Roménia e Bulgária tornaram-se membros de pleno direito da área de livre circulação Schengen às 00:00 locais de quarta-feira, após mais de 13 anos de espera, e depois do levantamento dos controlos em março nos aeroportos e portos marítimos.
Foram organizadas cerimónias em diferentes pontos de passagem para celebrar a mudança às 00:00 locais (22:00 em Lisboa) dos dois países da Europa de Leste, que receberam a aprovação dos seus parceiros europeus em meados de dezembro para beneficiarem dos mesmos privilégios nos postos fronteiriços terrestres.
A entrada no espaço Schengen é "o maior sucesso" de 2024, saudou o primeiro-ministro romeno, Marcel Ciolacu, nos seus votos, citado pela agência France-Presse.
Este é também o fim de uma longa espera para os dois antigos países comunistas, entre os mais pobres da União Europeia (UE), que cumprem os critérios técnicos desde 2011, mas, "de todas as vezes, os Estados-membros levantaram objeções", recordou o analista Valentin Naumescu.
Este problema tornou-se ao longo dos anos "uma fonte de frustração explorada pelos partidos anti-UE que denunciam o tratamento injusto da Roménia", disse o analista, como durante as recentes eleições presidenciais que assistiram ao surgimento de uma surpresa de um candidato de extrema-direita antes de ser cancelado.
Com a adesão ao espaço Schengen, o "sentimento" de serem "cidadãos de segunda" está a desaparecer, acredita o especialista.
De ambos os lados, os líderes saudaram um momento "histórico", sublinhando que se tratava de um "objetivo fundamental" desde a sua entrada na UE em 2007.
Criado em 1985, o espaço Schengen inclui agora 25 dos 27 países-membros da UE, bem como os seus vizinhos associados, Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.
Mais de 400 milhões de pessoas podem, em princípio, viajar sem estarem sujeitas a controlos.
Esta adesão plena da Roménia (19 milhões de habitantes) e da Bulgária (6,5 milhões) foi possível graças ao levantamento do veto da Áustria.
Viena aceitou finalmente a entrada parcial de Bucareste e Sófia na Primavera passada e estabeleceu um roteiro para uma possível expansão.
O país alpino deplorou um afluxo de requerentes de asilo que se agravaria no caso de um alargamento de Schengen, mas acredita que as medidas postas em prática nos últimos meses permitiram "uma redução maciça das travessias".
De acordo com um acordo apresentado em novembro, os controlos temporários serão realizados "por um período inicial de seis meses, de forma a minimizar a potencial alteração das rotas migratórias".
A vigilância da fronteira entre a Bulgária e a Turquia, que se tornará a fronteira externa do espaço Schengen, também será reforçada.
Esperam-se benefícios económicos significativos, que provavelmente aumentarão o Produto Interno Bruto (PIB) em pelo menos 1% em ambos os países, segundo as estimativas.
Os transportadores rodoviários, cansados de esperar por vezes quase 20 horas, esfregam as mãos de contentamento.
"Foi uma completa perda de tempo para os condutores que não conseguiam sequer descansar porque tinham de deslocar o veículo a cada 10 minutos", relatou Beniamin Lucescu, presidente de uma federação de transportes na Roménia.
Já na Bulgária, o mau estado das infraestruturas deverá, no entanto, limitar o impacto positivo: estradas estreitas, autoestradas muitas vezes mal conservadas, poucas pontes sobre o Danúbio que demarcam a fronteira com a Roménia, caminhos-de-ferro inexistentes ou em ruínas.
Do lado do turismo, os intervenientes no setor apostam num aumento do número de viajantes que se deslocam para a vizinha Grécia.
Os ministros do Interior da Bulgária e da Roménia reuniram-se na passagem fronteiriça de Ruse-Giurgiu entre os dois países para assinalar a abertura da fronteira, enquanto outra breve cerimónia teve lugar numa passagem de fronteira entre a Hungria e a Roménia, com uma reunião entre o chefe nacional da polícia húngaro e o inspetor-chefe da polícia de fronteiras romeno.
A expansão de Schengen ocorreu após meses de esforços para integrar a Bulgária e a Roménia na zona por parte do Governo húngaro, enquanto este ocupava a presidência rotativa de seis meses da UE.
Cerca de um milhão de húngaros étnicos vivem na região da Transilvânia, na Roménia, um legado da divisão da Hungria após a Primeira Guerra Mundial. As relações têm sido historicamente difíceis entre os dois países, mas a abertura da fronteira facilitará as viagens e fortalecerá os laços entre regiões.
O Presidente romeno, Klaus Iohannis, citado pela Associated Press, referiu anteriormente que a adesão plena da Roménia ao espaço Schengen é um "passo natural e necessário" que reduzirá significativamente os tempos de espera nas fronteiras, diminuirá os custos logísticos para as empresas e atrairá investidores estrangeiros.
Os economistas da Academia de Ciências da Bulgária calcularam que, com a adesão, o efeito financeiro positivo total para a Bulgária ascenderia a 800 milhões de euros por ano.