O burburinho entre as atletas presentes no estádio do Sintrense, para disputar o primeiro dia da Ibercup, denuncia a presença de uma das figuras do futebol feminino português nas bancadas.

Entre diversos pedidos para fotos e um conselho, de quem chegou ao topo pelo caminho das pedras, Ana Borges fez o balanço da sétima temporada consecutiva que as leoas não conquistam o campeonato: «Temos que querer alcançar todos os títulos. Infelizmente não conseguimos. Alcançámos um que foi logo o primeiro (Supertaça). Queremos acabar da melhor maneira e esperar que o próximo ano seja diferente.»

A capitã do Sporting admite que faltou «consistência» para as leoas quebrarem a hegemonia do Benfica, mas realçou que sucessivas lesões graves (Andreia Bravo à cabeça) atrasaram o progresso da equipa que começou por ser comandada por Mariana Cabral, e depois por Micael Sequeira.

Há nove temporadas ao serviço do Sporting, Ana Borges termina contrato com as leoas no próximo mês de junho. A defesa de 34 anos de idade, com 18 temporadas como sénior, recusa pendurar as botas, mas não levanta o véu em relação ao futuro: «Não penso no final, mas sei que está próximo. Quanto ao futuro ainda não sei. O meu objetivo é acabar a época no Sporting da melhor maneira.»

A veterania é combustível para Ana Borges que, a duas jornadas do final da Liga, já fixou um novo máximo pessoal de jogos disputados numa temporada (32), ao serviço das leoas. A jogadora é ainda peça chave no puzzle de Francisco Neto para o Europeu que será disputado no Verão, na Suíça.

A caminho do terceiro Euro da carreira, Ana Borges admite que já não basta disputar a fase de grupos: «Nós próprias também metemos essa questão. No primeiro ano que fomos (2017) éramos a equipa com menos experiência. Já temos três presenças, temos essa ambição e somos capazes disso mesmo.»

Ana Borges e o «privilégio» de ser reconhecida

Ao contrário dos tempos em que Ana Borges começava a despontar na Fundação Laura Santos, em 2003, atualmente os escalões de formação totalmente femininos são cada vez uma realidade nos clubes de futebol, por todo o país. Exemplo disso é a edição de 2025 da Ibercup, que conta com 80 formações totalmente compostas por raparigas, distribuídas entre os 12 e os 16 anos.

A capitã do Sporting não esconde o orgulho por ser a madrinha da mais recente edição do evento: «É sem dúvida um privilégio enorme estar aqui. Sabemos da importância que a IberCup tem para estas meninas. O ano passado tivemos 32 equipas. Este ano temos 80. Vamos ver quantas é que vão estar para o ano.»

No complexo desportivo do Sintrense, Ana Borges assistiu ao encontro entre a equipa do Estoril e do Amora e desceu ao relvado para cumprimentar atletas que sonham em atravessar o caminho aberto pela geração da capitã do Sporting.

A defesa de 34 anos não tem palavras para o reconhecimento das jogadoras profissionais do amanhã: «Ter o reconhecimento destas meninas ou mesmo dos pais, é um privilégio, é uma honra. Quando deixarmos o futebol, é do carinho das pessoas que nos vamos lembrar.»