
Na SIC, Pedro Nuno Santos (PS) e Rui Tavares (Livre) encontraram-se esta noite para um debate entre possíveis parceiros… ou não. Ambos reconhecem que é mais o que os une, mas nenhum parece concordar com as condições para o entendimento. Se o socialista insiste no apelo ao voto últil no PS, o líder do Livre alerta para o que dizem as sondagens. Destaque ainda neste ameno frente-a-frente para a proposta da herança social e da polémica recente que envolve o líder do PS e a compra de dois imóveis.
Este foi, aliás, o tema que marcou o arranque do debate. As denúncias anónimas têm, na opinião de Pedro Nuno Santos, “um objetivo político” e duas intenções: “intimidar-me e passar uma ideia de equivalência entre mim e Luís Montenegro”. Acontece que, vincou “não há equivalência nenhuma”.
“Uma coisa eu garanto: não estou a receber dinheiro todos os meses de nenhum empresário português. (…) É um péssimo serviço o que prestamos à democracia quando tentamos fingir que todos são iguais. E eu não sou igual a Luís Montenegro”
Sem querer alongar-se na questão, Rui Tavares garante que mantém o mesmo critério em todos os casos que passa por não se “meter no trabalho do Ministério Público”.
“Quando há qualquer caso e o político acha que pode apresentar todos os documentos, isso significa que o trabalho é vosso dos jornalistas e do Ministério Público. (…) Se Pedro Nuno Santos acha que deu todos os esclarecimentos, melhor. No que diz respeito a Montenegro (…) provavelmente não deu todos os esclarecimentos porque não pode”
Serviu, porém, a notícia que envolve o secretário-geral do PS para falar sobre enriquecimento ilícito, corrupção e justiça. Se Pedro Nuno entende que ainda "há muito trabalho a fazer" para combater o enriquecimento ilícito, sugeriu que o melho a fazer face a uma justiça lenta é “garantir a prevenção”.
Na resposta, Rui Tavares contra-atacou com a proposta do Livre que “o PS nunca quis”: a audição prévia de futuros ministros e governantes no Parlamento, como aconteceu recentemente no Parlamento Europeu com a antiga ministra Maria Luís Albuquerque. “Isto são medidas simples, que previnem a corrupção e é para aí que Portugal tem de caminhar" e “não pelo discurso de que ”os políticos são todos malandros”.
“O Livre tem contributos importantes a dar e o PS está disponível para os ouvir e para refletir sobre eles. (…) O Livre tem mais possibilidade de influenciar um Governo liderado pelo PS do que um Governo liderado pela AD”, declarou Pedro Nuno Santos, sob uma observação do adversário: “Já começa…”, disse Rui Tavares, sorrindo.
Valor da herança divide
Para dar outro exemplo de propostas que o PS ‘descarta’, o líder do Livre lançou para o debate a questão da herança social. Revelando que Hugo Mendes (ex-secretário de Estado do ministro Pedro Nuno) o lembrou de que em 2009 o PS já tinha apresentado um tipo de herança social, Rui Tavares lamentou que depois de vários anos no Governo, e até uma maioria absoluta, o PS não o tenha feito e lançou a farpa.
“Há muita gente que não tem uma sorte na vida de ter herança ou familiares que os ajudam. A herança social custa menos do que o IRS Jovem - medida com a qual o Estado prescinde de mais de 500 milhões por ano. A herança social custa 400 milhões de euros, segundo as nossas contas” e permite ajudar “um casal a dar entrada para uma casa, quatro ou cinco amigos criarem uma empresa, a um jovem pode dar o primeiro passo depois de sair da universidade”
Opinião diferente manifestou o socialista que questionou a aplicabilidade de dar 5.000 euros a cada bebé nascido em Portugal - como sugere o Livre. O PS, recorde-se, propõe 500 euros em certificados de aforro.
“O Rui Tavares apresenta uma proposta que no seu valor é mais generosa, mas também mais irrealista”, ainda assim, vincou, nada impede o PS de, "se o Estado tiver capacidade", alterar a proposta mais tarde para “outros valores”.
Um certeza ambos partilham: é preciso promover a autonomia financeira dos jovens e incentivar a poupança. Mas para o líder do Livre a questão é ainda mais simples: "Entre 500 euros ou 5.000 euros, eu sei o que os jovens querem". Na resposta, o socialista apelou à responsabilidade porque “o PS pode ser confrontado com a Governação” e isso que "temos um projeto que é mais realista".
Apelo ao voto PS não faltou
Tem marcado presença em todos os debates em que Pedro Nuno Santos se apresenta. E não faltou no frente-a-frente na SIC, moderado por Clara de Sousa. Acenando com a influência que o Livre pode ter, se o PS for Governo, o socialista disse que para isso é preciso que os socialistas vençam as eleições.
Sem rodeios disse que se em vários distritos o Livre não consegue eleger deputados, a escolha dos eleitores do Livre deve recair no voto útil que mais beneficie o Livre, evitando “dispersão de votos”.
Mas prontamente Rui Tavares respondeu. Socorrendo-se da sondagem SIC/Expresso, divulgada esta quinta-feira, que dá uma vitória à AD, Rui Tavares alertou que mesmo "esmagando ou fazendo desaparecer todos os partidos à esquerda, o PS não chegava lá".
"Não é verdade que sabemos o que o Presidente vai fazer a 19 de maio", avisou Rui Tavares, lembrando que Marcelo quer "a garantia de que o programa [do próximo Governo] não seja rejeitado".
E, apesar de Pedro Nuno dizer que não quer “roubar votos”, a fazê-lo sugere Rui Tavares que “não precisa de vir roubar 50 mil votos ao Livre, basta ires buscar 25 mil à AD”. Ainda assim avisou. “As pessoas não querem ver o PS sozinho no Governo”.
As condições para um acordo
Farpas e divergências à parte, o socialista insistiu, quase ao cair do pano, que “na oposição não consigo integrar as tuas propostas". Não se trata de “roubar votos” mas, repetiu Pedro Nuno, só sem dispersão será possível derrotar a AD.
Mais direto, Rui Tavares elencou as condições para ser "parte da solução" - sem roubo de votos - porque "o Livre acredita no peso negocial".
“Um governo em que a fasquia ética seja elevada, em que haja investimento na habitação e educação e não haja privatização do SNS, em que o apoio à Ucrânia seja forte, voz portuguesa na Europa que diga a Trump e Putin que quem manda na Europa são os europeus, e que a Palestina seja reconhecida nos primeiros dias do Governo”