A análise é feita pelo jornal italiano La Stampa e pelo jornalista Gerard O'Connell, especialista em eleições papais e que identificou as votações do conclave que elegeu Francisco.

Este é o maior e mais diverso colégio cardinalício eleitoral da história da Igreja Católica e, como habitual, os 'media' indicam os favoritos, listas que têm alguns nomes em comum, como os italianos Pietro Parolin, Matteo Zuppi e Pierbattista Pizzaballa ou o filipino Luís Antonio Tagle, o ganês Peter Turkson, o húngaro Peter Erdo, o mexicano Carlos Aguiar ou o francês Jean-Marc Aveline.

Nalgumas listas aparece também o nome do português Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério da Educação e Cultura.

A corrida está muito aberta e nunca a lista foi tão extensa, mas "há uma tradição de escolher nomes fortes" que "possam reunir consenso" entre os cardeais que chegam a Roma dos quatro cantos do mundo, refere Gerard O'Connell.

No passado, dioceses como Milão, Veneza ou Bolonha e cargos diplomáticos ou institucionais foram o alforge de Papas eleitos nos últimos séculos.

Desta vez, Milão e Veneza não são liderados por cardeais, ao contrário do que era tradicional, mas o secretário de Estado de Francisco, Pietro Parolin, esteja à frente na bolsa de apostas, com algum destaque.

Leão XIII, eleito em 1878 e que teve o terceiro pontificado mais longo da história, era o camerlengo, um lugar de destaque na cúria e no processo de sucessão, tendo sido ainda um dos relatores do Concílio Vaticano I.

Em 1903 foi escolhido Pio X, um Papa que é um herói dos movimentos conservadores, que liderava o Patriarcado de Veneza, um das dioceses mais poderosas de Itália e que já havia contribuído com vários pontífices na história da Igreja.

Seguiu-se Bento XV, que enfrentou a primeira guerra mundial logo desde o início, em 1914, e era o arcebispo de Bolonha, outra das circunscrições mais relevantes de Itália, como sucede hoje com Matteo Zuppi, um dos 'papabili' mais progressistas da lista de favoritos.

Entre 1922 e 1939, governou a Igreja Pio XI, então arcebispo de Milão e antes disso um diplomata ligado ao combate ao comunismo nascente no leste europeu.

No ano em que começou a II Guerra Mundial, chegou ao poder Pio XII, diplomata, camerlengo, secretário de Estado e um dos mentores teológicos do pontificado do seu antecessor.

João XXIII, o Papa do Concílio Vaticano II que marcou mudanças estruturais na forma como se relaciona a Igreja com o mundo, era, à data da sua eleição (1958) patriarca de Veneza e o favorito entre os progressistas, desiludidos com a postura excessivamente neutral de Pio XII e a ausência de diálogo com a modernidade.

Paulo VI, que sucede a João XXIII e encerra o Concílio Vaticano II, era cardeal-arcebispo de Milão e um homem muito ligado ao mundo das artes.

O último Papa italiano, João Paulo I governou a Igreja Católica durante um mês e dois dias em 1978 antes de morrer, e era o patriarca de Veneza.

A morte surpreendente de um Papa que se apresentava como progressista e tinha em João XXIII o seu modelo de governação, criou várias dúvidas na hierarquia da Igreja Católica, também a braços com a perda crescente de fiéis, a irrelevância institucional e um escândalo financeiro associado à banca italiana.

Foi neste contexto que ganhou apoios Karol Wojtyla, o nome já defendido pelos cardeais não italianos no conclave que elegeu João Paulo I, segundo a escritora Floria Molinari, autora de um livro sobre as tendências de voto naquele período.

O impasse entre os conservadores, que suportavam o arcebispo de Genova Giuseppe Siri, e os progressistas, que apoiavam o arcebispo de Florença Giovanni Benelli, abriu caminho ao candidato dos cardeais não-italianos, que já era muito vocal na defesa do catolicismo perante os regimes comunistas.

Ao fim de três dias, segundo a historiadora, João Paulo II foi eleito com um acordo de compromisso entre os cardeais italianos conservadores e os não italianos.

João Paulo II liderou a Igreja até 2005, tendo sido sucedido pelo seu principal colaborador e decano dos cardeais, Joseph Ratzinger, que ganhou a votação ao final da quarta contagem.

Analistas atribuem a vitória ao futuro Bento XVI pela sua homilia nas exéquias de João Paulo II e ao facto de ser o cardeal que melhor conhecia o colégio cardinalício de 117 eleitores.

Segundo o jornal La Repubblica, o segundo mais votado e que integrava a lista dos 'papabilis' foi um jesuíta argentino, Jorge Bergoglio, que veio a ser Papa em 2013, após a renúncia de Bento XVI.

Francisco foi eleito ao segundo dia, superando nomes como Angelo Scola ou Marc Ouellet, cardeais que hoje não são eleitores, segundo o vaticanista O'Connell, autor do livro a "Eleição do Papa Francisco".

O Conclave tem início na quarta-feira, dia 07 de maio e caberá aos 133 cardeais eleitores, com menos de 80 anos, a responsabilidade de escolher o sucessor de Francisco.

Todos os dias serão feitas quatro votações e o futuro Papa deverá ter pelo menos dois terços dos boletins contados.

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