Uma das marcas que ficam do reinado de Pinto da Costa é o acerto na escolha de treinadores para o FC Porto. José Mourinho foi o expoente máximo de uma lista de técnicos que chegaram sem currículo e saíram vencedores.

A lista incluiu nomes como Sérgio Conceição, o último treinador contratado por Pinto da Costa, e André Villas Boas, atual presidente do FC Porto. Nomes consagrados, num trilho de sucesso em que as grandes vitórias começaram com Artur Jorge.

O primeiro nunca se esquece

José Maria Pedroto foi, provavelmente, o treinador que mais marcou o percurso como dirigente do antigo líder dos dragões. Se em 42 anos de presidência trabalhou com mais de duas dezenas de treinadores. O primeiro deixou uma marca que Pinto da Costa fez sempre questão de lembrar.

É a partir de 1976 que José Maria Pedroto, antigo jogador e treinador dos dragões, estabelece com Pinto da Costa na altura chefe do departamento de futebol uma relação que ficaria para a história.

Desde logo, porque técnico e dirigente além de uma Taça de Portugal conseguem que o Porto ponha um ponto final num jejum que durava há 19 anos e conquiste o campeonato não só em 1978 mas também em 1979.

Reprodução Facebook/FC Porto

O sucesso é, no entanto, interrompido no ano seguinte quando o Porto falha o 'tri' e, nesse verão, a dupla acaba por ser separada.

Pinto da Costa é afastado pelo presidente Américo de Sá em solidariedade, Pedroto também sai e houve até uma cisão no balneário.

Mas a esmagadora vitória nas eleições de 1982 voltou a juntar estes dois homens. Uma união que Pinto da Costa sempre elogiou em Portugal e no estrangeiro.

Com Pinto da Costa a presidente e José Maria Pedroto a treinador o clube não chega, é certo, a ser campeão.

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Mas é nessa fase que os dragões atingem pela primeira vez uma final europeia a da Taça da Taças perdida para a Juventus, em maio de 1984, já sem Pedroto no banco por estar doente, a lutar pela vida.

Apesar da derrota em Basileia, estavam criadas as bases para o sucesso que os 'dragões' viriam a ter no futuro.

Em janeiro de 1985, com a morte de José Maria Pedroto, fechou-se um ciclo. Mas a ligação a Pinto da Costa pode ter ficado para a eternidade.

O Rei Artur Jorge

Artur Jorge chegou às Antas em julho de 1984 recomendado por José Maria Pedroto, que o tivera como adjunto no Vitória de Guimarães. Em 1987, tornou-se no primeiro treinador português campeão da Europa, na mítica noite de Viena em que os 'dragões' bateram o Bayern Munique, com o golo de calcanhar do argelino Madjer.

Mais tarde, já em França, passou a ser o 'Rei Artur', primeiro no Matra Racing de Paris, e depois do Paris Saint-Germain, fruto do trabalho desenvolvido nas Antas.

Artur Jorge
Artur Jorge picture alliance

Bobby Robson trouxe um brinde na mala

Sir Bobby Robson foi o senhor que se seguiu e acabaria por se sagrar campeão nacional por duas ocasiões nos 'azuis e brancos' antes de rumar à Catalunha para orientar o Barcelona.

O técnico britânico levou do Sporting para a Invicta um adjunto muito especial, por quem lutou, chamado José Mourinho.

Fernando Santos, o engenheiro do Penta

À marca europeia do título de 1987, seguiu-se a hegemonia nacional do anos 90. O FC Porto foi o primeiro, e até à data único, clube português a conquistar o pentacampeonato.

Na temporada 1998/99, Pinto da Costa foi buscar Fernando Santos ao Estrela da Amadora com a missão de vencer o quinto campeonato nacional consecutivo.

Fernando Santos e Jorge Nuno Pinto da Costa
Fernando Santos e Jorge Nuno Pinto da Costa Getty Images

Engenheiro eletrotécnico de profissão, Fernando Santos conseguiu ser campeão e ficou conhecido pela alcunha do 'Engenheiro do Penta'. Permaneceu na Invicta mais duas temporadas mas sem conseguir conquistar novamente o título de campeão nacional, sendo substituído por Octávio Machado em 2001.

José Mourinho regressa para o papel principal

Campeão europeu em 1987 como treinador-adjunto de Artur Jorge, Octávio Machado não obteve os resultados esperados e Pinto da Costa decidiu dar um novo rumo ao reino do dragão. A 23 de janeiro de 2002 era anunciada a contratação de José Mourinho, na altura treinador da União de Leiria.

Num vazio de títulos durante três épocas, Mourinho arrumou a casa em seis meses e no ano seguinte ganhou tudo a nível nacional e internacional, conquistando para o clube a primeira Taça UEFA.

José Mourinho na conquista da Liga dos Campeões em 2004
José Mourinho na conquista da Liga dos Campeões em 2004 Action Images

No ano seguinte, José Mourinho sobe a fasquia e volta a ganhar o campeonato. Superiorizou-se a toda a concorrência europeia, dessa vez, na Liga dos Campeões, acabando por sair para os ingleses do Chelsea no final da época 2003/04.

Depois da conquista da Europa, a tempestade

Na temporada seguinte, à conquista da Europa, seguiram-se tempos conturbados. O italiano Luigi del Neri foi contratado mas acabou por não orientar a equipa em nenhum jogo. A escolha de um novo treinador recaiu novamente num estrangeiro.

O espanhol Víctor Fernández conquistou a Supertaça Cândido Oliveira e a Taça Intercontinental mas não terminaria a época, sendo rendido por José Couceiro.

Em 2005/06, chegou o neerlandês Co Adriaanse que regressou aos títulos, mas o clube só estabilizaria na época seguinte com Jesualdo Ferreira, que conquistou o tricampeonato, em 2009.

A aposta em treinadores sem currículo

Um trampolim ao longo de quatro décadas para um considerável número de treinadores, o FC Porto continuou a reinventar-se com uma receita antiga: a aposta em treinadores com pouco currículo, conhecimento do ofício e muita ambição.

Foi assim que em 2010 um jovem de 32 anos regressou ao Dragão, depois ter sido analista na equipa técnica de José Mourinho. André Villas-Boas replicou a primeira época do antigo chefe de equipa, com a mínima diferença de o troféu europeu ter mudado o nome para Liga Europa.

André Villas-Boas e Jorge Nuno Pinto da Costa
André Villas-Boas e Jorge Nuno Pinto da Costa Dave Thompson - PA Images

No verão de 2011, Villas-Boas ruma ao Chelsea, num percurso muito idêntico ao mestre Mourinho. Vítor Pereira foi o senhor que se seguiu no banco dos 'dragões'. Em duas temporadas no FC Porto, o antigo adjunto do atual presidente venceu dois campeonatos nacionais, destaque para o de 2012/13, conquistado com a ajuda do golo do brasileiro Kelvin apontado ao Benfica, ao minuto 92.

Conceição, o último na linhagem

Em 2017, Pinto da Costa escolheu pela última vez um treinador para o FC Porto. Sérgio Conceição levaria o clube à conquista de três campeonatos nacionais, a começar no ano de estreia, com o plantel possível, condicionado pelo fair-play financeiro, e a impedir o Benfica de chegar ao pentacampeonato.

Jorge Nuno Pinto da Costa e Sérgio Conceição
Jorge Nuno Pinto da Costa e Sérgio Conceição FC Porto

Em junho de 2024, Conceição deixou o comando técnico dos 'azuis e brancos' dias depois de conquistar a Taça de Portugal frente ao Sporting, no Estádio do Jamor, que culminou na despedida de Pinto da Costa como presidente do FC Porto.

Nem todas as apostas deram certo

Em 42 anos de liderança no FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa teve 22 treinadores, entre interinos (Alfredo Murça e Rui Barros) e definitivos.

Nem todos ganharam títulos, como Hermann Stessl, Quinito, Alfredo Murça, Luigi del Neri, José Couceiro, Luís Castro, Julen Lopetegui, José Peseiro e Nuno Espírito Santo.

O espanhol Julen Lopetegui orientou o FC Porto entre 2014 e 2016
O espanhol Julen Lopetegui orientou o FC Porto entre 2014 e 2016 Ariel Schalit