É certo que longas estadias no espaço acarretam efeitos práticos na saúde. É por isso que a maioria das missões espaciais costuma ter a duração máxima de seis meses. Ainda assim, houve quem já estivesse mais de um ano fora da Terra: o máximo de tempo registado foi 437 dias seguidos, um recorde que pertence ao cosmonauta russo Valeri Polyakov.

Os dois astronautas que se preparam para regressar à Terra, esta terça-feira, Barry Wilmore e Suni Williams, passaram nove meses no espaço. Os especialistas apontam que, quando pousarem no Planeta Azul, vão, sem dúvida, sentir – no corpo e na mente - as consequências dessa viagem prolongada.

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Estes são os efeitos sentidos após um longo período no espaço, como explica o TheGuardian:

Nos ossos

Os especialistas relatam uma perda irreparável de densidade óssea, por causa da falta de gravidade.

Nos músculos

É esperada perda muscular, tanto nos braços, como nas pernas e no tronco – e até no próprio coração (ele mesmo um músculo, que deixa de bombear o sangue contra a gravidade, e, por isso, tem de trabalhar menos).

No sangue

Dada a ausência de gravidade, o volume sanguíneo diminui e o fluxo sanguíneo altera-se, podendo causar coágulos. Os fluidos deixam também de circular tão facilmente.

“Os fluidos acumulam-se na cabeça, o que faz com que [os astronautas] se sintam como se tivesse uma constipação constante”, diz Alan Duffy, astrofísico da Universidade de Swinburne, na Austrália, em declarações citadas pelo The Guardian.

Na pele

A perda de gravidade faz também com que a pele se torne muito mais sensível - “como a de um bebé”, apontam os especialistas.

De volta à Terra, alguns astronautas sentem que vestir roupa lhes dá a sensação de passar uma lixa pela pele.

Nos sentidos

A capacidade de cheirar diminui, assim como a visão, uma vez que a acumulação de líquido altera a forma dos globos oculares e enfraquece a vista. Muitos astronautas podem mesmo ter de passar a usar óculos para o resto da vida, nota o astrofísico Alan Duffy.

Também a capacidade de locomoção é afetada, com os astronautas a apresentarem dificuldades em andar e a sentirem tonturas frequentes.

Quando regressam, os astronautas têm de ser submetidos ao mesmo nível de fisioterapia intensiva a que é sujeito alguém que acordou de um coma, afirma Alan Duffy. O especialista diz que analisar a recuperação destes astronautas pode ser útil para ajudar a desenvolver tratamentos para pacientes que sofrem de problemas por terem estado muito tempo hospitalizados, por exemplo - já que estar num local sem gravidade pode ter efeitos muito semelhantes a estar acamado.

O fator radiação

Um dos fatores mais perigosos de longas estadias no espaço é a exposição prolongada a radiação. De acordo com a NASA, os astronautas estão expostos a três diferentes tipos de radiação: partículas presas no campo magnético da Terra, partículas energéticas solares provenientes do Sol e raios cósmicos galácticos.

No espaço, não está lá a atmosfera da Terra e o campo magnético para servirem de escudo. Por isso, aumenta a exposição - que traz com ela o risco de cancros raros.

E a saúde mental?

Um dos problemas mais relatados pelos astronautas no regresso à Terra é a ansiedade, resultado de terem sido submetidos a condições extremas por um longo período de tempo. Também a depressão é comum.

Os astronautas podem ainda, contudo, sofrer de um fenómeno mais raro: o chamado “efeito overview(ou o “efeito de vista panorâmica”, numa tradução livre). Isto é: um sentimento de inadequação na chegada à Terra.

Ter visto a Terra de fora leva alguns astronautas a relatar uma noção imediata da sua fragilidade, apontam os especialistas. Depois de viver no espaço, voltar a viver dentro do planeta Terra e efetuar tarefas mundanas – como fazer o pequeno-almoço ou ir nos transportes para o trabalho pode trazer um sentimento de estranheza.