Uma época que se prometeu ser de sonho. Novo treinador, nova equipa técnica, a mesma ambição: ganhar títulos. Foi assim que Arne Slot chegou ao Liverpool este ano, com o compromisso de continuar o legado de Jurgen Kloop, cuja despedida de Anfield foi como uma separação difícil quando ainda há amor.

O plantel estava preparado, as linhas defensivas e ofensivas mantinham-se, e os melhores marcadores – e, diga-se de passagem, um deles, claramente, candidato a Bola de Ouro – estavam à espera dele como quem espera pelos dias de sol, depois de um mês de chuva: uma mistura de desespero com ânsia.

Os Reds são uma das raras equipas cuja simbiose entre equipa técnica e jogadores não só tem de ser perfeita, como parece uma valsa ensaiada há muitos anos. Todos se coordenam, todos sabem os seus papeis, ninguém falha.

Ou não é suposto falhar.

Serão campeões da Premier League, com um avanço histórico de 11 pontos sobre o Arsenal, segundo classificado. Mas, e as promessas deixadas ao vento de que seria este ano que iriam conquistar tudo, não só em Inglaterra, com a FA Cup a juntar-se ao título da liga, mas também a nível europeu, com a conquista da Champions League?

A verdade é que as duas mãos contra o PSG foram autênticas finais, ainda que longe dessa etapa na competição.

Seriam os fantasmas dos Beatles a testar Arne Slot? Ou Salah? É que colocar duas equipas favoritas ao título a confrontarem-se em plenos oitavos de final, não pode ter sido obra do acaso.

E, como todos sabemos, na primeira mão, o Liverpool deixou a garra em casa. Fortemente demarcado pelo cansado e calendário apertado, deixou que os Les Parisiens dominassem a partida que terminou com a vitória dos Reds, mas que nem eles sabem muito bem como.

Ou melhor, naquela noite fria no Parc des Princes, valeu-lhes Alisson Becker que se tornou gigante na baliza dos ingleses, e que negou praticamente todas as tentativas de golo ao PSG.

E bastou um golo, por parte do Liverpool, para ganhar a partida, e chegarem à segunda mão ainda com a esperança de quem poderia riscar o título europeu da lista.

Mas não é à toa que o PSG se mantém na corrida ao título mais cobiçado do futebol europeu, e chegou a Anfield com ainda mais vontade de vencer.

Dizem, quem por lá andou, que jogar em Anfield, com os adeptos do Liverpool a preencher as bancadas, é algo que dá medo, impõe respeito. Que são dos adeptos mais fervorosos, mais exigentes, mas que passam os 90 minutos a apoiar a equipa, além de entrarem com a intimidante, além de poética e arrepiante, “You’ll never walk alone”.

Talvez por isso o Liverpool se tenha sentido mais forte, mais capaz, mais… Liverpool.

A segunda mão entre os dois rivais foi um jogo digno de ser ver de fato e gravata e vestido de gala. Dificilmente se escreverá na história do futebol algum confronto entre estas duas equipas, com o nível de futebol que se jogou nesse dia.

No entanto, o desfecho, também já todos sabemos.

Uma das partes mais ingratas do futebol – e que o torna mágico também – é a forma como, muitas vezes, os 90 minutos não chegam para se decidir o resultado, e vem o prolongamento, seguido da ferida que mais doi a qualquer adepto: os pénaltis.

Não sei se o Darwin alguma vez se perdoará pela aquela falha, mas sei que os adeptos em Anfield Road não ficaram nada satisfeitos ao verem o título escapar pelas mãos como areia, ainda por cima em casa.

Dois em três incompleto.

Resta-lhes a Premier League, prova rainha de Inglaterra, que atrai adeptos de todo o mundo, mas será isso suficiente para dizer que a primeira época de Arne Slot foi um sucesso? Ou será o suficiente para dar a Mo Salah a Bola de Ouro?

Que fique escrito nos livros de história o plantel do Liverpool da época de 2024/25, mas, que nunca se esqueça, também, que o caminho foi longo, mas, no fim, “They will never walk alone.”