Os Emirados Árabes Unidos continuam a crescer em termos de importância no panorama do desporto mundial, como vem sendo exemplo o facto de receberem a prova final do Mundial de Fórmula 1 e por também, recentemente, um evento principal do UFC. O kickboxing também ajuda nesse crescimento, com mais uma grande gala organizada pela UAM com o apoio da Wako Pro, organização que tem o português Carlos Ramjanali como CEO. A Record, diretamente de Abu Dhabi, o empresário português, que é também uma figura histórica da modalidade no nosso país, enalteceu a evolução deste emirado e mostrou-se entusiasmado com o que aí vem, nomeadamente o Mundial do próximo ano.

"Este evento foi extremamente positivo. [Os Emirados Árabes Unidos] Estão a evoluir e têm feito um trabalho muito bom de há quatro cinco anos para cá, tanto no aspeto organizativo como na qualidade, especialmente nos combates. A Wako Pro ajuda sempre, para trazer os melhores atletas. Neste caso, conseguiu trazer-se atletas que estão atualmente no ativo nas grandes ligas, como a Glory, e também árbitros internacionais e reputados. Conseguiu chamar-se todos os agentes do kickboxing. E temos de realçar o facto de termos conseguido trazer aqui, no mesmo dia em que acontece uma grande final no Japão (Final K1GP), a figura máxima do K1, o mestre Kazuyoshi Ishii. Também é um passo extremamente importante, porque toda a comunidade percebe a envolvência e todos ficam naturalmente motivados e admirados. Há também um trabalho da WAKO e da WAKO Pro, claro. Há aqui um conjunto de sinergias de várias entidades, mas não há dúvidas de que os promotores locais têm conseguido fazer um excelente trabalho", começou por comentar.

Sobre o mestre Kazuyoshi Ishii, o empresário português revela que vários nomes do passado que estão por estes dias em Abu Dhabi ficaram até surpreendidos por saber da sua presença neste evento. Incluindo um antigo atleta turco, ex aluno de Andre Mannaart do mítico Mejiro Gym, que se apressou a ver o evento ao vivo e conseguir tirar uma fotos para "mostrar ao filho quem era o grande mestre". "Tudo isto dá um grande incremento e uma montra enorme para o Médio Oriente e para os Emirados", reconhece.

E essa ligação entre o K1, na figura de Kazuyoshi Ishii, e a WAKO Pro é para manter e cimentar, com os EAU a surgirem como ponto geográfico perfeito. " Esta zona da Ásia tem um potencial enorme de organização, de criar eventos e desenvolver eventos. A localização é muito boa, tem ligações de todo mundo. As infraestruturas também são boas, os dirigentes têm mente aberta e abraçam todas as entidades. Nesta prova WAKO Pro estiveram a assistir membros da família real e toda esta dinâmica acaba por beneficiar. E eles também têm esta capacidade de conseguir atrair pessoas que os ajudem a desenvolver o desporto. Têm aqui os melhores de todas as áreas e isso ajuda o país a ter esta qualidade. Quando disse há um ano que esta geografia ia ser muito importante não me estava a enganar. E Portugal, sinergicamente, tem muito a ganhar com isto", frisou.

Em Abu Dhabi estiveram quatro atletas portugueses e Ramjanali assume ser algo que sempre tentará fazer, dentro daquilo que poderá concretizar. "Fazemos o que achamos que deve ser feito, dando oportunidade aos atletas de poderem cá estar. Obviamente que, o que pudermos trazer para Portugal e para os atletas portugueses, vamos fazer o nosso possível. Penso que foi muito positivo e os feedbacks que me foram passando estão todos naturalmente satisfeitos e com o dever de missão cumprida. Os resultados não foram os desejados mas o equilíbrio nesta prova é grande, com um match making bem pensado e cujas vitórias podiam sair para qualquer dos lados".

Tudo praticamente pronto para 2025

Quanto ao Mundial do próximo ano, que será realizado em Abu Dhabi, Ramjanali mostra-se entusiasmado. "Foi feita a última visita ao espaço, que é o maior que têm aqui. É um espaço multiusos, a ADNEC Arena. Tem todas as infraestruturas, incluindo um acesso direto ao aeroporto, vários hotéis com vista para o espaço. Falta haver um relatório final, mas à partida será este o melhor espaço. Vão criar condições para que haja o máximo de presença possível de atletas. Veja bem uma dessas medidas, que deve servir de exemplo para todos os países: as companhias aéreas locais fazem tarifas especiais através de um código para grupos. Chegam a fazer 50% de desconto. Há uma aposta muito grande das autoridades aqui para que seja um sucesso, atrair pessoas e fazer bem feiro. Dizem-me que querem fazer o melhor campeonato do mundo de todos os tempos e acredito que o façam. Têm muito a preocupação de deixar uma boa imagem globalmente, seja em organização, segurança ou qualidade. Os padrões são muito bons. Há uma preocupação de que as pessoas saiam daqui com boa impressão", acrescentou.

Jogos Mundiais como ponto alto do ano

Para 2025, para lá do Mundial, a WAKO vai também ter outros eventos em foco. "No próximo ano teremos os Jogos Mundiais, que já têm todos os atletas apurados. O ponto alto será mesmo esse evento. Para Portugal, como a Hungria desistiu de organizar o Campeonato de jovens por questões internas, vai abrir um novo concurso. Estão a receber as propostas, para ver quem será o vencedor. Portugal está interessado, a experiência com Portugal é positiva, nomeadamente pela organização recente do mundial em Albufeira. Penso que estamos em boa posição de receber o Campeonato da Europa de juniores. É uma prova muito importante, pois tem a participação de muita gente - 3 a 4 mil pessoas, entre atletas e familiares. Torna-se muito importante e exigente termos essas infra estruturas. Temos decisões que vão ser tomadas em 2025 no Comité Olímpico Internacional que podem impactar com o kickboxing, pois há uma modalidade desportiva que provavelmente sairá - o boxe - e aí temos muitas possibilidades de sermos nós a entrar. Saindo o boxe a alternativa somos nós. Isso poderá acontecer e, se isso acontecer, será um dos pontos altos da história".

Portugal quase resolvido

Um possível avanço que, por outro lado, poderá também impactar em Portugal, servindo para desbloquear toda a divergência em torno da federação reconhecida no nosso país. "Obviamente que isto iria ajudar e seria um empurrão grande para a resolução do problema da federação em Portugal. É um problema que vai atrasando o desenvolvimento da modalidade no nosso país. Nota-se que é um problema que se está a agudizar, quanto mais tempo passar com esta indefinição da parte do estado em relação ao kickboxing, isto vai impactar nos resultados, sobretudo no plano internacional, mas também no crescimento dos praticantes. Há uma federação reconhecida, legalmente já não deve ser por muito tempo, que leva atletas a combater em batatais e com isso atrasa o crescimento da modalidade e, muito importante, o seu reconhecimento internacional".

Para Carlos Ramjanali, este é o momento certo para haver as mudanças em Portugal que já deviam ter acontecido há mais tempo. "Espero que as autoridades tenham - e agora que estamos na mudança de ciclo olímpico e da renovação do estatuto de utilidade pública desportiva - e que o estado tenha a noção do bem ou do mal que pode fazer ao desporto. Sou uma pessoa otimista e como antigo pugilista estou sempre na luta. Espero que as autoridades do país tomem a decisão que acho que é óbvia e lógica de dar a autoridade pública à FNKDA, que é a federação reconhecida pela Federação Internacional. Não faz sentido manter estes status quo que existem em Portugal".

Sobre o UFC e a sua vinda para Portugal, Ramjanali frisou que as sinergias e o trabalho entre as duas entidades tem objetivos muito profundos, com sinergias fortes que passarão também pelo Power Slap e que poderão conhecer novidades concretas já no mês de fevereiro.