Uma das sinas de quem atravessa o mundo quase por inteiro de raquete na mão é ter o seu povo, em casa, adormecido ou quase a despertar quando está em court a fazer pela vida. A face risonha de andar por lugares onde se chegaria perto caso, em Portugal, se cavasse um buraco e continuasse a escavar em linha reta até brotar da terra do outro lado é que se pode dar motivos de alegria logo ao despertar de quem fica por cá.
Esta quarta-feira foi um desses dias, a triplicar. De Auckland, na ilha norte da Nova Zelândia, chegou a notícia de que Nuno Borges passou aos quartos de final do ATP 250 local, ao vencer Mariano Navone em três sets (5-7, 6-3, 7-5). Como na partida anterior, o português teve de se resgatar de uma situação de desvantagem para se livrar do 46.º tenista do ranking e garantir a quarta presença da carreira nesta fase de torneios ATP.
O jogo chegou a ser interrompido pela chuva, pausa da qual o 36.º da hierarquia regressou em alta rotação. Na próxima ronda encontrará Jacub Mensik, que surpreendeu o serviço-canhão do norte-americano Ben Shelton. No único encontro com o checo do outro lado da rede, o português saiu vitorioso.
Esta é a derradeira prova de aquecimento de Nuno Borges rumo ao Open da Austrália, que arrancará no domingo, em Melbourne, onde já estão dois mais novos a elevarem-se ao ponto de estarem a uma partida cada um de fabricarem o que seria um generoso pedaço de história para o ténis português.
Com o seu boné posto e de pala para trás, Henrique Rocha (174.º) impôs-se a Márton Fucsovics, húngaro que é o 100.º classificado do ranking, em dois sets (6-2, 7-6), embelezando um pouco mais o feito de ser o mais jovem tenista nacional a participar no qualifying dos quatro Grand Slams - com 20 anos, nove meses e dois dias, escreveu o site “Raquetc”, colocando-o por diante de Nuno Borges.
A vitória colocou-o na última ronda da prova disputada por jogadores sem ranking suficiente para entrarem automaticamente no quadro principal do Open da Austrália, onde também Jaime Faria (124.º) irá estar. Na madrugada desta quarta-feira, nos courts rápidos e azuis sob o tórrido calor da maior cidade da região de Queensland, o português que tem no serviço a sua maior arma não deu hipóteses a Dane Sweeny (6-2, 6-2), tenista emergente da ilha dos cangurus.
Ambos ficam a uma vitória de se estrearem em quadros principais de um Grand Slam, façanha por si só impressionante dada a verdura das suas carreiras - Henrique tem 20 anos, Jaime está nos 21 -, mas de exaltar porque, caso suceda, dará a Portugal três tenistas a competirem no mesmo major. Rocha defrontará o italiano Matteo Gigante (146.º) e o adversário de Faria é o estoniano Mark Lajal (234.º).
Alguma vez aconteceu haver três portugueses a competirem num Grand Slam? Os antípodas podem em breve obrigar-nos a ir vasculhar os papiros que guardam a história do ténis nacional.