
O porta-voz do Livre, Rui Tavares, advertiu este sábado o eleitorado de que a direita não gosta muito de direitos e, mais do que não gostar, quer acabar com eles. "As coisas estão em aberto e aquilo que nós estamos a fazer é alertar as pessoas para que votem pensando nos seus direitos perante uma direita que não gosta muito de direitos", afirmou na Feira de Carcavelos, concelho de Cascais, distrito de Lisboa.
Segundo Rui Tavares, a direita "está já muito arrogante a contar com a vitória" e isso fez com que começasse "a dizer o que é que queriam fazer no direito dos trabalhadores, no direito à greve, no direito ao consumidor e até nos direitos humanos", englobando nesta análise a AD, a IL ou a extrema-direita.
"Quando uma pessoa vê os seus direitos violados, quando pretende ir a um tribunal para fazer valer os seus direitos e esses direitos tiverem saído da Constituição ou da lei depois vão dizer `mas, onde estavam os meus direitos que eu pensava que tinha aqui?´Entreguei ao Luís [Montenegro] para ele cuidar deles, mas se calhar o Luís não estava muito interessado em cuidar e ampliar esses direitos", salientou.
Rui Tavares garantiu fazer parte de uma esquerda que leva a sério os direitos, que os quer manter a todos e que os quer ampliar. "Toda a gente tem direitos, é o que nos diz a nossa Constituição", vincou.
Antes, noutra feira, em Alverca, o discurso de Tavares foi, sobretudo, contra uma possibilidade de bloco central. "Neste momento, um bloco central seria um problema para o país no sentido em que entregaria a oposição à extrema-direita. E, portanto, eu vejo que é uma possibilidade que está na equação e estará certamente na equação de raciocínio do senhor Presidente da República quando ele diz, e bem, que não interessa quem é que fica em primeiro", disse Rui Tavares aos jornalistas.
Mas, o dirigente do Livre referiu que há outra possibilidade em cima da mesa, que é voltar a um parlamentarismo "mais responsável, mais original e mais genuíno", o que significa haver um governo que procura falar com o parlamento.
Rui Tavares frisou que o Governo de António Costa (PS) tinha a arrogância da maioria absoluta e não ligava ao parlamento e o Governo de Luís Montenegro (PSD) tem a mesma arrogância, mas nem tem a maioria absoluta. "Vou dar-vos um exemplo: no dia do apagão a sede do executivo, lá onde estava o primeiro-ministro e os ministros, é a 200 metros do parlamento e não houve nenhum ministro que viesse até a Assembleia da República procurar os grupos parlamentares", apontou.
Para Rui Tavares, um primeiro-ministro tem de procurar falar todos os dias com todos os grupos parlamentares, lembrando que em alguns países da Europa há governos que têm de ser apoiados por quatro ou cinco partidos.
"Um governo que o Livre apoie, um governo de que o Livre faça parte, um governo que o Livre lidere será sempre feito a falar todos os dias com os grupos parlamentares, porque isso é a obrigação de um executivo", sublinhou. Os últimos governos têm ligado "muito pouco" ao parlamento, algo que está na raiz dos problemas atuais, vincou.
Sobre as declarações do Presidente da República quanto às condições de governabilidade, Rui Tavares considerou que está a dar a sua grelha de leitura acerca do que fará a partir de dia 19 de maio e não está a condicionar de maneira nenhuma a votação.
Comunidade cigana pede a Tavares para afastar Ventura
Na Feira de Alverca, o encontro do porta-voz do Livre com feirantes da comunidade cigana foi imediato e, mais imediato ainda, foi o pedido para afastar André Ventura porque lhes está a "fazer muito mal e a instar o ódio". "Espero mais força vossa para combater André Ventura, esse senhor está a trazer ódio para Portugal, os nossos filhos não têm segurança por causa desse senhor", disse Lindo Cambão a Rui Tavares logo à entrada do recinto que, no comício de sexta-feira à noite, garantiu que ia combater o "anticiganismo", com críticas ao líder do Chega.
Lindo Cambão, ladeado de um outro familiar, considerou que o Chega nem devia existir em Portugal porque só sabe "gritar, ofender e instar ao ódio". Continuando, Lindo Cambão referiu que André Ventura apregoa que a comunidade cigana não trabalha, mas isso não é verdade, dando o seu exemplo que trabalha na Câmara Municipal de Torres Vedras. E consigo trabalham mais quatro ciganos, revelou, acrescentando que se as pessoas derem oportunidades aos ciganos eles trabalham, mas lá está têm de lhes dar oportunidade. "Se um cigano for pedir emprego a um café eles não lhes dão, tem de esconder a sua identidade", frisou.
Quando pôde responder ao desabafo de Lindo Cambão, que falava aceleradamente, Rui Tavares acusou André Ventura de querer fama rebaixando quem já está, muitas vezes, estigmatizado e numa posição de minoria. E garantiu-lhe que no parlamento irá combater tudo, seja insultos e gritos, para tentar elevar o nível que, por causa do Chega, está muito em baixo.
Ao lado, Adelino tentava também dar o seu ponto de vista, mas Lindo Cambão pediu-lhe para terminar para dizer que a comunidade cigana, da qual faz parte com muito orgulho, está a agir mal e a dar azo ao que ele quer, que é ter visibilidade.
"Se ninguém lhe ligar, ninguém fala nele, isto é como os cães, se não lhes ligar, eles não mordem", atirou. E, empenhado em não pôr fim à conversa, que merecia toda a atenção de Rui Tavares e da líder parlamentar, Isabel Mendes Lopes, Lindo Cambão salientou que os ciganos não andam a roubar malas como os deputados do Chega, numa alusão ao caso de Miguel Arruda.
Na resposta, Rui Tavares diz-se empenhado em combater o "anticiganismo" do país mesmo que isso não esteja na moda porque "há gente boa e má em todo o lado".
"Corruptos, bandidos, ladrões ou subsidiodependentes é o que André Ventura nos chama, isso é uma ofensa, injusto e muito triste e revoltante", desabafou Adelino. Em sua opinião, o que o líder do Chega quer é provocar a rebeldia entre os ciganos para, depois, dizer que são desordeiros.
Mas, Adelino, que trabalha na Junta de Freguesia de Marvila, tem uma solução: "É não ligar ao que ele diz e quando passar por algum de nós é virar-lhe as costas".