O grande símbolo das dificuldades do Estrela no começo do jogo contra o Benfica expressou-se através de um guarda-redes que se sentou e de uma equipa que se juntou em torno do seu treinador. Aos 12' da partida, com os visitantes triunfando comodamente por 2-0, era evidente que algo falhara na abordagem inicial do conjunto da Amadora, como se fosse um grupo de amigos que se enganara no local marcado para o desafio.
Para estancar a hemorragia, José Faria terá pensado em Paulo Jorge Pereira, o selecionador de andebol, e improvisou um tempo de desconto. Marko Gudzulic, o dono da baliza da casa, caiu no chão e logo toda a equipa foi ter com o seu treinador, talvez para tentar saber qual o local certo para o qual estava marcado o jogo.
Quem visse aquela cena, quem notasse os problemas do Estrela no arranque e o conforto do Benfica, nunca imaginaria no que é que se tornaria este embate. O que começou por ser um cenário de conforto para as águias transformou-se numa noite incómoda, difícil, disputada até ao sétimo minuto de descontos do segundo tempo, um problema que só se resolveu quando tudo terminou.
A vitória, por 3-2, permite manter o Sporting a seis pontos, torcendo por um tropeço do líder no clássico da próxima sexta-feira no Dragão. O que se abriu através das bolas paradas não foi fechado com a mesma pressa mostrada nos primeiros 10', muito por culpa da fragilidade defensiva que paira sob a equipa de Lage. São já 10 golos sofridos nos derradeiros quatro compromissos.
Mas, antes dos golos encaixados, vieram os marcados. Aos 6', de um canto da esquerda, surgiu o 1-0, através de Otamendi, num remate que teve de passar no escrutínio do VAR para saber se entrara ao não, já que a I Liga continua a não ter sistema eletrónico na linha de golo. Aos 10', um livre lateral de Di María, daqueles que vão com açúcar, doces, encontrou Pavlidis, que viu o seu desviado ser desviado por Dramé. 2-0 e o Estrela em sofrimento.
O arranque relâmpago, com dois golos nos primeiros 10 minutos, gerou um clima de contraste nos minutos que se seguiram. Como se fosse preciso o encontro ter uma pausa para respirar, o duelo pausou, diminuiu o ritmo, até a Reboleira ficou mais silenciosa, tudo em suspenso. Contagiado por isto, o Benfica adormeceu e o Estrela aproveitou. O problema começava a ser reaberto, mantendo-se em suspenso até ao final.
Aos 28’, Travassos, nome de craque, fletiu da direita para o meio. O remate, feito de pé esquerdo por parte de um destro que tem facilidade com ambas as pernas, foi desviado por Otamendi, traindo Trubin — que teve o primeiro momento infeliz numa noite pouco acertada — e recolando os da casa na discussão do marcador. Entusiasmado, o Estrela ameaçou o 2-2 num remate do ex-Benfica Rodrigo Pinho que foi parado pelo guardião ucraniano das águias.
Ainda assim, durou pouco o 2-1, quase tão pouco com o 1-0 nestes minutos de escassa esperança média de vida dos marcadores. Os tricolores estavam frágeis na defesa das bolas paradas e, na sequência de mais uma, Manu Silva tocou na direção do espaço vazio. O médio ex-Vitória, em estreia a titular, fez notar o seu conforto no passe e receção, impondo, ainda, os seus centímetros no jogo aéreo.
Naquela zona, perto da área, Otamendi estava em posição adiantada, mas o campeão do mundo afastou-se do lance, dando a vez para Pavlidis, que rematou cheio de fé, parecendo armar a perna como nos desenhos animados, como se estivesse a preparar-se para disparar com um arco. Foi apenas o quinto golo do grego na I Liga, ainda que se confirme o bom momento do ex-AZ Alkmaar, que marcou cinco vezes nos derradeiros quatro encontros.
A Reboleira é um estádio singular na I Liga, um pequeno campo de bairro que consegue gerar ambiente de proximidade, um campo onde se costuma viver o jogo com bastante energia. Ainda assim, neste Estrela, ver Ferro é ver uma presença triste, a constante recordação do que parecia destinado a ser e do que, na verdade, é, um central com tanta falta de confiança que talvez erre a dizer o próprio nome. Em cima do intervalo, um erro de Ferro quase levou ao 4-1, mas Aktürkoğlu acertou na barra.
Seguindo a tendência de resultados efémeros, o 3-1 só durou entre os 34’ e os 49’. Em novo momento infeliz da sua exibição, Trubin tentou colocar em Pavlidis, mas a reposição levava “V” de volta, cumprindo a máxima que dita que quanto mais rapidamente a bola vai, mais rapidamente ela volta. O ressalto encontrou Chico Banza, que na estreia pelo Estrela contornou o guarda-redes adversário e voltou a dar esperança aos da casa.
Uma certa intranquilidade não mais largou o Benfica, possivelmente de forma natural, tendo em conta as três derrotas nas quatro jornadas anteriores. Ainda assim, e por muito que o Estrela tivesse sempre boas doses de energia e fé para levar para o relvado, não houve uma verdadeira ocasião para o 3-3.
No outro lado, Arthur Cabral, no que pode ter sido o seu derradeiro jogo pelo Benfica, ganhou um penálti. Aos 87', o brasileiro poderia ter dado a tranquilidade aos visitantes, mas Gudzulic defendeu.
Com a margem mínima no marcador, Lage passou os descontos em alvoroço, gritando, gesticulando, quem sabe tentando comunicar por áudios, para ter a certeza que a mensagem chegava mesmo. Sem grande inspiração da parte dos da casa, o Benfica lá resolveu o problema quando o problema acabou. Mantém-se tudo igual entre os rivais da Segunda Circular.