Os tubarões sempre foram considerados predadores furtivos, deslizando nas profundezas do oceano sem emitir qualquer som. A ideia de um “assassino silencioso” tornou-se parte integrante do seu mito. No entanto, esta reputação pode não ser merecida.

Pela primeira vez, cientistas da Nova Zelândia registaram tubarões a produzir sons - uns cliques altos emitidos pelo cação-pintado-de-estuário (Mustelus lenticulatus).

A descoberta, publicada na The Royal Society Journals, abre uma nova perspetiva sobre a comunicação destes animais e levanta questões que até agora tinham passado despercebidas.

“Fiquei muito surpreendida! Sempre assumi que os tubarões não emitiam sons”, disse Carolin Nieder, investigadora do Instituto Oceanográfico Woods Hole à ScienceAlert .

Os cientistas ainda não sabem qual a função destes sons, mas a descoberta abre um novo caminho de investigação para compreender melhor estes habitantes enigmáticos dos oceanos.

O som no mundo aquático

O som percorre grandes distâncias debaixo de água e muitos animais desenvolveram mecanismos especializados para produzir ruídos, desde músculos especializados a superfícies ásperas que geram sons por fricção.

Os elasmobranquiados– grupo que inclui tubarões, raias e peixes-serra – não eram conhecidos por possuírem qualquer estrutura especializada na produção de som. Foi, por isso, uma grande surpresa quando, em 2022, cientistas descobriram duas espécies de raias a emitir cliques de forma deliberada. Mais tarde, outras três espécies revelaram comportamentos semelhantes, sugerindo que os elasmobranquiados podem ter formas de comunicação até agora desconhecidas.

Os cientistas aguçaram os seus ouvidos - literal e metaforicamente.

Poderá existir toda uma área de comunicação entre elasmobranquiados que simplesmente não sabíamos que existia? Para responder a esta questão, Carolin Nieder e a sua equipa decidiram estudar o cação-pintado nos estuários da Nova Zelândia.

SIC Notícias

Um mecanismo de defesa?

Os cientistas acreditam que os cliques do cação-pintado podem estar relacionados com a sua alimentação. Estes tubarões possuem fileiras de dentes rombos, adequados para esmagar presas duras e os sons podem resultar desse movimento.

No entanto, há outra hipótese: os sons podem ser uma tática defensiva. Mamíferos marinhos predadores de tubarões, como as focas-leopardo, conseguem ouvir cliques na mesma gama de frequências. Isto leva os investigadores a questionar se os sons poderiam servir para desencorajar ataques.

Os testes em cativeiro mostraram que os tubarões emitiam cliques quando eram manuseados pela primeira vez no tanque, mas acalmavam passados alguns minutos. Esta reação sugere que os sons podem fazer parte da sua resposta ao stress ou ao medo.

O que mais pode estar escondido nas profundezas?

Esta descoberta desafia a ideia de que os tubarões são completamente silenciosos. No futuro, os cientistas querem investigar outras espécies para perceber se esta capacidade de produzir sons é mais comum do que se pensava.

Poderemos estar prestes a descobrir um novo capítulo na comunicação dos tubarões – um mundo sonoro que até agora nos escapou.