
Há qualquer coisa que não bate bem nos 23 anos de Oscar Piastri. A pulsão da juventude, que teria todo o direito a ter, embate contra aquela pose fleumática, de quem tem tudo sob controlo, de quem já viveu muito. A calma com que comunica quase monosilabicamente com o seu engenheiro não é timidez ou antipatia, é antes uma serenidade pouco comum num mundo de personalidades abrasivas e grandes tensões.
É como fazer meditação enquanto se vê uma corrida de Fórmula 1.
O que parece uma contradição. O adepto quer emoção, toques, birras, brigas, ultrapassagens malucas. Mas ver Oscar Piastri a competir é estranhamente satisfatório. Satisfatório, a palavra que o australiano usou, com a maior calma do mundo, depois de ser o primeiro a receber a bandeirada de xadrez no GP China, que dominou do início ao fim e que só não liderou momentaneamente durante a dança de posições que se seguiu às idas às boxes.
“Isto é um fim de semana satisfatório”, dizia assim o aussie pelo rádio a Tom Stallard, referindo-se seguramente não só à sua controladíssima corrida, feita de uma gestão impecável de ritmo e de pneus numa pista onde eles sofrem, mas também ao 2.º lugar da véspera no sprint e também, pois claro, à primeira dobradinha da McLaren, à segunda corrida do ano, e segunda vitória em duas corridas para a equipa britânica, depois de Lando Norris ganhar na Austrália. Norris, mesmo com um problema nos travões que o afetou nas últimas voltas, segurou a vantagem que foi construindo face a George Russell (Mercedes) que, quase sem se dar por ele, vai em dois pódios seguidos.
O bom arranque de Piastri e Norris (o britânico saltou de 3.º para 2.º, trocando com Russell) definiram boa parte de uma corrida que teve mais ação no meio da grelha do que exatamente na frente. A superioridade da McLaren tornou essa luta mais chata e mais interessante foi o duelo Verstappen com os dois Ferrari pelo 4.º lugar.
O neerlandês, de forma incaracterística, arrancou mal e foi ultrapassado por Lewis Hamilton e Charles Leclerc. Mas, oo contrário do que aconteceu na corrida sprint, este domingo os carros italianos nunca tiveram ritmo para almejar ao pódio. Apesar da vitória da véspera, Hamilton luta por adaptar-se à Ferrari e cedeu mesmo lugar a Leclerc quando percebeu que lhe faltava andamento. Roma e Pavia não se fizerem num dia, ele avisou. No final, a gestão de corrida de Verstappen permitiu ao campeão do mundo ser mais forte que os Ferrari e recuperar o seu lugar na grelha de partida.
Num Grande Prémio sem grandes emoções e só com uma desistência (Fernando Alonso, logo nas primeiras voltas, com os travões em chamas), o segundo pelotão teve um protagonista inesperado, com a Haas a colocar Esteban Ocon em 7.º e Oliver Bearman em 10.º.
Na classificação de pilotos, Lando Norris lidera, com 44 pontos, seguido de Max Verstappen com 36 e George Russell com 35. Três equipas nos três primeiros lugares.
A Fórmula 1 volta daqui a duas semanas, no GP Japão.