O novo ano está a começar de forma vigorosa na guerra da Ucrânia. Durante o fim de semana, as forças armadas ucranianas iniciaram uma operação-surpresa dentro do território russo, na região de Kursk, numa aparente exibição de força a apenas duas semanas da tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos e de uma mais do que esperada viragem radical na política norte-americana sobre o conflito, a favor dos interesses da Rússia e de um eventual fim das hostilidades que deverá levar à anexação dos territórios conquistados até agora pelo Kremlin.

Kurakhove é uma pequena cidade de 18 mil habitantes que fica na região de Donetsz, a cerca de 30 quilómetros a sul de Pokrovsk, um entreposto logístico importante. A localidade não chegou a integrar a República Popular de Donetsz proclamada em 2014 por forças pró-russas, passando a estar a 10 quilómetros de distância da nova fronteira entre a Rússia e a Ucrânia desde que a guerra começou em fevereiro de 2022 com a invasão terrestre decidida por Vladimir Putin. Desde outubro de 2024 que a cidade se encontrava debaixo de ataque russo.

Essa operação-surpresa antecedeu o anúncio por parte do ministro da Defesa russo, já esta segunda-feira, da conquista de Kurakhove, uma cidade no leste da Ucrânia, ao fim de meses de intensos combates.

Enquanto isso, e de acordo com a agência Reuters, o exército ucraniano continua a progredir esta segunda-feira na sua nova ofensiva em Kursk, uma região da Rússia junto à fronteira e com pouco mais de 400 mil habitantes. Desde o início de agosto do ano passado que a Ucrânia ocupa uma parte desta região.

“O fracasso de ontem não vai deter o inimigo hoje”

Segundo o Ministério da Defesa russo, citado pela Reuters, o exército russo terá travado para já o avanço dos militares ucranianos em direção à capital da região, que também tem o nome de Kursk. Um blogger russo, Yuri Podolyaka, também citado por aquela agência de notícias, escreveu esta segunda-feira que a situação é crítica: “A manhã na região de Kursk está a começar de novo de forma preocupante. É óbvio que o fracasso de ontem não vai deter o inimigo e que ele vai tentar impor-nos a sua vontade novamente hoje”.

As informações divulgadas pelo Estado-Maior ucraniano dão conta, segundo o jornal britânico “The Guardian”, de um total de 42 combates travados em Kursk ao longo de domingo, sendo que 12 desses combates terão transitado para segunda-feira.

Para o Presidente ucraniano, garantir a ocupação de Kursk a tempo da tomada de posse de Trump, agendada para 20 de janeiro, poderá servir de moeda de troca num acordo de paz mediado pelos Estados Unidos. Segundo o “Guardian”, as forças russas têm estado a avançar a um ritmo sem precedente desde o início da invasão da Ucrânia em 2022.

Se a nova administração Trump interromper, como é esperado, o fornecimento de armamento a Kiev, esse ritmo terá tendência a aumentar ainda mais, reforçando a pressão sobre o Presidente Volodymyr Zelensky para negociar um desfecho do conflito o mais depressa possível, sob pena de perder ainda mais território.

Segundo o “New York Times”, dentro da administração americana a opinião inicial sobre a estratégia de Zelensky de compensar a perda de território no leste do país com a conquista de território em Kursk era de que se tratava de uma jogada demasiado perigosa, porque significava a dispersão das forças ucranianas, pondo em risco a sua linha de defesa. No entanto, essa opinião mudou, apesar de a Ucrânia só ter conseguido reter metade do território conquistado em Kursk no verão.

Zelensky está convencido de que tomou a decisão certa e que Moscovo está a pagar caro as tentativas que tem feito para expulsar os militares ucranianos do território. Já este sábado, o Presidente ucraniano dizia, citado pelo “New York Times”, que “em batalhas realizadas hoje e ontem [sábado e sexta] perto de uma única aldeia - Makhnovka, na região de Kursk - o exército russo perdeu até um batalhão de infantaria, incluindo soldados norte-coreanos e paraquedistas russos”. Trata-se de uma perda de 600 a 800 homens, o número que corresponde a um batalhão. Esta estatística não foi, contudo, confirmada por fontes independentes.