
“O país não está para aventuras", defende Rui Tavares. O líder do Livre ataca o aventurismo dos liberais, com a redução de impostos, privatizações e diminuição da despesa do Estado. Ora, o presidente da Iniciativa Liberal devolve-lhe a acusação de irresponsabilidade. Rui Rocha afirma que votar no Livre é entregar o voto ao PCP e ao BE.
No embate que opôs, na CNN Portugal, Rui Tavares e Rui Rocha estiveram frente a frente duas visões muito diferentes para o país, com direito a tiradas bem ensaiadas de ambas as partes.
Defesa
A Defesa, que tem estado presente na esmagadora maioria dos debates, voltou a ser tema de abertura, neste frente a frente.
Rui Rocha entende que a atual situação internacional é um desafio, mas pode também ser uma oportunidade. Isto porque, acredita, pode fazer com que a economia portuguesa evolua para ter maior valor acrescentado – apostando em áreas como a tecnologia e a cibersegurança (e não, necessariamente, apenas a produção de material de guerra).
Rui Tavares foi chamado, mais uma vez, a esclarecer se o Livre defende a saída de Portugal da NATO. Respondeu que não, mas lembrou que o presidente dos Estados Unidos da América, esse sim, está a ameaçar deixar a Aliança.
“Temos de estar preparados para essa decisão ser tomada”, alertou, e é por isso que, voltou a referir, o Livre propõe a criação de uma comunidade europeia de defesa – ideia que, lembra, foi ao Parlamento e que contou com o voto a favor da própria IL.
Quanto a se deve ou não Portugal comprar mais armas, Rui Tavares não o recusa, mas defende que não com os Estados Unidos como vendedores e não num investimento equivalente ao que é feito pela Rússia.
Guerra comercial
As tarifas comerciais aplicadas pelos Estados Unidos da América também voltaram a figurar como tema neste debate, sendo classificadas como um “erro nome”, pelo líder da IL. Rui Rocha argumenta que vêm pôr em causa o livre comércio que “tem sido razão da prosperidade, nas últimas décadas, do Ocidente”.
Mas a um erro não se responde com outro erro, alerta, e, por isso, a resposta da União Europeia deve ser “cirúrgica” - apostando em taxar apenas aquilo que “dói” aos Estados Unidos, como os serviços.
Quanto à resposta dada pelo primeiro-ministro, anunciando apoios às empresas portuguesas afetadas pelas tarifas norte-americanas, foi, aos olhos de Rui Rocha “mais um anúncio eleitoralista do que medidas concretas”.
Uma opinião partilhada por Rui Tavares, que considera o programa de resposta de Luís Montenegro “uma ação de propaganda”
“Montenegro tem muito jeito para a propaganda, devia abrir uma consultora”, atirou, com ironia. O líder do Livre diz que naquilo que foi anunciado pelo Governo “não há dinheiro novo, é tudo linhas que já existiam com outra etiqueta”.
Apoios sociais
E eis que chega um tema drasticamente fraturante para IL e Livre. Rui Rocha fala na insustentabilidade da Segurança Social e propõe uma reforma do sistema, para que as pensões futuras não sofram uma “tragédia de perda de rendimento”. A ideia é que as pessoas possam constituir as suas próprias poupanças na Segurança Social, em vez de apenas descontarem para as pensões atuais.
Pelo lado do Livre, é analisada a proposta de atribuir 5 mil euros a todos os bebés. Rui Tavares explica que terão direito a esta quantia as crianças que nascem em Portugal e cujos pais contribuem para a Segurança Social, funcionando “como o abono de família”.
Para concretizá-la, considera a IL, o Livre está a atacar os jovens portugueses, ao pôr em causa o IRS Jovem. “Estamos a atacá-los com 5 mil euros!”, retorquiu Rui Tavares, frisando que os grandes beneficiários do IRS jovem são os que têm salários mais altos.
Respondendo ao ataque, o líder do Livre fala sobre o programa da IL para reduzir as despesas do Estado – e compara-o ao de Elon Musk nos EUA -, criticando também as ideias de privatizar a CP, a RTP e a CGD - ao estilo do que fez Milei na Argentina, atirou.
“Só vejo a IL falar de baixar impostos. Mas qual é o problema dos portugueses que foi resolvido?”, questionou Rui Tavares. “Nem o problema da calvície, em que estaria interessado”, atirou, numa referência à tirada do socialista Pedro Nuno Santos, no debate que teve com Rui Rocha.
O líder do Livre acusou ainda os liberais de “aventurismo”, por apresentarem propostas que “só são possíveis se houver crescimento económico”.
“Não podemos brincar com a vida das pessoas”, defendeu. “O país não está para aventuras. Já as vivemos antes.”
Mas Rui Rocha não se deixou ficar de devolveu as acusações de irresponsabilidade.
“A IL é criticada por ter contas claras. O Livre não tem um programa para descida de IVA nem de IRS. Tem intenções, mas não apresenta números, não apresenta dados”, afirmou.
E continuou: “Os portugueses, quando votam no Livre, estão a entregar o seu voto ao BE e ao PCP”, atirou, notando que o partido de Rui Tavares votou em mais de 90% das propostas daquelas duas forças políticas.
“Está algures entre a foice e o martelo”, declarou Rui Rocha, apontando propostas como a do congelamento de rendas, que, mais uma vez, considera um “ataque aos jovens”. “Estamos a atacá-los com renda acessíveis”, ironizou, de novo, Rui Tavares.
Governabilidade
E porque este pode também ser encarado como um debate de candidatos a futuras uniões pós-eleitorais, o tema da governabilidade não poderia ficar de fora. A IL pode ter um papel num futuro executivo da AD, enquanto o Livre pode ter algo a dizer sobre um eventual governo liderado pelo PS.
Questionado se se arrepende de não ir a votos juntamente com a AD, Rui Rocha assegura que não. “Não trocaria nenhuma das decisões que tomei”, garantiu – desde o voto a favor à moção de confiança do Governo à candidatura legislativa a solo da IL.
Já Rui Tavares foi questionado se pretendia ser o “vice” de Pedro Nuno Santos. O líder do Livre não o assumiu, mas fez questão de definir as prioridades se o partido vier a integrar um governo – que vão desde o reconhecimento imediato da Palestina à aplicação de um mecanismo que impeça que casos como o de Montenegro e da Spnumviva se voltem a repetir – pondo em prática o que de melhor se faz noutros países no que toca ao combate à corrupção.