2024 foi rico em muitos momentos importantes do futebol internacional, com quatro competições de seleções - Euro, Copa América, Taça da Ásia e CAN - a exponenciarem as emoções dos amantes do desporto-rei. Várias figuras assumiram papel de protagonista, com dois portugueses a entrarem nestes destaques, liderados pela Espanha. São cinco os espanhóis que figuram nesta lista, num ano em que Real Madrid e Espanha foram campeões da Europa de clubes e seleções, respetivamente. As conquistas do Manchester City, a afirmação de Yamal e o adeus a Kroos, as´surpresas de Lautaro Martínez e do Leverkusen e o feito inédito do Botafogo. Tudo isto contribuiu para um belo ano de futebol, em que, pela terceira vez em quatro anos, a Bola de Ouro e o prémio The Best não foram para o mesmo jogador.
43 golos e sete assistências. São 50 contribuições para golo… aos 39 anos. Não há palavras para a longevidade de Cristiano Ronaldo, que voltou a mostrar que os recordes o perseguem: ao nível de seleções, tornou-se o mais internacional de sempre, ele que já era o mais goleador de todos. Na Saudi Pro League, apontou 35 golos e foi o melhor marcador de sempre numa época. A justificação surge sempre: ‘é na liga saudita’. Mas a verdade é que, tal como em incontáveis outras ocasiões, mais ninguém fez tanto como CR7.
Artur Jorge
29 anos depois, o Botafogo voltou a ser campeão. E, pela primeira vez, foi vencedor da Taça Libertadores. É certo que o investimento feito por John Textor na equipa não pode não ser tido em conta, mas uma coisa é certa: o principal responsável é Artur Jorge. A seis jornadas do fim, a equipa já tinha conquistado 67 pontos, mais que os 64 que eram, até então, recorde. Terminou com 79. A conquista na Libertadores, de forma épica – a jogar com menos um desde o primeiro minuto na final – foi a primeira da história do clube e, pela primeira vez, um clube venceu os dois títulos desde 1963. A primeira desde o Santos, de Pelé.
Rodri
Rodri foi um dos indiscutíveis, fosse onde fosse. No Manchester City, venceu a Premier League e, com a seleção espanhola, foi campeão da Europa. Um pêndulo no meio-campo, foi considerado o melhor do Euro 2024 e, no final da época, foi distinguido com a Bola de Ouro. As estatísticas não ajudam a medir o impacto que um jogador como Rodrigo Hernández têm no desempenho coletivo, mas, se assim é, que os resultados o façam: esteve 74 jogos sem perder ao serviço do Manchester City, a mais longa série da história. E, desde que se lesionou com gravidade, frente ao Arsenal, os citizens disputaram 18 jogos e venceram… sete, incluindo uma série com um triunfo em 11 partidas.
Vinícius Jr.
O vencedor do prémio The Best, da FIFA, não foi, pela terceira vez em quatro anos, o mesmo que venceu a Bola de Ouro. E, se a justiça mandar, tem lógica que Vinícius Jr. seja considerado, tal como Rodri, o melhor do Mundo. Vencedor do campeonato espanhol e da Liga dos Campeões, assumiu, em 2024, a preponderância que Jude Bellingham havia mostrado em 2023, no início da temporada. Nas eliminatórias da Champions, marcou ou assistiu em todas as eliminatórias e, esta época, já fez um hat-trick ao Borussia Dortmund. Não foi só dentro de campo que Vini Jr. se destacou: foi o protagonista da luta contra o racismo nos estádios em Espanha. E, mesmo que nada seja resolvido, ao menos, uma coisa é certa: as olhos do mundo do futebol já olham para o problema como isso mesmo.
Pep Guardiola
O Manchester City é tetracampeão da Premier League. É uma lista que começa e acaba com os skyblues. E isso é, em grande parte, graças a Pep Guardiola. A equipa continua a reinventar-se, ano após ano, título após título, e, na temporada passada, voltou a começar mal, mas teve uma série incrível já em 2024 para ficar dois pontos à frente do Arsenal. Em 19 partidas no campeonato, somou 16 vitórias e três empates. Nenhuma derrota. É de campeão.
Luis de la Fuente
Luis de la Fuente, selecionador espanhol, entrou no Campeonato da Europa sem o poder de fogo que tinham seleções como Portugal, França ou Inglaterra. Não eram muitos os que davam a Espanha como favorita à conquista do título europeu antes do torneio começar, mas essa ideia foi dissipada bem depressa. Sete jogos, sete vitórias, a eliminar Itália, Croácia, Alemanha, França e Inglaterra. Sem medo de apostar em jovens, sem medo de quebrar os padrões do tiki-taka espanhol, De La Fuente juntou a vertigem à paciência e criou um dos mais unânimes vencedores dos últimos tempos. Depois do Euro, ninguém escolhe outra seleção que merecesse mais que a Espanha.
O menino Yamal deixou de ser promessa e passou a ser certeza. Entrou no Euro 2024 com 16 anos, saiu com 17 e com o título. Mas não só. Foi indiscutível para Luis de la Fuente - só não foi titular frente à Albânia, num jogo em que a Espanha já estava apurada - e, com um golo e cinco assistências, foi considerado o melhor jogador jovem do torneio. Uns meses depois, tornou-se no mais jovem de sempre a ganhar o prémio Golden Boy. Nessa altura, já era indiscutível para Hansi Flick no Barcelona. Agora, está lesionado, e a equipa ressente-se da sua ausência. 21 jogos, seis golos e 11 assistências na atual época, entre campeonato e Liga dos Campeões. E ainda nem pode tirar a carta de condução.
Toni Kroos
Toni Kroos é um caso raro de acabar em grande. Aliás: possivelmente, no maior nível da carreira. Pelo Real Madrid, conquistou o campeonato e a Liga dos Campeões, mas como habitual titular, num meio-campo que conta com jogadores como Tchouaméni, Valverde, Modric ou Camavinga. 48 jogos depois, foi titular no miolo da Alemanha que, não fosse a Espanha, tinha argumentos sérios para se sagrar campeã da Europa em casa. O anúncio do adeus foi atempado e, no final, ficou o 'obrigado' ao mundo do futebol. Nós é que agradecemos, pelo exemplo de como estar e de como sair. E não é porque a carreira acaba que o jogador fica esquecido: já longe dos relvados, foi eleito como melhor jogador do ano pelo jornal italiano Tuttosport e foi eleito para o onze do ano da FIFA.
Xabi Alonso
O Leverkusen foi a grande surpresa da última temporada. Destronou o Bayern, crónico campeão alemão, numa caminha invicta para vencer a Bundesliga - a primeira da história dos farmacêuticos -, alcançou a dobradinha com a conquista da Taça da Alemanha e ainda disputou a final da Liga Europa, em que caiu aos pés da Atalanta. O futebol fluido, atacante e apaixonado do Bayer tem a assinatura de Xabi Alonso. Pegou na equipa quando esta estava em lugares de despromoção, soube rodear-se de alguns jogadores-chave, como Xhaka ou Grimaldo, e potenciou ao máximo figuras como Andrich, Frimpong e, acima de tudo, o criativo Florian Wirtz. O Leverkusen foi a grande história do último ano do futebol e o espanhol é o principal responsável.
Pode não ser o nome que vem logo à cabeça de quem responde à pergunta 'quem esteve melhor na última temporada?'. Mas Lautaro Martínez tem argumentos fortes para entrar nessa discussão. O Inter, de Simone Inzaghi, aprimorou ainda mais o estilo combativo, rápido e sufocante e, na frente, El Toro foi decisivo. 24 golos e seis assistências em 33 jogos na Serie A, que terminou com o 20.º scudetto da história dos nerazzurri, fizeram de Lautaro o melhor jogador do último campeonato italiano e a maior figura do desfecho feliz para os azuis e negros de Milão. Chegada a Copa América, a forma não abrandou. Seis jogos, cinco golos, incluindo o tento da vitória na final, frente à Colômbia. Decisivo e campeão pelo clube, decisivo e campeão pelo país. Melhor do que isto é difícil.