A União Europeia (UE) já tinha acordado para o problema em 2016, no rescaldo da invasão da Crimeira (2014), por causa do Brexit e da eleição de Donald Trump e devido à pressão e aos alertas da Polónia, dos Bálticos, da Roménia e da Finlândia, que nunca ignoraram a ameaça russa.

Porém, as coisas foram andando, debaixo do enorme guarda-chuva transatlântico, robusto o suficiente para aguentar um primeiro mandato de quatro anos de Donald Trump, mas talvez não um segundo. Depois da invasão em grande escala da Ucrânia, em 2022, a grande maioria dos países europeus reforçou o investimento na Defesa. Dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) dizem que, coletivamente, no ano de 2022, as despesas militares subiram 3% na UE, em relação a 2021. E em 2023 aumentaram de novo, e bem mais: 11%, em relação a 2022.

No entanto, as assimetrias são significativas e deixam a descoberto as várias velocidades de investimento e desenvolvimento na UE. Isto para não falar da dimensão política, onde países como a Eslováquia e a Hungria nem sempre alinham com a maioria dos parceiros europeus quando o tema é reforçar a Defesa. No entanto, o investimento aí vem, foi decretado pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e pode atingir os 800 mil milhões de euros. O plano anterior falava em 8 mil ou 9 mil milhões e já tinha sido considerado excessivo na altura. Haverá mais dinheiro, mas como garantimos que estamos a apostar em novas tecnologias e não em armas que em breve se podem tornar perfeitamente neutralizáveis com um drone de última geração.

IONUT IORDACHESCU

A guerra da Ucrânia veio alterar tudo, incluindo o tipo de guerra para o qual a UE está ou deveria estar, dizem os analistas, a preparar-se. As tecnologias emergentes já existem e já estão presentes no campo de batalha. A utilização de Inteligência Artificial por parte do exército israelita para escolher os alvos em Gaza, por exemplo, foi recentemente denunciada, por ser impossível garantir a sua infalibilidade, ainda que seja apresentado com um sistema com menos falhas que o “sistema humano”.

Se o investimento vai mesmo acontecer, e se ele vai ser dirigido para este tipo de opções, é importante que a sociedade civil se mobilize para discutir os limites éticos da utilização destas novas tecnologias.

Neste episódio falamos com Bruno de Oliveira Martins, investigador principal do PRIO, o Peace Research Institute de Oslo, e que este ano está aqui em Lisboa, como investigador associado convidado do Instituto da Defesa Nacional.


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Podcast da secção de internacional do Expresso assinado por Hélder Gomes, Pedro Cordeiro, Ana França, e Mara Tribuna. Episódios semanais sobre assuntos que dominam a atualidade mundial, com jornalistas, correspondentes e outros convidados. Oiça aqui episódios anteriores: