A Procuradoria Nacional Financeira pediu esta quinta-feira sete anos de prisão e uma multa de 300.000 euros para o antigo presidente francês Nicolas Sarkozy pelo "pacto de corrupção" assinado com o antigo ditador líbio Muammar Kadhafi, morto em 2011.

Após quase dois meses de audiências no Tribunal de Paris, num julgamento com 12 arguidos, o Ministério Público francês foi particularmente duro com Sarkozy, de 70 anos, acusado dos crimes de financiamento ilegal de uma campanha eleitoral, corrupção passiva, dissimulação de desvio de fundos públicos e conspiração para cometer um crime.

Os factos remontam a um acordo assinado em 2005, que envolveu um alegado financiamento irregular da campanha eleitoral de Sarkozy, com um regime que os procuradores franceses não hesitaram em qualificar de "sanguinário" e que pode ter influenciado a eleição presidencial de 2007.

"Verdadeiro decisor e patrocinador"

Para os procuradores, este foi um pacto em que Sarkozy era o "verdadeiro decisor e patrocinador", aquele que tomava as decisões, embora os antigos ministros Éric Woerth, Brice Hortefeux e Claude Guéant também estejam no banco dos réus.

As três visitas sucessivas a Tripoli em 2005 do então chefe de gabinete Claude Guéant (a 01 de outubro), do próprio Sarkozy (a 05 de outubro) e do secretário de Estado Hortefeux (a 21 e 22 de dezembro) estão no centro das atenções do Ministério Público.

No caso de Sarkozy, a lista de crimes de que é acusado acarreta uma pena potencial de até dez anos de prisão, mais três do que o pedido pelo Ministério Público.

Para Claude Guéant, o Ministério Público pede seis anos de prisão, enquanto que para Brice Hortefeux e Éric Woerth pede três anos e um ano, respetivamente, de acordo com o canal de televisão francês BFMTV.

Sarkozy foi condenado em 2024 por corrupção e tráfico de influências

As dúvidas suscitadas pela alegada entrega de 50 milhões de euros à campanha de Nicolas Sarkozy não são a única frente judicial aberta contra o antigo presidente, que foi condenado em 2024 por corrupção e tráfico de influências e é obrigado a usar uma pulseira eletrónica para evitar a prisão desde fevereiro, algo inédito para um antigo chefe de Estado francês.

Também foi considerado culpado por ter celebrado, em 2014, um "pacto de corrupção" com Gilbert Azibert, juiz de primeira instância do Tribunal de Cassação, juntamente com o seu advogado de longa data, Thierry Herzog.

O julgamento em curso deverá prolongar-se até 10 de abril com os argumentos da defesa.

Se for considerado culpado, Sarkozy poderá ser condenado a dez anos de prisão, uma multa de 375 mil euros e ficará privado dos seus direitos cívicos durante cinco anos.

Kadhafi foi morto num ataque de forças rebeldes na sua região natal, Sirte, em outubro de 2011, pondo um ponto final a 42 anos de ditadura naquele país do norte de África.