"Julgo que Putin não quer a paz. Mas isso não significa que não queira sentar-se à mesa das negociações com nenhum dos líderes. Para ele, trata-se de quebrar o isolamento político, o que é benéfico para si. Sentar-se, conversar e não negociar", afirmou Zelensky numa entrevista por ocasião do centenário da Rádio Ucraniana.
Para Putin, "é favorável negociar com algum tipo de condições de rendição da nossa parte", disse, acrescentando que "ninguém lhe dará isso".
Por outro lado, adiantou que as negociações com Moscovo são possíveis "desde que a Ucrânia não esteja sozinha com a Rússia e [a Ucrânia] seja forte".
"Que tipo de negociações pode haver com um assassino? Se falarmos sozinhos com Putin, apenas com o assassino, e estivermos nas condições em que estamos agora, não fortalecidos por alguns elementos importantes, é desde logo um estatuto de perdedor para a Ucrânia. Numa posição fraca, não há nada a fazer nestas negociações", frisou, citado pela agência EFE.
Segundo ele, isso não levaria a "um fim justo" para a guerra, desencadeada pela invasão russa de fevereiro de 2022, refere a Agência France Presse.
Volodymyr Zelensky referiu ainda que quer o fim da guerra no seu país em 2025 por "meios diplomáticos".
"Devemos fazer tudo para que esta guerra termine no próximo ano. Devemos acabar com ela por meios diplomáticos", disse na entrevista à rádio ucraniana.
Kiev teme perder o apoio dos Estados Unidos, após a vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais e receia ser forçado a negociações desfavoráveis à Ucrânia.
Zelensky admitiu ainda que a situação na frente oriental está "realmente complicada", com o exército russo a progredir contra as tropas ucranianas, em menor número e menos bem armadas.
"Há uma pressão e um avanço lentos dos russos. Por várias razões, encher as nossas brigadas com gente preparada, encher e equipar as brigadas com armas, todos estes processos foram bastante lentos", disse Zelensky.
Acrescentou que não se pode simplesmente encher uma brigada com pessoas enquanto se espera por armas.
"Esperámos doze meses para que algumas armas nos fossem entregues depois de terem sido aprovadas pelo Congresso dos EUA", lamentou.
Referindo que no leste existem brigadas que precisam de ser rodadas e substituídas por outras, Zelensky confessou que devido à ofensiva russa e ao cansaço, os soldados "perguntam se podem dar passos atrás" e a liderança militar diz "sim", porque "esta é a nossa posição comum: primeiro o povo e depois a terra", acrescentou.
Na sexta-feira, Kiev irritou-se com uma conversa telefónica entre o chanceler alemão, Olaf Scholz, e Vladimir Putin, o primeiro encontro em quase dois anos entre os dois líderes. Falar com Vladimir Putin "abre a caixa de Pandora", criticou o presidente ucraniano.
Kiev exclui a cedência de territórios ocupados pelo exército russo, enquanto Moscovo a estabelece como condição.
Vladimir Putin voltou a dizer a Olaf Scholz que um acordo de paz com a Ucrânia deveria ter em conta "novas realidades territoriais", segundo o Kremlin.
EYC // MDR
Lusa/Fim.