É uma das 8099 comunas que compõe o cenário de Itália enquanto país e sociedade e vai voltar a ser representada na Serie C, terceiro patamar do futebol local, 26 anos depois de desaparecer de cena.

Falamos de Casarano e do Casarano, emblema de uma pequena localidade situada no tacão do País da Bota, que já atravessou três refundações - 1969, 2006 e 2012 - e encontrou na estreia a sénior de Fabrizio Miccoli o último ato de glamour, depois do início de atividade em 1927. É lá que joga Hélder Baldé, central português que nos descreveu as emoções deste acesso com que os casaraneses há muito sonhavam.

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Sem nunca ter constado nos dois primeiros patamares do calcio italiano, os rossazzurri vão regressar à nata mais doce que alguma vez conheceram dentro das quatro linhas já na próxima época.

A confirmação chegou na goleada caseira imposta ao Fidelis Andria - equipa que tinha batido o novo campeão do Grupo H da Serie D pela última vez - e nem o posterior dissabor ante o FBC Gravina beliscou uma campanha quase exclusivamente acompanhada de sucessos, semana após semana.

Um regresso a fazer lembrar notáveis figuras

Resta cumprir calendário diante do Ischia, na última jornada do campeonato, antes da disputa de argumentos pelo título de «campeão dos campeões» da Serie D entre os vencedores dos nove grupos da prova. Um objetivo facultativo, mas na cabeça de Baldé e restantes colegas de equipa, visto que uma eventual conquista do Scudetto pode servir para homenagear da melhor forma possível figuras do passado como Giuseppe Capozza ou Antonio Filograna.

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Nome associado ao recinto onde mora o Casarano, Capozza, antigo presidente do clube e empresário dos anos 50 e 60, foi o responsável por projetar o clube para divisões nacionais, antes de uma violenta rixa na visita a casa do Leverano ter precipitado a irradiação competitiva e ao recomeço da atividade, em 1969.

Do último escalão regional à Serie D foram precisas sete épocas de escaladas sucessivas, até à condução quase inevitável de outro empreendedor local, Filograna, à presidência do clube, em 1978, depois do fugaz regresso de apenas um ano aos campeonatos nacionais.

Com o conhecido empresário da indústria do calçado a gerir os destinos do clube nos 20 anos seguintes, o Casarano atingiu pela primeira vez a Serie C (1981/82), mantendo-se no escalão consecutivamente até 1997/98 e sendo casa de jogadores como o já citado Miccoli, Paolo Orlandoni ou Francioso.

Pelo meio, o sequestro de oito meses, no início da década de 80, que custou a perda de parte de um dedo ao líder casaranese, não demoveu a dedicação ao dirigente do conjunto da cidade que o viu nascer.

Para a história, fica uma das páginas mais estáveis do trajeto de um emblema que chegou a sonhar com a subida ao segundo escalão do calcio italiano e que, com a ajuda de um dos seus mais abastados conterrâneos, ajudou a mitigar a má fama a que o sul do país e a região da pequena cidade estão genericamente associadas. Segue-se uma nova era, desejavelmente, tão ou mais dourada do que os capítulos das últimas décadas do século XX.

«Há muito que a cidade desejava esta subida»

Ainda na bendita ressaca do último dia 17 de abril, Hélder Baldé relatou ao zerozero o inesquecível momento em que a subida foi confirmada, revelando que este foi o desejo dos dirigentes para 2024/25 desde o primeiro momento em que foi contactado para se juntar ao clube, no último mercado de janeiro.

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«Foi um momento incrível! Há muito tempo que o clube e a cidade desejavam esta subida de divisão e, graças a Deus, conseguimos o grande objetivo», confidenciou: «Quando o clube me contactou, disseram que o único objetivo era a subida.»

Com apenas duas derrotas nos 32 jogos até agora realizados, o Casarano assegurou o primeiro lugar com uma boa vantagem para o segundo classificado, Nocerina. Mas, qual foi a ementa para o sucesso?

«Muito trabalho e muita humildade. Em cada jogo entrávamos para ganhar... A equipa é muito boa e tem jogadores com condições para jogar um ou dois patamares acima», enumerou em tom elogioso.

«Decidi vir pelo projeto»

Indicadores concretos e incontestáveis de que a decisão de voltar a solo transalpino foi o passo mais acertado de uma carreira que chegou a conhecer os palcos da I Liga, mas que tem sido trilhada por aventuras alternativas.

«Depois de ter jogado no Messina recebi algumas propostas para voltar a Itália. Os meus antigos empresários trouxeram algumas propostas que na altura recusei. Em janeiro deste ano voltei a receber propostas do escalão acima, mas decidi vir para o Casarano pelo projeto que me apresentaram... O estádio tem sempre seis/sete mil adeptos. Estou feliz aqui», acrescentou.

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Um estado de espírito bem provado pela adaptação à realidade. Apesar da curta estadia no futebol local, a língua italiana faz já parte dos seus conhecimentos, não estivesse a ideia de prosseguir carreira em Itália em cima da mesa: «O futebol é muito físico mas cheio de qualidade. Adapta-se bem às minhas caraterísticas.»

«Sempre fui bem recebido aqui, principalmente em Casarano», assegurou, antes de revelar que o alto do seu 1,96 metros impressionam grande parte dos residentes da pequena cidade.

A concluir, e questionado sobre o ponto mais alto da carreira, Hélder Baldé mostrou-se dividido, fazendo o throwback à estreia pelo Desportivo das Aves na elite do futebol português, então no Estádio D. Afonso Henriques, corria a época 2019/20.

«Sempre ambicionei jogar a I Liga. Graças a Deus aconteceu e foi um momento muito marcante na minha carreira... O título com o Casarano foi algo incrível porque foi o meu primeiro!», finalizou.

A questão fica agora no ar: o que reserva o futuro ao recém promovido Casarano?