Num desporto feito de pormenores, de ansiedades, de pequenos erros que levam a inesperadas derrotas e de instantes de inspiração ou oportunidade que podem virar um combate, é admirável como três finais em Europeus Catarina Costa tenha encontrado sempre a mesma adversária: a francesa Shirine Boukli. É déjà-vu atrás de déjà-vu. Em 2022, em Sofia, e em 2023, em Montpellier, foi Boukli a afastar a atleta de Coimbra do desejado ouro nos -47kg, a categoria mais pluma do judo. E em Podgorica, esta quarta-feira, não foi diferente.

Com dificuldades para lidar com o judo frenético de Boukli, quase sempre em modo de ataque, Catarina Costa caiu no golden score, tal como há dois anos, depois do gongo soar com um waza-ari para cada lado. A gaulesa pontuou primeiro, a duas vezes olímpica respondeu bem, mas desde cedo se viu tapada por castigos. Nos minutos complementares, seria mesmo um terceiro shido a derrotar Catarina Costa, que ainda assim mantém viva uma série admirável: há quatro Europeus seguidos que sobe ao pódio da competição. Além das duas pratas em 2022 e 2023, foi também bronze há um ano, em Zagreb. Ainda há caminho para igualar o feito de Telma Monteiro, que conseguiu 15 medalhas em Europeus nas suas 15 primeiras participações.

Antes de encontrar a sua besta negra (em quatro combates, nunca conseguiu bater Boukli), Catarina Costa, 9.ª do ranking mundial, não teve caminho simples até à final. Começou a competição na 2.ª ronda frente a Patricia Tomankova, eslovaca de 18 anos com vários títulos europeus jovens e que levou a portuguesa até ao golden score, que se estendeu por quase seis minutos. Com as duas atletas já exaustas, a eslovaca seria eliminada por castigos.

Nos quartos de final, a neerlandesa Amber Gersjes parecia com ligeiro ascendente, obrigando a portuguesa de 28 anos a ficar cedo tapada com dois castigos. Um ippon a 46 segundos do fim resolveria a questão para a 5.ª classificada nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Frente à sérvia Andrea Stojadinov, Catarina Costa voltou a estar com dois castigos às costas, conseguindo pontuar já nos últimos momentos do combate. Para chegar à final, foi preciso gerir sem incorrer no risco de ser eliminada com um terceiro shido.

Na final, Shirine Boukli, bronze em Paris 2024, pareceu sempre por cima, conquistando um quarto ouro em Europeus.

Além de Catarina Costa, Portugal teve mais dois representantes neste primeiro dia dos Europeus: Raquel Brito ainda venceu o primeiro combate nos -52kg, caindo frente à italiana Odette Giuffrida, atual campeã mundial da categoria. Tal como Miguel Gago, eliminado também ao segundo combate, após ficar isento na primeira ronda.