![Samuel Úria: “O cristianismo fundou-se com a tónica no estrangeiro. Desgostam-me figuras messiânicas associarem o outro a um pária”](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Discípulo da santíssima trindade Johnny Cash, Bob Dylan e Leonard Cohen, Samuel Úria é um músico, cantor e compositor que reflete sobre o mundo e sobre si próprio num balanço espiritual entre o sagrado e o profano, com o coração na boca e na guitarra, a anca bem colocada na pop, e a prosa muito afiada com reflexão, crítica, protesto, mas também fé, amor, esperança e celebração.
Ele é o cantautor das patilhas e dos fatos ‘upa upa’, que foi beber lá atrás à torneira do punk, do rock’n’roll e da estética lo-fi, que acredita no poder transformador da linguagem e que encara a música como um meio de redenção, de salvação e de resistência, contra o pessimismo e contra certos messias latrinários que entortam a verdade em nome do bem…
E, apesar da bruma que anda a estreitar o horizonte do mundo - e das democracias, liberdades e consciências - há discos como o novo álbum de Samuel Úria que são luz na escuridão e fazem-nos acreditar que é possível sermos melhores do que fomos daqui para trás - apesar do abismo que se vislumbra à nossa frente.
Foi no final do ano passado que Samuel Úria, ou Sami para os amigos, lançou o novo disco “2000 A.D.” em forma de revista de quadradinhos, um álbum sonhado para ser de celebração e otimismo mas que não resultou em nada disso, porque as notícias do planeta não andam para grandes brindes, festejos e foguetes.
Mas como na arte, nada se perde e tudo inspira e nos transforma, Úria foi beber à sua própria frustração e inquietação pelo estado das coisas para compor um álbum com 9 canções, que são crónicas do seu sentir e um espelho dos tempos turbulentos que vivemos.
E se, ao dobrarmos o milénio passado, o céu afinal não nos caiu em cima, 25 anos depois há eleições que parecem anunciar um apocalipse zombie e os tambores da guerra…
Úria já confessa-se aqui neste podcast o seu desencanto e pessimismo no futuro, mas simultaneamente afirma-se mais acordado do que nunca para ser voz de mudança e agitador de consciências.
A música é cada vez mais para si uma arma de protesto e de revolução?
Como é que um homem de grande espiritualidade e fé encara o crescente voto nas urnas em novos monstros de pechisbeque dourado, os tais que em nome de Deus, da religião e do bem erguem mais muros e armas, espalham o ódio e encostam comunidades inteira à parede?
O que fazer para que esses falsos messias diminuam, enquanto ainda não está escuro?
Estas são algumas das questões colocadas na primeira parte desta conversa em podcast.
Importa dar conta que este artista natural de Tondela, que já foi professor de educação visual noutra vida, começou a editar as suas músicas na editora “Flor Caveira”. E quem diria que a mistura improvável de religião e “panquerock“ desse tão certo e nos apresentasse a artistas tão bons como Úria, os Diabo na Cruz, os Pontos Negros, B Fachada, Tiago Guillul, entre outros?
Ou quem diria também que Samuel Úria tem a cozinha como a sua arte da fuga?
Quanto a palcos, o que Samuel Úria anda a cozinhar é uma atuação única no Teatro Maria Matos, no próximo dia 12 de fevereiro às 21h, onde formará dupla com Manel Cruz, em mais uma edição do “Conta-me uma Canção”.
E o menu musical de Úria prossegue no verão com a presença confirmada no Festival Paredes de Coura e, lá para o final do ano, vai crescer com o disco para o chamado prato principal, que é a apresentação do seu novo disco nos Coliseus.
E tomem nota: no dia 11 de outubro atuará no emblemático palco do Coliseu de Lisboa e a 17 de Outubro estará no Coliseu do Porto.
“Vou querer muita gente a assistir. Mandei-me para os coliseus assim suicida para testar se tenho assim tanto público. E sendo os meus concertos nos coliseus uma espécie de traje de gala das minhas apresentações, vou querer encher o palco com as pessoas que debruaram esse fato.”
A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
Boas escutas!