"Catorze membros do Ministério do Interior foram mortos e outros 10 feridos após (...) uma emboscada velhaca montada por antigos membros do regime criminoso" na província de Tartus (oeste), "enquanto cumpriam as suas tarefas de manutenção da ordem e segurança", afirmou o novo ministro do Interior, Mohammed Abdel Rahman, em comunicado.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) elevou um anterior balanço de nove mortos no incidente, e aponta agora para 17 vítimas mortais - 14 entre as forças de segurança e três entre homens armados - nos confrontos durante uma tentativa de prender um alto responsável do anterior regime, em Tartus.

A ONG, baseada no Reino Unido e com uma extensa rede de fontes na Síria, indicou que o homem procurado, antigo director da justiça militar, foi acusado de ser "um dos responsáveis pelos crimes na prisão de Saydnaya (perto de Damasco)", um dos principais cárceres do antigo regime e onde milhares de pessoas sofreram maus tratos e encontraram a morte.

Os combatentes eram do Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS, que liderou a impressionante ofensiva que derrubou o Presidente Bashar al-Assad no início deste mês.

Desde a queda de Assad, dezenas de sírios foram mortos em actos de vingança, segundo activistas e monitores, a grande maioria deles pertencentes à comunidade minoritária alauita, uma ramificação do Islão xiita à qual Assad pertence.

Também segundo o OSDH, um manifestante foi morto hoje em Homs, no centro da Síria, depois de as forças de segurança terem aberto fogo para dispersar sírios alauitas que protestavam contra um ataque a um dos seus santuários.

"Um manifestante foi morto e outros cinco ficaram feridos depois de as forças de segurança em Homs terem aberto fogo para dispersar os manifestantes", disse o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, Rami Abdel Rahmane.

Milhares de sírios da minoria alauita manifestaram-se hoje em várias cidades da Síria, depois da divulgação de um vídeo que mostra um ataque a um dos seus santuários.

Perante estas manifestações, as autoridades sírias declararam o recolher obrigatório em Homs e Jableh, entre o final da tarde e o início da manhã de quinta-feira, para tentar conter os efeitos dos protestos.

O OSDH relatou manifestações de larga escala da minoria alauita em várias cidades da Síria, após a divulgação de um vídeo nas redes sociais que mostra um ataque a um dos seus santuários.

As autoridades sírias garantem que o vídeo de um ataque a um santuário alauita -- que está na origem das manifestações que eclodiram hoje em várias cidades - era antigo e datava da "libertação de Alepo" por fações islâmicas armadas no início de dezembro.

"O objetivo de voltar a fazer circular estas imagens é o de semear a discórdia entre o povo sírio (...) num momento delicado que a Síria atravessa", comentou o Ministério do Interior, em comunicado, acusando "grupos desconhecidos" de estarem por trás do ataque ao santuário alauita.

As novas autoridades sírias estão a aumentar as medidas de segurança para com todas as minorias num país traumatizado pela guerra.

Em Jableh, os manifestantes gritavam "Alauitas, sunitas, queremos a paz" e imagens destas iniciativas mostram uma multidão a marchar na rua, agitando a bandeira dos rebeldes da era da independência.

"Não ao incêndio de lugares sagrados e à discriminação religiosa, não ao sectarismo, sim a uma Síria livre", lia-se num cartaz.

Em Latakia, os manifestantes denunciaram "violações contra a comunidade alauita", segundo Ghidak Mayya, um manifestante de 30 anos.

"Neste momento estamos a ouvir pedidos de calma (...) Mas a situação pode explodir", reconheceu este manifestante.

Depois de Bashar al-Assad ter fugido para Moscovo, na sequência da ofensiva rebelde, os membros da minoria alauita saudaram a sua queda, mas disseram temer a marginalização, ou pior, represálias.