Uma equipa de astrónomos afirma que Vénus nunca foi habitável porque o seu interior é "demasiado seco" para que alguma vez tenha tido água suficiente para albergar um oceano na sua superfície.

Apesar de décadas de especulação de que o nosso vizinho planetário mais próximo já foi muito mais parecido com a Terra do que é hoje, um novo estudo da composição química da atmosfera de Vénus revelou que o vizinho planetário mais próximo da Terra nunca foi habitável, publicado na segunda-feira na revista Nature Astronomy.

Os resultados, baseados no estudo de dados fornecidos por vários instrumentos do telescópio espacial James Webb, mostram que o planeta tem sido provavelmente um mundo escaldante e inóspito ao longo da sua história.

Para chegar a esta conclusão, foi fundamental verificar que a composição dos gases vulcânicos que sustentam a atmosfera de Vénus contém apenas 6% de água, o que indicaria que o interior deste planeta, fonte do magma que liberta estes gases, é também desidratado.

Na Terra, as erupções vulcânicas são sobretudo de vapor, porque o interior do nosso planeta é rico em água.

"Não saberemos ao certo se Vénus pode hospedar ou já hospedou vida até enviarmos sondas no final desta década, mas é difícil imaginar porque a vida requer a presença de água líquida e este planeta não a possui", destacou uma das autoras do estudo, Tereza Constantinou, investigadora da Universidade de Cambridge.

Duas teorias sobre a evolução de Vénus

Existem duas teorias principais sobre como as condições em Vénus podem ter evoluído desde a sua formação, há 4,6 mil milhões de anos.

A primeira é que as condições à superfície de Vénus já foram temperadas o suficiente para suportar água líquida, mas um efeito de estufa descontrolado causado pela atividade vulcânica generalizada fez com que o planeta ficasse cada vez mais quente.

A segunda teoria é que Vénus nasceu quente e a água líquida nunca foi capaz de se condensar à superfície.

“Ambas as teorias são baseadas em modelos climáticos, mas queríamos fazer uma abordagem diferente com base nas observações da atual química atmosférica de Vénus”, segundo Tereza Constantinou.

Até ao final desta década, a missão DAVINCI da NASA (agência espacial norte-americana) será capaz de verificar e confirmar se Vénus sempre foi um planeta seco e inóspito, através de uma série de voos rasantes e do envio de uma sonda à superfície.

Os resultados poderão ajudar os astrónomos a concentrarem-se noutros exoplanetas, fora do Sistema Solar, que têm maior probabilidade de serem capazes de sustentar vida, observaram os autores.

A ESA selecionou uma sonda, a EnVision, para explorar Vénus no início da década de 2030, com o objetivo de compreender como o planeta se tornou um meio tóxico inabitável. A divulgação da decisão acontece uma semana depois do anúncio pela NASA da realização de duas novas missões a Vénus, chamadas de Davinci+ e Veritas, entre 2028 e 2030.
A ESA selecionou uma sonda, a EnVision, para explorar Vénus no início da década de 2030, com o objetivo de compreender como o planeta se tornou um meio tóxico inabitável. A divulgação da decisão acontece uma semana depois do anúncio pela NASA da realização de duas novas missões a Vénus, chamadas de Davinci+ e Veritas, entre 2028 e 2030. NASA / JAXA / ISAS / DARTS / Damia Bouic / VR2Planets