O oligarca russo Roman Abramovich pode dever mais de mil milhões de euros ao Fisco britânico, de acordo com novos documentos que sugerem que várias empresas do magnata não pagaram impostos sobre os lucros obtidos através de um esquema de investimento que levanta questões quanto à sua legalidade.
Uma investigação do jornal The Guardian, da BBC e do Bureau of Investigative Journalism denuncia que, durante vários anos, as empresas de Abramovich sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas foram geridas a partir do Reino Unido, território onde o próprio se radicou em 2004.
Os documentos analisados por conta desta investigação revelam que, com este esquema, as empresas do empresário russo escaparam ao pagamento de cerca de 500 milhões de libras (cerca de 597 milhões de euros) em impostos, um valor que, com juros e multas à mistura, pode ultrapassar o bilião de libras (cerca de 1,19 biliões de euros).
O The Guardian revela que a defesa de Abramovich garante que, em matéria fiscal, o magnata agiu sempre consoante os conselhos de profissionais, negando que o russo é responsável por qualquer incumprimento no pagamento de impostos.
A investigação expõe que Abramovich utilizava a empresa Keygrove Holdings Limited, registada na Ilhas Virgens Britânicas, para fazer variados investimentos.
A Keygrove foi detida, inicialmente, pelo fundo de investimento Sara Trust e, a partir de 2010, pelo HF Trust, ambos sediados em Chipre e com Abramovich como único beneficiário até 2022, quando foi substituído pelos cinco filhos.
A Keygrove era ao mesmo tempo proprietária de mais de 12 outras empresas, nas Ilhas Virgens Britânicas, que, por sua vez, investiam milhões em diversos investimentos, incluindo fundos de cobertura, por todo o mundo.
Os documentos analisados à margem da investigação indicam que estas empresas 'offshore' não pagavam impostos sobre os rendimentos das sociedades no Reino Unido.
Entre 2004 e 2018, a Kreygrove terá obtido lucros superiores a 3,8 mil milhões de dólares.
Esta estrutura durou pelo menos até 2022, ano em que o magnata passou a incorporar um grupo de oligarcas russos alvo de sanções económicas por parte de países ocidentais devido à guerra na Ucrânia.
O esquema com os superiates
Já na segunda-feira, uma investigação também do jornal The Guardian, da BBC e do Bureau of Investigative Journalism expôs a forma como Abramovich classificou falsamente cinco dos seus superiates como embarcações comerciais de forma a fugir ao pagamento de impostos sobre os custos operativos em águas de países da União Europeia.
Os documentos analisados pelos meios de comunicação envolvidos revelam que esta estratégia permitiu ao oligarca evitar o pagamento de IVA nos países europeus por onde passavam as suas embarcações.
Ao invés de assumir que os iates eram utilizados a título pessoal, entre 2005 e 2012, Roman Abramovich alegava que os mesmos eram fretados a clientes, evitando, assim, o pagamento de uma taxa de 20% imposta pelas nações da aliança.
De acordo com a investigação, os barcos eram geridos pela empresa do magnata russo Blue Ocean Yacht Management, sediada em Chipre, que, posteriormente tratava de alugá-los a alegados clientes.
Clientes esses que os documentos analisados revelaram ser empresas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas que pertenciam ao próprio empresário.
O esquema foi estabelecido em pleno em 2005 como comprova um memorando escrito pelo próprio na época:
"Queremos evitar o pagamento do IVA sobre o preço de compra dos iates e, sempre que possível, evitar o pagamento do IVA sobre os bens e serviços fornecidos aos iates."
Recorde-se que Roman Abramovich também tem cidadania portuguesa, obtida em 2021 ao abrigo da lei da nacionalidade para descendentes da comunidade sefardita.