
"Entre 01 e 13 de abril de 2025, a OIM registou um aumento acentuado no número de regressos forçados, com quase 60.000 indivíduos a regressar ao Afeganistão pelas travessias de Torkham e Spin Boldak", os dois únicos postos de fronteira entre os dois vizinhos, referiu hoje a organização, em comunicado.
"Com a nova campanha de regresso em larga escala do Paquistão, as necessidades no local estão a aumentar rapidamente, tanto na fronteira quanto nas regiões anfitriãs, que estão a lutar para absorver o grande número de regressados", observou Mihyung Park, chefe da OIM no Afeganistão.
Atualmente, cerca de três milhões de afegãos vivem no Paquistão: 800.000 tiveram os cartões de residência paquistaneses revogados em abril, enquanto 1,3 milhões ainda têm autorizações de residência até 30 de junho porque estão registados no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), enquanto os restantes não têm documentos.
Até ao final de 2023, o Paquistão já tinha expulsado mais de 800.000 afegãos.
Islamabad, atolada no caos político e económico e tendo vivido o ano mais mortal de violência numa década em 2024, acusa esses migrantes de semear a agitação no território paquistanês.
Este ano, até 1,6 milhões de afegãos podem ser deportados, estimou a OIM à agência France-Presse (AFP) na semana passada.
Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou hoje que mais de 10% da população afegã poderá ficar privada de cuidados de saúde até ao final de 2025 devido ao fim da ajuda norte-americana.
No mês passado, a organização da ONU já tinha alertado que 1,6 milhões de afegãos estavam a ser privados de cuidados vitais devido à falta de fundos alternativos à ajuda suspensa pela administração do Presidente norte-americano, Donald Trump, em janeiro.
"Hoje, estamos a falar de três milhões de pessoas que perderam o acesso aos cuidados de saúde", disse Edwin Ceniza Salvador, representante da OMS no Afeganistão, em entrevista à AFP.
Segundo o responsável da agência das Nações Unidas, "mais dois a três milhões de pessoas" poderão ficar privadas de cuidados de saúde em todo o país, com cerca de 45 milhões de habitantes e um dos mais pobres do mundo.
Desde o anúncio do congelamento da ajuda dos Estados Unidos, 364 estabelecimentos de saúde fecharam e 220 outros poderão sofrer o mesmo destino no Afeganistão, segundo Edwin Ceniza Salvador, que também está alarmado com o "número crescente de pessoas em risco de morrer".
"Quando o financiamento [norte-americano] parou, outros doadores tentaram aumentar a sua quota-parte, mas há uma lacuna significativa a preencher", explicou.
Os Estados Unidos, até agora o maior doador para o Afeganistão, cortaram 83% dos programas da agência de desenvolvimento norte-americana, a USAID, que era responsável por 42% da ajuda humanitária desembolsada no mundo todo.
O sistema de saúde afegão, que só sobrevive graças ao apoio de doadores internacionais, enfrenta algumas das maiores taxas de mortalidade infantil e materna do mundo, além de epidemias de sarampo, malária e dengue.
A OMS também está a tentar vacinar crianças suficientes para erradicar a poliomielite, que agora é endémica em apenas dois países: Afeganistão e o vizinho Paquistão.
"Sei que há muitas outras prioridades no mundo. O que peço é que não se esqueçam das necessidades do Afeganistão e do povo afegão", acrescentou o funcionário da ONU.
Segundo a ONU, o número de pessoas que precisam de ajuda para sobreviver no Afeganistão é o segundo maior do mundo.
Na semana passada, a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) pediu aos doadores internacionais que continuassem a apoiar os 22,9 milhões de afegãos que precisam de ajuda neste ano.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), 85% dos afegãos vivem com menos de um dólar por dia.
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