avançados que muitas potências mundiais sonham ter, com opções de presente e futuro em barda.
Kelechi Iheanacho não cumpriu o que prometeu quando apareceu no Mundial sub-17 em 2013, no qual a Nigéria venceu e ele foi o segundo melhor marcador do torneio com seis golos, ena equipa principal do Manchester City em 2015/2016, tendo tomado decisões questionáveis daí em diante, escondendo-se na sombra de Jamie Vardy no Leicester City por várias temporadas e transferindo-se para um Sevilha em decadência. Tem 28 anos e está no Middlesbrough. Taiwo Awoniyi também se exibou a bom nível nesse Mundial sub-17 e foi adquirido pelo Liverpool, embora nunca se tenha estreado pela equipa principal. Brilhou no Union Berlin que chegou à Liga Europa e transferiu-se para o regresso do Nottingham Forest ao principal escalão do futebol inglês, fazendo uma bela primeira temporada, com seis golos nas últimas quatro jornadas, preponderantes para a manutenção. Fustigado por lesões e vítima da aposta em Chris Wood, perdeu espaço.
Na Bélgica, e principalmente no Gent, é tradicional a aposta em avançados nigerianos de elevada estatura e desenvoltura física. Primeiramente, foi Paul Onuachu, com 201 centímetros, que apontou 85 golos em 134 jogos, valendo-lhe ingresso para a Premier League, seguindo-se Tolu Arokodare, de 197 centímetros, que já leva 34 golos em 90 partidas com a camisola dos De Smurfen e, veja-se, ainda não teve espaço na seleção nacional. Também no Gent se tem replicado a estratégia, com Gift Orban a chegar, marcar (32 golos em 52 jogos) e dar o salto qualitativo. Cyriel Dessers, formado no Leuven e com passagens por Lokeren e Genk, também é outro nigeriano com sucesso na Bélgica e que, aos 30 anos, vive uma grande fase com 42 golos em 95 encontros, ao longo de duas temporadas com a camisola do Rangers.
Outro avançado que já poderia estar numa fase mais maturada da carreira, não fossem as lesões, é Terem Moffi, que também passou pelo futebol belga, representando o Kortrijk, tendo, no Lorient e no Nice, apresentando o seu melhor futebol e marcado vários golos.
Umar Sadiq e Akor Adams são mais dois bons avançados da Nigéria que jogam na La Liga, no Valencia e Sevilha, respetivamente.
Apesar de todo o talento, o expoente máximo, mais conhecido pelo público em geral, está em Victor Osimhen, Victor Boniface e Ademola Lookman.
Tanto Osimhen, como Boniface tiveram as suas passagens pelo futebol belga, com o primeiro a representar o Charleroi na época 2018/2019 após ser poucas vezes aposta no Wolfsburgo, onde chegou depois da conquista do mundial sub-17 de 2015, onde apontou dez golos em sete partidas. Desde então, conquistou o Scudetto com o Napóles, foi oitavo na Bola de Ouro em 2023 (recorde do país) e está na Turquia, em banho-maria, à procura do salto qualitativo após cisão emocional com o clube italiano. O percurso de Boniface é mais alternativo, não tendo sido aposta nas seleções jovens e entrando na Europa pela porta do Bodo/Glimt, ganhando dois campeonatos, posteriormente transferiu-se para o Union St. Gilloise antes de rumar ao Bayer Leverkusen, onde se tornou o jogador que todos conhecemos, fazendo a dobradinha na Alemanha e sendo o melhor marcador da Liga Europa.
Embora Lookman não seja um ponta de lança, já por lá jogou. Apesar de representar a seleção das Super Águias a nível sénior, jogou pelos escalões jovens ingleses onde fez toda a sua formação, conquistando o Mundial sub-20 em 2017. Curiosamente, bateu o Bayer Leverkusen de Victor Boniface na final da Liga Europa, por 3-0, apontando os três golos da vitória.
Em Portugal, felizmente, já se começa a apostar neste produto da Nigéria. Naziru Shuabiu saltou da AR São Martinho para o Rio Ave, Peter Edokpolor faz parte do Benfica e Korede Osundina (nigeriano-americano)já se estreou no Casa Pia.
Estes são os avançados que jogam, efetivamente, pela Nigéria. Há muitos que jogam por outras seleções, mas que seriam elegíveis para representar as Super Águias, tais como Samu Aghehowa, Joshua Zirkzee, Tammy Abraham, Chido Obi ou Chuba Akpom.