
Após a inclusão de mais uma competição no calendário atarefado europeu, este fim de temporada é, sem dúvida, fora do normal, onde todas as discussões que tivemos podiam, num instante, deixar de ter a mesma importância na mente dos amantes de futebol.
Parece que foi ontem que, nesta campanha, Mohammed Salah tornou-se o único jogador na história da Premier League a atingir a marca dos dois dígitos em golos e assistências antes do Natal, ou quando subitamente, após exibições goleadoras no final do ano passado, entre a Liga das Nações, Champions League e Primeira Liga, Viktor Gyokeres era considerado o melhor ponta de lança do mundo.
Hoje, com a poeira a assentar, o debate comum continua a privilegiar os atletas ofensivos e, com o futebol a ser o desporto fugaz que é, destacam-se três candidatos claríssimos: Ousmane Dembélé, Raphinha e Lamine Yamal.

Sem menosprezar a equipa do PSG, que, sem a exibição no final do Mundial de Clubes, poderia ter, com toda a tranquilidade, uma equipa completa nos primeiros lugares da votação deste ano, o Barcelona tem ambições enormes de estar no top 5, excluindo o momento e a atenção ao individualismo.
Jogadores como Pedri, que se afirmou como o grande jogador técnico que é, apesar das lesões que puseram em risco a sua carreira no início da década, o médio de 23 anos (incluindo um recorde de carreira: 14 golos e assistências em 59 (!) jogos), poderá não receber o devido reconhecimento na gala. No entanto, como nem tudo no futebol é justo, as finais internacionais apagaram por completo certas deliberações da época dos clubes e reforçaram crenças noutros aspetos do jogo.
Existem outros exemplos na equipa vencedora de um triplo doméstico, com a Taça do Rei, Liga Espanhola e a Supertaça Espanhola. Raphinha fez uma temporada sensacional e é quase impossível retirá-lo de um hipotético top 5 da Bola de Ouro. Se olharmos para os jogadores, que estiveram nas competições mais relevantes, a nível doméstico e continental, o extremo brasileiro e um dos capitães do FC Barcelona, foi o único atacante das cinco ligas principais a trazer um nível consistente, desde agosto de 2024.
Comparado a Ousmane Dembélé e a Erling Haaland (que normalmente possui uma veia goleadora, no início das suas campanhas em Inglaterra, Raphinha teve 12 tentos, e assistiu nove vezes nos primeiros 19 jogos oficiais da temporada, contra seis golos e cinco assistências (Dembélé) e 17 golos (Haaland). Como é óbvio, a queda abismal de rendimento do Manchester City esta temporada, não coloca o norueguês na conversa para o prémio.

Da mesma forma que Gyokeres, apesar de ser discutível o fato de estar à mesura que outros potenciais nomeados, como Marcus Thuram do Inter ou Serhou Guirassy, do Borussia Dortmund, que também tiveram grandes temporadas a nível individual, não deverá ser nomeado pelos 39 golos marcados (e Bola de Prata Europeia!) na Liga Portuguesa, largamente ofuscada por estar fora do top 5 no ranking de ligas europeias. (a não ser que a transferência para o Arsenal se materialize, e seja nomeado juntamente com Declan Rice, tal como Darwin Nunez em 2022).
Se falarmos de talento e pura qualidade no campo, combinado com estatísticas agradáveis, Lamine Yamal é o claro favorito. Com apenas 17 anos, liderou a La Liga em dribles bem-sucedidos, grandes ocasiões por 90 minutos e assistências. Apesar de não atingir números elevados na liga, em prol de Raphinha e Robert Lewandowski, vale lembrar as temporadas de Ronaldo Nazário (2002), ou até mais recentemente Rodri (2024) ou até Lionel Messi em (2023), que não foram as mais eficazes, mas cujos contributos foram relevantes para os jornalistas que votaram.
Com a derrota amarga no final da Liga das Nações, um mês depois da eliminação na Champions, Yamal não só perdeu a oportunidade de criar uma das páginas mais icónicas do futebol moderno, como também serviu de plataforma para Nuno Mendes ser globalmente respeitado. Isto mesmo com confrontos contra Arsenal, Liverpool e Villa, onde conseguiu maioritariamente cancelar as ações dos astros Salah e Bukayo Saka, e ser um jogador decisivo contra o Villa.
Não só temos uma situação com o PSG onde as melhores estrelas podem ter a oportunidade de ir mais além contra os respetivos melhores, mas este grupo de jogadores que jogam em ligas menosprezadas, pela aparente “falta de competição” e desnivelamento entre o coletivo parisiense e as restantes formações francesas, têm a chance de reescrever a história e sair da sombra da Ligue 1.
Mendes, junta-se a Vitinha neste caso, com o médio português a liderar os passes eficazes por 90 na Ligue 1, e a apresentar um estilo de jogo que combina o controlo de ritmo com serenidade no meio-campo, que o distingue de eventuais comparações como Pedri quanto à construção de jogo, colocando-o em vantagem para um potencial top 5.
Por fim, para além dos suspeitos do costume estarem na corrida à Bola de Ouro, Cole Palmer também deverá estar entre os 30 nomeados. O melhor jogador do Mundial de Clubes da FIFA, não vai claramente estar ausente, e ao que tudo indica teremos o mesmo efeito produzido anteriormente com Dembélé, mas ao contrário.
Enquanto o avançado francês atingiu os holofotes, com as suas contribuições em cada fase a eliminar na Liga dos Campeões com quatro golos e cinco assistências, sendo o melhor jogador da competição pelo painel de observadores técnicos da UEFA, com 14 golos e assistências a janeiro de 2025, Palmer passou um período muito conturbado, ao não marcar um único golo desde então, até marcar um pénalti contra o Liverpool, na vitória dos Blues por 3-1, no início de maio.
E mais uma vez, as finais internacionais podem sempre, devido à sua grande ocasião, fazer-nos esquecer dos deslizes efémeros, e consequentemente a nossa capacidade para avaliar uma temporada de forma parcial em vez de inopinadamente voltarmos a colocá-los em alta consideração. Em mais duas finais, o atacante de 23 anos produziu duas assistências e dois golos, demonstrando como é um grande jogador no maior palco.
A história, porém, seria diferente se fosse Pedro Neto, o recipiente do prémio de melhor jogador, ao ser o destaque pelo Chelsea, antes de João Pedro e Palmer nesta fase final da temporada. Neto não foi além de quatro golos e seis assistências na temporada, nem produziu exibições marcantes na Liga das Nações, portanto não estaria dentro do critério de “exsudar” talento ou relevância suficiente para ser nomeado. (o mesmo acontecendo com James Rodriguez, apesar de uma boa prestação na Copa América em 2024).

No entanto, após as meias-finais da Champions League, e as melhores exibições de Yamal no final da temporada, ditaram o desaparecimento dos feitos do brasileiro na consciência catalã, como cabeça de cartaz do clube. Isto acontece pura e simplesmente, quando o futebol ainda não teve uma resposta à era Ronaldo/Messi, e o talento que ambos traziam, subvertendo a lógica de um plano tático.
Agora num desporto mais polarizado, onde equipas provam que o coletivo vale mais que um individual, a escolha entre o brilho de Yamal e a mentalidade e maior sucesso desportivo esta época de Ousmane, no dia 22 de setembro de 2025, será com certeza, uma das batalhas onde veremos o verdadeiro consenso sobre os aspetos mais privilegiados e predominantes dos debates do jogo bonito hoje em dia.