
A portuguesa Salomé Afonso decidiu nos últimos 40 metros da final dos 3.000 dos Campeonatos da Europa de atletismo em pista curta que ia ultrapassar a espanhola Marta García, em busca da sua segunda medalha em Apeldoorn2025.
"A verdade é que a prova foi muito esquisita, mas nunca deixei de acreditar. Pensava que se estivesse bem colocada nos últimos 600 metros, era possível. Já senti um bocadinho a fadiga, tive desgaste extra pelas movimentações, mas ao ver a placa dos 400 metros, achei que tinha força. Nos últimos 40 metros, olhei para a espanhola e pensei: 'desculpa, mas vou tentar apanhar-te'. E aconteceu, caiu para mim", explicou.
Salomé Afonso, de 27 anos, tornou-se hoje na primeira portuguesa de sempre a conquistar duas medalhas numa única edição de Europeus 'indoor', juntando o terceiro lugar de hoje ao segundo nos 1.500 metros, na sexta-feira, na 38.ª edição dos Campeonatos, que hoje termina nos Países Baixos.
"Nem sequer pensei nisso [em chegar às duas medalhas]. Pensei que estava muito bem para as duas provas, houve um momento em que hesitei e depois decidi fazer as duas. Treinámos muito, foi uma preparação quase de atleta de 5.000 metros. Um volume muito grande, que me deu a resistência de aguentar várias provas em vários dias", afirmou, na zona mista do recinto neerlandês.
Hoje, a portuguesa arrancou para o pódio na última curva, terminando com o tempo de 08.53,42, atrás da irlandesa Sarah Healy, campeã da Europa, em 08.52,86, que bateu a britânica Melissa Courtney-Bryant, segunda classificada, por seis centésimos de segundo.
A atleta do Benfica assumiu o risco de alinhar nas duas distâncias, prometendo habituar-se à luta pelas medalhas, porque, depois da primeira vez, custa menos.
"O cérebro muda o chip e pensa que é possível. Foi uma prova de muita crença, hoje, super caótica, em que a meio da prova, sinceramente, pensei em muitas coisas. Fui tentando eliminar muitos pensamentos, porque foram muitas quedas, contactos, dificuldade em posicionar-me. Foi tudo o que não queria fazer, que era desgastar-me o mínimo possível, e foi impossível fazer isso (...). Foi chegar aos últimos 400 metros em quarto e pensar: 'é possível, bora lá, Salomé'. Se não der, não deu, mas deixei tudo nesta pista", assegurou.
Conquistados estes 'metais', Salomé Afonso encara os próximos Mundiais com outra ambição.
"É um bocadinho essa a mentalidade. Antes, queríamos passar à final. Agora, medalhas europeias. O próximo passo é manter o nível e tentar uma a nível global. Sabemos que a exigência é muito grande, o nível está cada vez mais alto, mas este campeonato só prova que nunca sabemos quando pode ser o nosso dia, o nosso fim de semana, o nosso campeonato. Temos de aproveitar quando cai para nós", rematou.